Maior seca da história: Ceará quebra paradigmas

27 de setembro de 2017 - 18:33 # # # # # #

Henrique Silvestre - Ascom SRH
Carlos Gibaja e Ariel Gomes - Fotógrafos

Neste mês, a série especial Ceará Transparente vai tratar da gestão de recursos hídricos do Estado. Até sexta-feira (29), vamos mostrar as ações do Governo do Ceará nesta que é a maior seca da história

A maior seca já registrada na história do Ceará tem proporcionado desafios cada vez maiores e mais complexos ao Governo do Ceará. Pelo muito que foi feito ao longo da história, o Ceará sempre entendeu-se preparado para ciclos de escassez. E, de fato, este preparo tem-se revelado de várias formas e em várias situações. Mas, a inclemência da atual quadra de seca, mostra que novos rumos devem ser adotados. E que paradigmas precisam ser quebrados. Essa mudança já começou.

No início da gestão Camilo Santana, o Ceará entrava para o seu quarto ano ininterrupto de seca. A estiagem, há muito restrita às populações rurais e aos pequenos distritos, chegava às sedes municipais, nas quais residem atualmente cerca de 80% da população do Estado. O governador ordenou, de imediato, a elaboração do Plano Estadual de Convivência com o Semiárido. Integravam-se as ações, dando caráter interinstitucional ao enfrentamento dos efeitos da seca.

O grupo de técnicos do Estado que historicamente se reunia em torno de assuntos pontuais relativos ao abastecimento, passou a se encontrar semanalmente, agora anabolizado por novos atores. Em seguida, com a reunião semanal insuficiente, iniciou-se o processo de reunião permanente, via rede social de mensagens: 24 horas de atenção e vigilância. Isso tem garantido maior tempestividade às decisões. E, para além disso, motivado ainda mais a equipe.

“A experiência do Ceará no enfrentamento aos efeitos da estiagem é um exemplo tanto para o Brasil quanto para o mundo”, exulta o secretário chefe do Gabinete do Governador, Élcio Batista. “Como é que se atravessam cinco anos de uma seca severa, da maior seca da história, sem que tenhamos cidades em colapso de água, e sem que deixássemos de atender à atividade econômica?” provoca.

Participam do Grupo de Contingência – tanto de forma virtual, quanto presencial – vários secretários de Estado das pastas com interface com soluções hídricas, chefes de órgãos e autarquias, e o gabinete do Governador. O próprio chefe do Executivo se reúne mensalmente com parte da equipe. A integração de toda essa massa crítica vem garantindo agilidade nas respostas e a obtenção de soluções para graves problemas de abastecimento.

“Fazemos essa reunião toda sexta-feira. Nela, nós passamos município por município do Ceará para constatar quais os que enfrentam maior crise. Assim hierarquizamos as nossas medidas quanto ao nível de criticidade desses municípios”, explica o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. Segundo ele, nessas reuniões são decididas, por exemplo, a destinação das 17 máquinas perfuratrizes da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra). “Temos inúmeras demandas, quase sempre legítimas, mas é nessas reuniões, de acordo com critérios técnicos, que destinamos nossos esforços”, ensina.

Adutoras

Uma das primeiras medidas adotadas foi a intensificação do programa de Adutoras de Montagem Rápida (AMRs). Esse tipo de adutora, solução nascida no âmbito do Grupo de Contingência, era o meio mais eficiente para restabelecer o serviço de abastecimento de água de sedes municipais, ao mesmo tempo em que era a forma mais eficaz de aproveitar o restante de água de alguns reservatórios mais resilientes. No atual governo, mais de 350 km de AMRs já foram entregues à população de diversos municípios.

“Temos conseguido, não sem muito esforço, levar no paralelo, obras emergenciais – como as adutoras de montagem rápida – e obras estruturantes, como a construção de barragens e o Cinturão das Águas, uma das maiores obras hídricas em curso no País”, destaca Teixeira. Já o secretário Élcio Batista ressalta o pioneirismo do Ceará ao encarar obras como a construção de um poço horizontal para captação de água subterrânea. “Isso só era usado no Brasil para produção de petróleo”, ressalta.

Poços

O solo dos sertões cearenses é pobre em água subterrânea. Além de pouca, a água costuma ter a qualidade comprometida em função das altas concentrações de sais. Mais um paradigma a ser quebrado. Foi com a certeza de que água ruim é aquela que não existe, que o Ceará iniciou o desenvolvimento do maior programa de construção de poços já visto no Ceará. São mais de quatro mil poços construídos no atual governo. “O governo Camilo Santana construiu quase 40% do total de poços feitos pelo Estado em 30 anos de Sohidra. Isso já mostra a determinação do governador em enfrentar o problema”, avalia Teixeira.

Dessa forma, cidades inteiras são hoje abastecidas com água subterrânea. Se o poço apresenta baixa vazão, instala-se chafariz. Não há água perdida. Um só município – Boa Viagem, no Sertão de Canindé – já recebeu mais de 200 poços na busca pelo mínimo de vazão que garanta o abastecimento. Em Pedra Branca, em virtude das baixas vazões encontradas nos poços construídos, uma rede adensada de chafarizes foi montada na malha urbana. Dessa forma, se não tem água na torneira, o cidadão a encontra a alguns passos da porta de casa. Toda água se aproveita.

