Dragão do Mar e Orquestra Sinfônica da Uece realizam homenagem a Humberto Teixeira no dia 28 de fevereiro

22 de fevereiro de 2016 - 18:25


O show Humberto Teixeira – Viva a Memória do Doutor do Baião terá ainda a participação dos cantores Adelson Viana, Calé Alencar, Marcus Caffé, Paulo Belim e Marina Cavalcante. O acesso é gratuito

O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará (Osuece) realizam, no dia 28 de fevereiro, às 17h, na Praça Verde, um grande concerto em homenagem ao compositor cearense Humberto Teixeira, parceiro musical de Luiz Gonzaga e teórico do baião. Gratuito, o show Humberto Teixeira – Viva a Memória do Doutor do Baião apresentará arranjos executados pela orquestra, sob regência e direção artística do maestro Alfredo Barros, e contará ainda com a participação dos cantores Adelson Viana, Calé Alencar, Marcus Caffé, Paulo Belim e Marina Cavalcante. O show será transmitido ao vivo pela TVC.

Cearense nascido em Iguatu, em 1915 – mesmo ano de uma das mais devastadoras secas que o Ceará já viu –, Humberto Cavalcanti Teixeira partiu no rumo do Rio de Janeiro para, junto de Luiz Gonzaga, formatar e inserir o Baião e todo seu sertão na indústria cultural do País, nas décadas de 1940 e 1950. Nesse movimento, o poeta de Asa Branca ajudou a compor também um dos painéis mais ricos e diversificados da música brasileira.

Teórico e ideólogo do Baião, Teixeira foi muito mais que o parceiro brilhante de Luiz Gonzaga. Foi um músico respeitável que merece ser conhecido em razão das iniciativas que tomou, da luta pelos direitos autorais, pela atuação política (foi Deputado Federal pelo Ceará, eleito em 1954) e por conta de um sem número de composições gravadas por vários intérpretes. Em janeiro de 2015, o poeta de Iguatu completou centenário de nascimento.

O concerto

Partindo dessa relevância, a obra do músico ganha o palco com a interpretação inspirada dos instrumentistas da Osuece, que, sob a regência do maestro Alfredo Barros, executará quinze arranjos elaborados especialmente para as vozes convidadas, intercalados com outros apenas instrumentais. “A ideia é formar público para a apreciação e conhecimento dos compositores e músicos que fundamentam nossa identidade cultural”, define o maestro.

Com abertura declamada do poeta e escritor Braúlio Bessa, o show contempla uma variedade de canções, muitas das quais imortalizadas na voz do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Entre elas estão: Estrada de Canindé, Tenha Dó de Mim, Paraíba/Juazeiro, Assum Preto, Kalu/Dono dos Teus Olhos, Légua Tirana, Adeus Maria Fulô, Mangaratiba, Lá no meu pé de serra, Xanduzinha, Baião de São Sebastião, Qui Nem Jiló e Asa Branca.

              Durante a execução das obras, projeções de imagens ligadas à biografia de Humberto Teixeira conversarão com os acordes entoados, dando ao concerto ainda mais variedade e beleza. Muitas das fotos projetadas, inclusive, foram feitas especialmente para o concerto, a partir do acervo do artista, recentemente doado pela família ao Museu da Imagem e do Som (MIS).

SERVIÇO

Show Humberto Teixeira – Viva a Memória do Doutor do Baião

Quando: dia 28 de fevereiro de 2016 (domingo)

Hora: 17h

Onde: Praça Verde

Acesso gratuito

 

SOBRE HUMBERTO TEIXEIRA

Nascido na cidade de Iguatu, centro-sul do Ceará, em 1915, ano de uma seca imortalizada pelo romance homônimo de Rachel de Queiroz, Teixeira veio de uma família de classe média, onde se destacava a determinação da mãe paraense pela formação dos filhos. Assim, aos dezessete anos, ele desembarcava com o irmão, no Rio de Janeiro, onde estudou Medicina e depois abandonou o curso para se graduar em Direito.

Ele se iniciara musicalmente no Ceará, onde começou, timidamente, a compor. No Rio, pode dar vazão à veia criativa e ter as primeiras músicas editadas e gravadas. Quando recebeu Luiz Gonzaga, no escritório de advocacia que mantinha, no centro da então Capital Federal, estava selada uma das parcerias mais ricas da música brasileira. Mais que isso, dava-se uma guinada num quadro de prevalência das marchinhas de carnaval que se alternavam com boleros, sambas-canções e músicas estrangeiras, em plena era do rádio.

