#CearádeAtitude: microempreendedores cearenses combatem preconceito e afirmam cultura negra

24 de novembro de 2016 - 20:46 # # # #

 

Neste mês da Consciência Negra, conheceremos a história de Patrícia Bittencourt, empreendedora da Rede Kilofé que criou a própria marca como forma de lutar contra a discriminação

R MG 8318“Eu vislumbrava algo no futuro que tivesse casado com a questão econômica, mas que também fosse associado às minhas lutas. Então, em 2013, quando passei por um momento difícil, enxerguei em mim – mulher negra e cheia de anseios -, a possibilidade de retratar toda essa força”. O depoimento é da microempreendedora Patrícia Bittencourt, de 36 anos, que após ficar desempregada criou a marca Preta Bitten, empresa de camisetas e vestuário com estampas afro.

Inicialmente com foco no universo feminino, a marca foi apresentada ao público em feiras realizadas pela Rede Kilofé, rede produtiva de negócios entre empreendedores negros do Ceará. Hoje, a Preta Bitten já possui loja física no Centro de Fortaleza e comercializa produtos para ambos os sexos. “A Feira Kitanda (que este mês foi realizada no Dragão do Mar, no dia 20 de novembro), promovida pela Rede Kilofé, foi extremamente importante para consolidação da marca. Recebemos diversas encomendas graças a exposição que fazemos dos produtos”, aponta Patrícia.

Segundo ela, a discriminação acabou motivando a criação da marca. “ A Preta Bitten surge a partir do sofrimento que tive na infância, pois era muito discriminada por ter a pele clara e o cabelo crespo. Observando minha mãe pintando as colchas de cama e panos de prato e enfrentando dificuldades financeiras, pensei em criar algo que desse visibilidade à população negra, mostrando quem nós somos, e que nos valorizasse”, afirma.

Mãe de gêmeas, Patrícia diz que combater a discriminação que as filhas sofrem no dia a dia destaca ainda mais o respeito que deve existir entre o ser humano. “Um dia, minha filha veio dizer que estava se sentindo mal porque as coleguinhas na escola estavam chamando-a de feia. Porém, elas não têm culpa, é uma questão de educação. Explico que elas podem ajudar essas pessoas que a discriminam para que entendam o quanto é importante respeitar o diferencial do outro”, enfatiza.

“As pessoas precisam entender que o preconceito é uma cicatriz que nunca fecha e que deixa sequelas”.

Rede Kilofé

WEB MG 8305“A Rede Kilofé teve a preocupação de chamar mulheres e homens negros que já produzissem produtos, mas que pudessem agregar a sua riqueza étnica. E a Patrícia é um exemplo disso, pois comercializa e dá visibilidade a uma problemática que vivenciamos. Portanto, é muito importante realizar a venda desses produtos, com conteúdos éticos, para fortalecer a luta contra o racismo”, salienta o coordenador da Rede Kilofé, Luiz Bernardo, de 63 anos.

WEB MG 8252Hoje, a Rede envolve aproximadamente 100 pessoas e tem proporcionado geração de renda e uma nova oportunidade profissional para os empreendedores. Bernardo diz que “a feira se preocupa com a cultura da população negra, por isso é realizada em datas importantes: 25 de março (abolição da escravatura no Ceará), 25 de maio (abolição da escravatura de Fortaleza), 25 de julho (Dia Nacional da Mulher Negra) e 20 de novembro (Dia da Consciência Negra)”.

WEB MG 8291Segundo a titular da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Ceppir), Zelma Madeira, o papel do Estado é atuar em parceria com as entidades para combater a discriminação. “Temos o compromisso, enquanto Governo, de fazer o enfrentamento de diminuir as desigualdades raciais existentes no Ceará e combater as práticas racistas que possam existir em nossa realidade”, pontua.

Para ela, o trabalho desenvolvido pela feira é fundamental para o empoderamento dos negros do Estado. “A ideia da Kitanda é extremamente importante para nós, negros e negras, porque ela mexe com o empoderamento. Se temos, hoje, 71% da extrema pobreza negra, é claro que precisamos de trabalho. É aí que a feira entra e faz com que cada empreendedor mostre a diversidade, a riqueza e a pluralidade étnica”, declara.

A coordenadora explica ainda que existe um órgão no Estado para receber denúncias de racismo. “Infelizmente, ainda temos a prática racista presente na cabeça de algumas pessoas de mentalidades coloniais. Por isso, se alguém for vítima dessa prática, deve falar. Para isso, temos o Centro de Referência em Direitos Humanos, que trabalha para garantir que as pessoas discriminadas possam ter acesso à justiça”, conclui.

Dia da Consciência Negra

Comemorado no dia 20 de novembro, a data marca a morte de Zumbi dos Palmares (1695), que foi líder do Quilombo dos Palmares e simbolizou a luta do negro contra a escravidão. O objetivo da data é fazer uma reflexão sobre o relevo da cultura e do povo africano e mostrar o impacto que tiveram na cultura brasileira.

Serviço:

– Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Ceppir)
Endereço: rua Silva Paulet, nº 334, Meireles
Fone: (85) 3133.3710

– Centro de Referência em Direitos Humanos do Estado do Ceará
Endereço: rua Dom Pedro II, Parangaba (em frente a estação do Metrofor)
Horário: 8h às 17h
Fone: (85) 3101.2998

– Rede Kilofé
Endereço: rua Senador Alencar, nº 631, sala 813, Centro
Fone: (85) 99735-4515

– Preta Bitten
Endereço: rua Senador Alencar, nº 631, sala 813, Centro
Fone: (85) 99617-8215

24.11.2016

Fotos: Max Marduque / Governo do Ceará

Wiarlen Ribeiro
Repórter / Célula de Reportagem

Expediente imprensa 23nov 2016-01