Trabalho é terapia e oportunidade de recomeço no sistema penitenciário cearense

28 de junho de 2017 - 16:16 # # # # # #

Camille Soares - Ascom Sejus
Ariel Gomes e Tiago Stille - Fotógrafo


Matéria de estreia da série mensal Ceará Transparente, da Coordenadoria de Imprensa do Governo do Ceará, mostra a divulgação de dados do sistema penitenciário no Estado e a busca por qualificação e qualidade de vida através do trabalho nas unidades prisionais cearenses. Nesta primeira edição da série, o tema é “Sistema Penitenciário e Ressocialização”, que será tratado em três matérias até sexta-feira (30)

A população carcerária do Ceará alcançou o número de 25.611 pessoas no fim de maio. O dado, o maior já registrado pela Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus), contabiliza as pessoas recolhidas nas unidades prisionais, aqueles que estão nos regimes aberto e semiaberto, os que cumprem prisão domiciliar, os monitorados eletronicamente e as pessoas em cumprimento de medidas cautelares. Apenas as grandes unidades somam 13 mil pessoas, o que significa um excedente de 53%. É um somatório que desde o mês de junho passou a ser divulgado mensalmente pela Sejus, em seu site oficial.

O raio-x traz ainda a separação dos internos por regime, mostra a diferença entre o número de presos homens e mulheres e apresenta a situação de cada grande unidade prisional. “Queremos ser transparentes. O Ceará é um Estado que já tem destaque quanto à transparência, não podemos fazer diferente com o sistema penitenciário”, aponta a titular da Pasta, Socorro França.

Oportunidades

Os números, entretanto, não dão conta das histórias e transformações que têm ocorrido dentro das unidades prisionais. O cárcere pode ser uma oportunidade de mudança de vida para muitas pessoas. No Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), a maior unidade do Estado, que abriga 1.832 pessoas, três unidades fabris empregam 45 internos. São 45 histórias que começam a se reescrever ali dentro.

Uma delas é a de Rafael Belarmino, 32 anos, condenado pela Justiça, assim como outros seis mil, e em cumprimento no regime fechado. Natural do Cariri, Rafael está há seis anos preso. No Cepis desde sua inauguração, em novembro de 2016, ele encontrou oportunidade de mostrar à família que está distante do adolescente rebelde de anos atrás. Rafael trabalha na Sacaria Novim, a mais recente empresa instalada na unidade prisional. Lá, os internos recebem sacos de ráfia que precisam ser separados de acordo com as marcas e tamanhos e embalados para seguirem para o mercado. Rafael é um dos responsáveis pelo empacotamento dos produtos.

“A experiência de ter um trabalho vai me ajudar, meu psicológico já tá mudando com o trabalho. Vou conseguir mostrar às pessoas outra coisa, diferente do que mostrei até agora. Perdi muito tempo da minha vida seguindo caminhos errados. Hoje cansei de ser perseguido”, reflete. Para Rafael, o trabalho é uma forma de contribuir com a mãe na criação de seus filhos. “A mãe dos meus filhos seguiu outro caminho e eles estão com a minha mãe. Tenho a certeza de que estão bem cuidados e esse dinheiro pode ajudar minha mãe com isso”, destaca.

Edson Sampaio, 35, também empregado na Sacaria Novim, tem no trabalho uma espécie de terapia. “Estou recolhido há cinco anos e sempre trabalhei. Fui faxineiro de rua, trabalhei na cozinha”, enumera. Para ele, manter-se ocupado é uma forma de tirar o estresse, “o cansaço da cadeia”.

A coordenadora de inclusão social do preso e do egresso da Sejus, Cristiane Gadelha, celebra a alegria e a dedicação dos internos nos postos de trabalho. “Embora ainda sejam poucas vagas ofertadas, temos tido um bom retorno das empresas. A D´Noite, instalada este ano, já autorizou dobrar o número de vagas. A Sacaria Novim, com menos de um mês de funcionamento, também tem expectativas de aumentar seu tamanho”, vibra. Para a coordenadora, manter os internos empregados é uma forma de prepará-los para o retorno à sociedade. “Se eles têm essa disciplina, esse comprometimento ainda dentro da unidade prisional, certamente estarão mais preparados para vencer os preconceitos que ainda existem aqui fora”, pontua.

É com essa expectativa que Aureliano Chaves, 36, não se esquivou de desenvolver um trabalho totalmente novo para ele. Depois de ter trabalhado com telemarketing nos seus anos de liberdade, Aureliano hoje se vê confeccionando alças de roupas para dormir. Corta, mede e coloca as presilhas em um exercício de atenção e delicadeza. “É um trabalho prazeroso, que, mais que remição e dinheiro, pode me render uma nova oportunidade lá fora”, sonha.

Os internos recebem 75% de um salário mínimo, o máximo permitido por lei. Além disso, a cada quatro dias trabalhados, diminuem um dia na pena por cumprir.

 

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