Teixeira foi o ideólogo do baião. Ele e Gonzaga souberam ouvir o som da tradição e traduzi-lo em uma roupagem adequada à Indústria Cultural que dava os primeiros passos entre nós. Teixeira foi o responsável por dar um direcionamento à obra que a dupla desenvolveria, por pouco tempo, mas de modo indelével no cancioneiro do Brasil.

Com o baião, entrava em cena o sertão. Expressões musicais ancestrais se moldavam, “estilizadas”, ajustadas ao tempo do disco, do rádio e das expectativas dos ouvintes e fruidores deste período.

A parceria durou pouco, mas as consequências se desdobram até hoje. Não houve ruptura, mas um desencontro em razão da filiação deles a diferentes entidades de arrecadação dos direitos autorais. Continuaram amigos. Gonzaga teve outros parceiros. Teixeira logo emplacou sucessos nas vozes de grandes intérpretes da música brasileira. Construíram carreiras solos e deram valiosas contribuições à cultura brasileira.

Além de compositor, Teixeira se fez uma importante liderança do setor musical. Sua atuação na luta pelo reconhecimento dos direitos do autor e do intérprete ganhou força durante o mandato de deputado federal que exerceu representando o Ceará (1955 / 1958).

Foram importantes as caravanas que organizou para difundir a música brasileira no exterior, num espectro que ia da erudição de Radamés Gnatalli ao baião, dos grandes intérpretes da música instrumental à nascente bossa-nova.

Humberto Teixeira fez história. Levou para o centro da cena outras sonoridades e os dramas do sertão, uma região que “está dentro de nós”, como disseram Guimarães Rosa e Patativa do Assaré, em tempos e espaços diferentes.

Foi político a seu modo, ainda que só tenha cumprido um mandato. Era política a opção pelos dramas dos flagelados das secas. Era político seu canto, que se impôs na contramão das narrativas das dores de amores. Teixeira foi líder da categoria e soube negociar com a indústria fonográfica, apesar de casos de plágios de algumas de suas composições que aconteceram no exterior (Estados Unidos e França). Soube avançar na luta pelo som brasileiro, não apenas nos nossos receptores, mas na tentativa de exportar o baião e fazer dele uma alternativa ao samba, com mais “pureza” e mais “raízes”, segundo ele advogava.

Humberto Teixeira é o pretexto para se compreender tanta coisa: migração interna, aculturação, criação, boêmia (a vida noturna carioca), programação do rádio, chanchadas onde as canções eram inseridas e tocadas, os embriões de “olimpianos” que o rádio começava a promover, antes do advento da televisão.

Humberto Teixeira nos mostra o percurso de uma criação que não teme recorrer à tradição para se perfazer, nos formatos da linha de montagem do negócio do entretenimento e do lazer, com tudo o que isso envolve de opção pela releitura e não como mero recurso ao folclórico. Notável esse trabalho de condensação, de recobrimento por outros naipes e arranjos, em termos de sonoridades, e da economia verbal propiciada pelas letras que ele urdia, trabalho de poeta de qualidade que ele sempre foi.

Humberto Teixeira não foi apenas o parceiro brilhante do Luiz Gonzaga. Ele tinha formação musical. Apaixonado pelo piano, foi desestimulado pelo pai machista que considerava este instrumento muito feminino. Aprendeu a tocar flauta e cavaquinho e tocava piano às escondidas, por puro deleite, sem fazer performances públicas.

O fato de não cantar pode ter atrapalhado o reconhecimento de sua obra, principalmente quando deixou de ser o parceiro de Luiz Gonzaga, mais um cantor, um “comunicador” antes do tempo, dionisíaco, com suas estratégias que hoje parecem de marketing, como a retomada do gibão e do chapéu do cangaceiro. Apolíneo, Teixeira viveu com intensidade, tangenciando revistas de fofocas, sempre interessadas na vida amorosa dos ídolos. Deixou uma obra que merece ser difundida, como exemplo de determinação, de talento múltiplo, e como ponto de partida para outras propostas.

Além de “Doutor do Baião”, não apenas por ter formação universitária, mas pelo fato de ter dado formato a este baião do rádio e do show brasileiro dos anos 1940 e 1950, Teixeira foi um homem visionário, que soube se antecipar à Indústria Cultural e trabalhar a contenção verbal da poesia e as modulações e sonoridade melódicas para ajudar a compor um dos painéis mais ricos e diversificados da música brasileira de todos os tempos. Por isso, esta proposta de comemoração de seu centenário de nascimento. Porque ele se sustenta na letra e na música. Humberto Teixeira foi, é e será sempre um grande compositor brasileiro.

(Gilmar de Carvalho)

22.02.2016

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