#CCDS: conheça história de agentes que transformam a rotina dos bairros onde vivem

6 de agosto de 2016 - 12:00

Neste sábado, às 10h, o governador Camilo Santana participa da abertura do Seminário dos Conselhos Comunitários de Defesa Social (CCDS), que reunirá 600 representantes dos Conselhos de todas as regiões do Estado

 

Juntar os cidadãos de todas as camadas sociais, tornando-os agentes ativos no processo de construção de uma sociedade mais solidária e pacífica, somando esforços, dividindo responsabilidades para o aprimoramento da segurança pública e para o combate da violência. Essa é a proposta do Conselho Comunitário de Defesa Social (CCDS) que, ao longo dos anos, tem contado com esse desejo de transformação de pessoas que realizam trabalho voluntário buscando uma cultura de paz. Nesta matéria, vamos conhecer a trajetória dos professores José Hilton de Castro e Martha Teixeira, conselheiros que conseguiram mudar a rotina das pessoas dos seus bairros.

Estimulando a cidadania

web ARI2004Morador do bairro São João do Tauape há 40 anos, José Hilton de Castro, 51 anos, conhecia algumas associações comunitárias que atendiam às demandas dos moradores, mas com pouco ou nenhum contato com as forças de segurança e órgãos do Estado. Foi aí que o professor do Estado começou suas atividades com a comunidade através de sua participação em um programa de rádio. Porém, ele queria fazer mais, vendo a situação dos jovens em seu bairro, sem ocupação ou qualquer perspectiva de um futuro de oportunidades. Em 2004, entrou na diretoria do CCDS. “Meu trabalho como professor já é de servir em sala de aula. Mas fui convidado a fazer parte de um conselho que eu não conhecia, chamado na época de Conselho de Segurança, que, por causa do peso do nome, foi mudado para Conselho Comunitário de Defesa Social. Conhecemos o projeto, nos engajamos, comecei como primeiro secretário e, de 2006 para cá, assumi a presidência, trabalhando com idoso, juventude e serviços gerais”, explica.

Foi quando ele reuniu os jovens da comunidade sem condições de pagar uma academia e iniciou um projeto gratuito de artes marciais. “De 2006 para cá nos especializamos no trabalho com o jovem e, com a parceria do 5º Batalhão da Polícia Militar, surgiu a ideia de ensinar jiu-jitsu. Lá, havia um projeto chamado ‘Semear é Preciso’, e levávamos pessoas todo o sábado de manhã para treinar, íamos buscar e deixar em suas casas. E não nos restringíamos a isso, também tínhamos aula de campo, levávamos para mostrar a cidade de Fortaleza, as origens, dávamos também esse viés turístico e histórico”, diz ele.

O que começou como um projeto despretensioso acabou registrando bons resultados. “Aconteceu que a partir desses treinamentos fizemos uma parceria com o Batalhão de Polícia do Rio de Janeiro para um atleta nosso competir lá e ele foi campeão mundial na categoria dele. Aqui no Lagamar também tivemos jovens campeões Norte-Nordeste. Foi muito bom, proveitoso, pois nosso objetivo era mostrar que o pessoal de baixa renda também era capaz de praticar o esporte, ser campeão. Hoje existem vários projetos, mas nos consideramos pioneiros pois naquela época o esporte não tinha toda essa popularidade que tem hoje. Incluímos também outras modalidades, como o Taekwondo e o Karatê. Na época das novelas indianas fizemos também aulas de dança do ventre. Nós viemos acompanhando o que os jovens estavam precisando. Fizemos parceria com o Sebrae e o Senac em que estamos capacitando não só jovens, mas também adultos, para o mercado de trabalho”, disse.

O CCDS faz também um trabalho em conjunto com o Ronda do Quarteirão de visita as casas, escolas e associações parceiras, ajudando na disseminação da cultura de policiamento comunitário. Assim, José Hilton também faz a ponte entre o serviço de segurança pública e a adesão efetiva da comunidade. “O Conselho surgiu com o objetivo de mostrar à comunidade que a polícia não é só ostensiva, ela tem um trabalho social. Mostrar para a polícia, para a segurança pública de uma maneira geral, que um bairro de periferia não só tem delinquentes, ele tem pessoas capazes de serem campeões, faturarem prêmios, tivemos outras que venceram na vida, superaram obstáculos, poderiam entrar no mundo de crime mas não entraram”, explica o professor.

