Embaixador da Arena Castelão já protagonizou grandes jogadas dentro de campo

16 de maio de 2014 - 14:23

A Arena Castelão não é só beleza arquitetônica, além da estrutura moderna, em alto padrão internacional, o espaço com mais de 150.000 m² de área construída guarda uma parte importante da memória do Futebol Cearense, Brasileiro e Mundial. Não estamos falando só do acervo histórico de troféus, fotos, vídeos, camisas etc, dispostos no Espaço Cultural que funciona fora do período exclusivo da FIFA. O quadro de funcionários responsáveis pela operação da Arena no dia a dia também dispõe de pessoas que hoje fazem bonito também, fora de campo. Exemplo disso é o ex-jogador Mirandinha, o primeiro brasileiro no futebol inglês quando se transferiu do Palmeiras para o Newcastle em 1987, após fazer sucesso pela seleção brasileira numa excursão ao Reino Unido.

 

Voltou à terra natal dois anos mais tarde, mas nunca deixou de estar ligado ao clube do norte inglês. Hoje trabalhando na administração da Arena Castelão, Mirandinha assiste de longe (e, sempre que possível, também de perto) aos jogos do Newcastle. E também acompanha com interesse o desempenho dos hoje nem tão raros brasileiros na Premier League. E assegura: a vida deles é mais fácil do que a sua quando chegou à Inglaterra, como pioneiro.

 

Como você foi parar no futebol inglês?

 

O Newcastle já vinha me monitorando há algum tempo. Isso começou graças a um palmeirense que chegou à cidade como estudante de intercâmbio e foi morar na casa de um empresário que tinha contatos com o clube. Então, esse brasileiro começou a falar sobre mim, que na época jogava no Palmeiras, e passou a mostrar material de jornais e revistas para eles, que se interessaram. Fui convocado para a seleção brasileira para a disputa da Copa Stanley Rous, contra Inglaterra e Escócia, e o Newcastle teve a chance de me observar. Tive grandes atuações nos dois jogos, marquei um gol no empate com os ingleses e dei o passe para um dos gols no 2 a 0 sobre os escoceses. Quando voltei para o Brasil, o Newcastle fez uma proposta ao Palmeiras. Eu estive bem perto de assinar com o América do México, estava praticamente acertado, mas o Newcastle insistiu e me levou.

 

O estilo de jogo por lá não era exatamente o mesmo a que você estava acostumado no Brasil, certo?

 

Não era mesmo. Naquela época, a maioria dos clubes ingleses ainda jogava à base do chutão. Mas, para minha sorte, o Newcastle não era tão “inglês” assim; não jogava tanta bola aérea. Isso me ajudou. Além disso, a característica do futebol de lá era parecida com a minha, de muita velocidade. Então, quando cheguei, apesar de o estilo ser totalmente diferente do Brasil, achei que a maior dificuldade seria a do idioma, já que eu não sabia falar inglês.

 

Foi difícil o aprendizado? Você teve ajuda do clube?

 

Quando cheguei, o clube pôs um inglês que havia morado em Portugal para me ajudar como intérprete. Mas na segunda temporada abri mão do tradutor, já conseguia me virar. Quem me ajudou muito foi o Paul Gascoigne. Com ele aprendi todos os palavrões. Infelizmente perdi contato com ele. Não nos falamos há uns três anos, desde que seu estado de saúde piorou. Mas sempre tentava encontrá-lo quando ia à Inglaterra.

 

Você ainda vai a Newcastle com frequência?

 

Sempre que posso. Adoro o clube e a cidade de Newcastle, onde deixei muitos amigos. Sou muito bem tratado até hoje, e os torcedores me recebem com muito carinho. Ainda sou conhecido como Mira, como nos tempos de jogador. É especial. Quando não estou lá, acompanho os jogos pela TV. Sofri muito com o rebaixamento do Newcastle, mas fiquei feliz pelo retorno do clube à Premier League e pela boa temporada que tiveram. Acho que podem ir ainda mais longe. Ainda mais com uma torcida fiel como aquela, que não abandonou o time mesmo nos momentos difíceis.

 

Hoje são muito mais brasileiros no futebol inglês. Quem você destaca entre eles?

 

Eu gosto muito do David Luiz, do Chelsea, que tem uma grande qualidade e é um dos melhores zagueiros do mundo. O Oscar, também do Chelsea, está fazendo um ótimo trabalho apesar de ainda não ser titular absoluto. Mas, com certeza, tem um grande futuro. Eles têm a sorte de jogarem num futebol bem diferente e mais fácil do que encontrei na minha época. Hoje existem somente jogadores de alto nível, de todas as partes do mundo, em ótimos gramados. Na minha época, até em campos de grama sintética, como o do Luton Town, eu tive que jogar. A cultura do futebol inglês é completamente diferente hoje em dia.

 

Como é o seu trabalho na Arena Castelão?

 

Eu trabalho como administrador do que se refere às equipes que vêm jogar aqui, daquilo que envolve o campo, o vestiário, as delegações. Em dias de jogo à tarde, chego no Castelão às 9h da manhã e fico até o fim. Eu tenho a chave mestra do estádio (risos). Estou gostando muito desse trabalho, de poder contribuir nesse projeto do Castelão, que é um motivo de orgulho para todos nós. A gente sente a alegria das pessoas com um estádio como esse. Eu não tive a chance de disputar uma Copa do Mundo como jogador, mas agora vou fazer parte dela aqui na arena. Estamos ansiosos pela Copa das Confederações também.

 

Sua sala fica quase dentro do memorial do futebol cearense, um projeto que teve sua participação direta. Como foi esse trabalho?

 

Eu me inspirei muito na experiência que tive no Newcastle, na maneira como os ídolos são tratados pelos clubes ingleses. Acho que isso é algo em que ainda precisamos evoluir no Brasil e espero que espaços como esse e as novas arenas construídas possam ajudar a mudar essa cultura. Eu entrei em contato com ex-jogadores marcantes do futebol cearense para gravar o depoimento deles aqui para o memorial. É muito importante resguardar esse patrimônio. Eu nunca fui vaidoso, mas posso dizer que faz um bem danado a um ex-jogador ser lembrado e tratado com carinho novamente.

 

Mirandinha-Fifa

 

*Com informações do FIFA.COM