HGF realiza primeira neurocirurgia com paciente acordado no Ceará

3 de maio de 2017 - 18:00 # #

Assessoria de Comunicação do HGF Débora Morais (85) 3101.7086 / 98726.1212 debora.morais@hgf.ce.gov.br Twitter: @Hospital_HGF

“Eu sou uma pessoa muito abençoada”, declara a professora Antônia Gomes do Prado, 55, natural de Anori, interior do Amazonas. Ela foi submetida à primeira neurocirurgia com paciente acordado no Ceará. O método inovador, que reduz as sequelas e possibilita ao paciente uma melhor qualidade de vida, foi realizado no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), da rede pública do Governo do Ceará. A cirurgia inédita no Estado ocorreu no dia 18 de abril. Antônia recebeu alta no último dia 25, mesmo dia em que o motorista cearense Francisco Brito de Lima, 48, passou por igual procedimento cirúrgico no HGF. Ambos foram diagnosticados com tumor cerebral.

A cirurgia consiste em submeter o paciente a uma anestesia geral e, após a abertura do osso craniano, acordá-lo através da diminuição do nível da sedação. Nesse momento, é feito um mapeamento da localização do tumor e de áreas eloquentes, como a motora, a sensitiva e, principalmente, as áreas da fala. Somente após essas etapas é que começa a extração do tumor, com a preservação integral dessas áreas e com a manutenção de um diálogo permanente com o paciente. Ao término da extração, o paciente é novamente sedado para recolocação do osso do crânio.

“A presença de uma equipe multiprofissional nesse tipo de cirurgia é muito importante para o desdobramento da operação. Além disso, nesses procedimentos, o tempo necessário para recuperação do paciente é reduzido, enquanto em cirurgias convencionais podem demandar internações de até três semanas. A paciente recebeu alta apenas sete dias depois do procedimento, garantindo mais qualidade de vida”, ressalta Stélio Araújo, neurocirurgião do HGF.

Há três anos, Antônia do Prado começou a sentir um leve incômodo na cabeça quando deitava. Ela foi diagnosticada com glioma de baixo grau, um tumor pequeno localizado na área eloquente do cérebro, importante local do sistema nervoso onde coordena parte das funções de memória, motora e da fala. “Quando descobri que era um tumor, eu não fiquei triste em nenhum momento. Fui compreensiva com as explicações dos médicos e eles me trataram bem, com respeito, e me disseram tudo que iria acontecer. Eu não senti nada na hora da cirurgia e lembro de tudo, inclusive”, relembra.

A cirurgia de alta complexidade teve duração de cinco horas. De acordo com o neurocirurgião Lucas Alverne, operar o paciente acordado possibilita identificar a extensão do tumor e assim, garantir uma intervenção mais precisa, eficaz e segura para garantir uma melhor recuperação do paciente. “O glioma é muito parecido com o tecido cerebral, então, uma vez a paciente estando acordada, é possível identificar através de estimulação a extensão do tumor para retirá-lo e deixar o paciente com o menor déficit possível, no qual preserve a linguagem motora e sensorial”, explica.

Segundo procedimento

Além da professora Antônia Gomes do Prado, no último dia 25 de abril, o HGF realizou mais uma vez o novo procedimento cirúrgico, dessa vez em um cearense. Francisco Brito de Lima tem 48 anos e é motorista de ônibus. Ele estava trabalhando quando passou mal. “Eu tinha acabado de parar o ônibus no sinal, quando eu passei mal e convulsionei. De imediato me socorreram e me levaram para o hospital e foi no HGF que eu descobri que estava com um tumor. Meu medo era ser maligno, pois minha família tem casos. Mas os médicos conversaram e me explicaram bem direitinho o procedimento do meu caso e eu concordei em fazer a cirurgia”, fala.

Antônia do Prado recebeu alta no dia 25 de abril e já fez a retirada dos pontos da cirurgia, já Francisco teve alta médica nesta terça-feira, 2 de maio. Ambos estão em plena recuperação e seguem sendo acompanhados pela equipe de neurocirurgiões da unidade. “Nós tiramos o máximo de tumor possível para poder dar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Esses tipos de tumores não têm cura, eles voltam, pois o sistema nervoso tem a capacidade de se adaptar ao longo do desenvolvimento neuronal (neuroplasticidade), então ficamos acompanhando o paciente a cada seis meses com uma série de exames”, complementa o neurocirurgião Lucas Alverne.

Para o diretor geral do HGF, João Batista, realizar a primeira neurocirurgia com paciente acordado no Ceará é um reconhecimento da capacitação dos profissionais do hospital e o resultado da busca constante em garantir o atendimento de alta complexidade à população. “O benefício que isso traz para os pacientes é muito grande, pois é um novo caminho terapêutico que está sendo explorado. Isso abre uma série de oportunidades favoráveis para melhorar o desempenho na qualidade desse atendimento. O HGF é um hospital referência não só para o Ceará, mas para os outros estados. É um centro de ensino que cria um ambiente favorável para o aprimoramento de novas tecnologias”, enfatiza.

Neurocirurgia

O setor de neurocirurgia do HGF existe desde 1970. Em 1971 foi criado a residência de neurocirurgia. Em 2011 a equipe passou por uma reestruturação, sendo dividida em três: neurocirurgia oncológica, neurocirurgia vascular e neurocirurgia da coluna vertebral. Na unidade, já vinham sendo realizados cirurgias de biópsias em pacientes acordados, mas não para retirada de tumores cerebrais.