CE Pacífico: o Vicente Pinzon que bate bola, dropa ondas e desce ladeira

10 de março de 2016 - 18:37

 

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Celeiro de vários talentos esportivos de Fortaleza, o Vicente Pinzon convive com o mar, possui um clube com quase 80 anos e também é palco para o desenvolvimento do skate no Ceará.

O Vicente Pinzon respira o esporte, vertente que estimula as pessoas às atividades lúdicas, desviando da violência. E na região não faltam histórias e pessoas que cresceram através do esporte e enxergam as intervenções no bairro como uma chance de renascimento de tempos guardados com muito carinho em suas memórias.

Tradição no futebol

TS6655 web1O estádio Luiz Cesário, localizado na avenida Jangadeiro, é a sede da Sociedade Esportiva e Cultural Terra e Mar Clube, tradicional clube fundado em 1938, que já disputou a 2ª e 3ª do Campeonato Cearense. José Cabral, filho de um dos fundadores relembra com muito saudosismo do começo do time, ligado diretamente à cultura da pesca na região.

“São as coisas que meu pai Zé Cabral dizia com muito orgulho. Antes aqui era só mato e os pescadores fizeram um campo. Eles mesmo cortaram o matagal e fizeram um campo de zinco para se divertirem. Nomes TS6581 webcomo Cajueiro, Cacheado, Ricardo, o próprio Luiz Cesário, César Lobão, Chico Lalá, Valdir Cabral foram essenciais nessa fase”, conta ele.

José Cabral também destaca os grandes momentos vividos pelo Terra e Mar. “Tínhamos uma disputa com o Mucuripe, outro time da região. Era quase como Fortaleza e Ceará. Nos anos 80 o time foi para a segunda divisão, era uma equipe forte. Naquele tempo, time ‘de bairro’ era grande. Tinha um time chamado Botafogo com quem jogamos vários jogos e eles também treinavam no nosso campo. Vencemos o América, que já tinha sido campeão. Daqui saíram TS6597 webgrandes jogadores como Magela, Claudemir, Ademir, Valdir Cabral, Expedito Chibata. Alguns presidentes marcaram história como César Lobão, Edmilson Bindá, Chico Bindá, Stênio Cordeiro, até chegar ao atual, Geraldo Sousa”, diz ele.

Segundo Cabral, um olhar diferenciado ao esporte no bairro Mucuripe pode reascender o sonho na nova geração. “Aqui tem que ter jogo. Pesa em mim saber que crianças querem jogar mas não têm as condições ideais”. Atualmente, o time recebe inscrições de jovens para a disputa das divisões Sub-15 e Sub-20 do Estadual.

A mãe do surf

TS6683 webCom uma ligação forte com o bairro Serviluz, mais precisamente na praia do Titanzinho, está um dos principais nomes do surf no Brasil, Maria das Graças Tavares Brito Filha, mais conhecida como Tita Tavares. O currículo fala por si só: tetracampeã brasileira, campeã do mundial amador na Venezuela, primeira mulher a tirar nota 10 no mundial feminino do World Surf League (WSL), entre outros feitos.

Mesmo tendo a oportunidade de morar fora do Ceará e até do país, ela nunca renegou as origens. “O Titanzinho representa tudo para mim, pois foi onde TS6708 webnasci, onde me criei. Aqui dei meus primeiro passos no surf, aqui estão todas as pessoas que mais amo”, comenta.

Tita relembra com emoção da infância na região. “Sou filha de pai pescador e perdi minha mãe aos quatro anos. Meu pai passava o dia fora, no mar, pois precisava trazer o sustento para casa. Foi quando comecei a treinar, com uns cinco anos, numa tábua de madeira. Eu tinha que ocupar a cabeça com algum esporte”. Segundo ela, é um orgulho ter contribuído para o fato de ter trazido reconhecimento à região. “Durante todos esses anos estive levando o Titanzinho para fora. Tive várias oportunidades para me mudar, mas sempre fui muito apegada. Nunca esteve nos meus planos”.

Para a experiente surfista, o local tem muito a oferecer e ainda tem um grande potencial de crescimento. “Aqui não tem só violência como muitos pensam, tem famílias, é um berço do surf. É como um estádio de futebol que acolhe todos os torcedores e todo mundo é bem vindo. Com certeza é importante que os políticos vejam esse lado humano, pois a questão da segurança é bem complexa. Investindo no esporte, com certeza daqui para 2020 vamos diminuir bastante a violência”, afirma.

Lenda do skate

TS6667 webO Vicente Pinzon também é berço de um dos mais antigos skatistas do Ceará, Alexandre Gato, 52 anos, 40 desses dedicados ao esporte. E se hoje andar de skate está na moda, segundo ele, foi um longo percurso para adquirir o reconhecimento. “Fui um dos primeiros a se profissionalizar no Ceará. Aquele pessoal do eixo Rio-São Paulo achava que nem existia skate aqui no Nordeste e se surpreenderam quando vieram para cá. Foi uma âncora para eu sair do anonimato. Nos anos 80 havia repressão policial, da família, skate era considerado coisa de vagabundo. Meu pai me proibia de entrar em casa se eu tivesse com o skate e minha esperava ele dormir para deixar eu entrar”, relembra.

TS6664 webAcompanhando de perto a evolução do esporte no Ceará, Alexandre recorda o início dos treinos, influenciando outros praticantes na época “Comecei nas ladeiras que tinha aqui mesmo. Depois fizeram um pequeno bowl onde fica o anfiteatro da Beira Mar. Com o passar dos anos surgiram outras pistas de half-pipe, outras verticais. Ainda é complicado, mas vamos nos virando. Com o tempo mostramos que o skate é mais do que um esporte, é um estilo de vida, ele dita música, o jeito de vestir”, explica.

Alexandre Gato, que também é músico e desenhista, destaca a importância do estímulo de práticas lúdicas como prevenção da violência: “A molecada precisa ter com o que se ocupar, ter aulas de capoeira, judô, cursos de desenho, oficinas para a terceira idade também. Aqui não é um bairro tão violento, ele tem os problemas que têm em todo canto. Minha droga é o skate. O skate mexe com a adrenalina, a curiosidade. No fim do ano fizemos uma ação social de Natal e foram várias crianças querendo aprender a andar de skate, vemos as famílias estimulando. E isso é gratificante para nós”.

Fotos: Tiago Stille

 

 

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10.03.2016

Thiago Sampaio
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