Segundo o professor, radialista e conselheiro, o maior retorno que pode obter é ver esses bons resultados de perto. “Temos a sensação de agradecimento, de dever cumprido quando percebemos que a semente que a gente plantou deu certo. Outras pessoas estão reproduzindo e dando continuidade aos projetos que começamos e isso é o que importa”.

Mediando conflitos

WEB TS4590Moradora do bairro Jereissati II, em Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza, a professora Martha Teixeira, 49, tinha a vontade em unir forças para combater as questões de violência desde que assumiu a responsabilidade de lecionar. Isso se deu quando, dentro da escola, ela havia percebido que haviam grandes conflitos e acabavam trazendo dificuldades no aprendizado dos alunos. “Víamos a necessidade de a escola ser mais humanitária, que ultrapassasse os muros e fosse nas demandas sociais, nos problemas que existiam na comunidade. Víamos jovens, alunos, morrendo por dependência química, casos de violência doméstica e muitas famílias se envolviam em alguns problemas sociais. O que fazer? Só os conteúdos da escola não eram suficientes. Daí veio a necessidade de realizar novas experiências alternativas de cultura de paz”, conta ela.

A professora explica como se deu a sua entrada para o Conselho Comunitário de Defesa Social: “Em 2001, conheci em Pacatuba uma promotora de Justiça chamada Greiciane Carvalho que também tinha o sonho de realizar trabalhos sociais. Participando de reuniões de mediação comunitária, conhecemos o Dr. Edison Landim, o major Aguiar, que foram essenciais para esse projeto e, através da Greiciane, começamos o primeiro grupo realizado no interior. Vimos na mediação uma forma do engajamento social e o CCDS foi a porta de entrada para a concretização desse trabalho. Inicialmente fui presidente no Jereissati III, onde hoje é sede do Ronda do Quarteirão e lá é realizado o trabalho do Ronda Comunitário. Hoje estou à frente no Jereissati II”.

Ela assumiu a vocação de se ter um conselho de mediação de conflitos, inspirando-se em um projeto de Bogotá intitulado “ESPERE” (Escola de Perdão e Reconciliação). A metodologia do projeto discute a questão do perdão enquanto cura de gatilhos interiores. Hoje, a comunidade sabe da existência do núcleo de mediação pois é feito um trabalho de divulgação, seja através de panfletagem e até pelas próprias delegacias. Inicialmente é feito um contato com as pessoas interessadas através do Ministério Público e é marcada uma data para a mediação. Então, as pessoas se dirigem ao núcleo com suas demandas, sejam casos de pedidos de alimentos, conflitos de vizinhanças, dívidas, entre outras temáticas.

Martha destaca a importância da integração com os órgãos do Estado. “Somos os olhos da comunidade para com o Estado. Somos o elo de intermediação entre o funcionamento do aparelho público e a sociedade, pois nós que utilizamos os serviços do Estado e precisamos que eles sejam comunitariamente organizado. E que nós sejamos esse termômetro do que é a justiça social. A justiça não é só polícia, é a política pública como um todo, é o bom funcionamento dele que vai minimizar as questões de crime, de dependência química. Trabalhamos aqui com uma forma de prevenção muito importante, pois somos parceiros do Estado para dizer o que está funcionando ou não e até reivindicar as demandas necessárias”, disse.

Segundo a professora e mediadora, o trabalho nada mais é do que uma missão divina, beneficiando ao próximo e trazendo satisfação pessoal. “Nosso objetivo é cultivar na sociedade uma cultura de paz através do diálogo. Eles nos dão muito mais do que nós damos para eles, é gratificante. É o trabalho voluntário que dá sentido à vida. O que estou fazendo com o tempo de vida que Deus me deu? Com que missão cada um de nós está contribuindo para a sociedade? Deus nos deu dons gratuitamente, nascemos com eles, e em troca disso porque não podemos retribuir com nossos irmãos, pessoas que não tiveram oportunidade de educação, alguém para orientá-las? Graças ao CCDS conquistamos a primeira Delegacia da Mulher, através do reconhecimento do nosso trabalho, atuando direto com as demandas políticas públicas específicas. Quantas pessoas foram ajudadas com a mediação de conflitos, pela cultura do perdão? Assim trabalhamos a prevenção do conflito dentro da sociedade”, concluiu.

05.08.2016

Thiago Sampaio
Repórter / Célula de Reportagem

Fotos: Ariel Gomes e Tiago Stille / Governo do Ceará

Expediente imprensa2-01