Cinturão das Águas e Transposição do São Francisco

Além das ações mais emergenciais, uma grande aposta do Governo para ampliar em larga escala a infraestrutura hídrica cearense é o Cinturão das Águas do Ceará (CAC). A obra vai aumentar a garantia do abastecimento humano da região do Cariri – a segunda mais populosa do Estado, com mais de 1 milhão de habitantes –, além de tornar mais eficiente a chegada da água para 3,5 milhões de habitantes da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Os mais de 150 km de canais vão se interligar com a Transposição do São Francisco, levando as vazões excedentes para os açudes Castanhão e Óros. O trecho 1 da obra está com mais de 80% de execução e, ao todo, o CAC deve receber investimentos de mais de R$ 2 bilhões.

O Eixo Norte da Transposição do São Francisco, que vai se conectar com o Ceará, está em fase final de conclusão. O Ministério da Integração Nacional garante que, até o começo do ano que vem, as tão sonhadas águas do “Velho Chico” estejam correndo em solo cearense. Com mais de 477 km de extensão em dois eixos (Leste e Norte), o Projeto de Integração do Rio São Francisco vai beneficiar mais de 12 milhões de pessoas, espalhadas pelos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

A Capital

A esse esforço na busca de maior garantia de segurança hídrica no interior do Estado, correspondem investimentos ainda mais significativos para manter o abastecimento de Fortaleza e Região Metropolitana nesses seis anos de estiagem. Obras, medidas de redução de perdas, busca por novas fontes hídricas e campanhas de convencimento são ancoradas pela adoção da Tarifa de Contingência, por meio da qual o usuário de água tratada é sujeito a multa se não reduzir seu consumo.

Nesse período, cresceu a disputa (legítima) pelo pouco de água que ainda resta nos reservatórios. Sobretudo no Vale do Jaguaribe, no qual se encontram os principais açudes do Estado: o Castanhão e o Orós. Foram duras, porém democráticas, as negociações durante as reuniões para a Alocação Negociada de Água, que há 23 anos decidem as vazões para os mais diversos usos. A agricultura irrigada tem sido o setor mais afetado, com restrições que já beiram os 80%. “Tivemos reuniões com mais de 500 pessoas no mesmo auditório. Muitas com interesses conflitantes e legítimos”, destaca Texeira. “Isso mostra o amadurecimento e solidez do nosso modelo de gestão compartilhadas das águas”, avalia.

O Rio Jaguaribe deixou de ser perenizado, obrigando cidades do médio e baixo vale a retomarem seus antigos sistemas de abastecimento a partir de poços.

Na Capital, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) se desdobrou para reduzir as perdas por vazamentos na distribuição da água. Uma campanha foi implementada para legalizar as ligações clandestinas. A água da lavagem dos filtros de uma de suas estações de tratamento passou a ser reaproveitada. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) passou a exercer com maior rigor o controle da oferta e da demanda, literalmente forçando a Cagece a fazer mais com menos. Hoje, vive-se na Grande Fortaleza com 20% a menos de água do que se vivia em 2014.

O esforço conjunto voltou-se também para a obtenção de novas fontes hídricas. Estudos realizados pela Cogerh apontavam para grande manancial de água subterrânea no complexo de dunas a Oeste de Fortaleza – entre Caucaia e Paracuru. Testes comprovaram o potencial. Uma bateria de poços foi construída na área do Pecém, obtendo cerca de 200 litros de água por segundo.

Outra bateria de poços está para ser feita na região da Taíba/Siupé, também no litoral Oeste. A expectativa é de que outros 200 litros/s sejam aduzidos ao reservatório que distribui água para as indústrias instaladas na região.

O complexo Cauípe (açude e lagoa) também deve ofertar, em breve, incremento de “água nova” naquela região. Todo esse esforço alivia a pressão sobre os reservatórios que atualmente abastecem a Região Metropolitana, liberando mais água para o abastecimento humano na Capital.

Inovação

Também das dunas a Oeste de Fortaleza, no Cumbuco, o Estado do Ceará está construído o primeiro Poço Direcional (poço com tramos horizontais) para captação de água do País. A técnica já é difundida mundialmente na exploração de petróleo. Em breve, estará produzindo água no Ceará.

A captação de água dos leitos secos de rios e açudes não é propriamente uma inovação. Já é feita pelo sertanejo há séculos, explorando os aluviões nos períodos de maior escassez. Contudo, a construção de uma rede de poços dentro de um leito seco de uma barragem, ou a utilização de ponteiras próprias para rebaixamento de lençol freático na obtenção da última água do manancial, dá a dimensão do caráter inovador dessa gestão.

Ao olhar para o novo, o governador Camilo Santana deu início ao processo que culminará na primeira usina de dessalinização para abastecimento de uma capital brasileira. O edital já foi lançado pela Cagece e pretende, inicialmente, produzir um metro cúbico por segundo de água. A semente do reúso dos efluentes de esgoto também já foi plantada e promete manter o Ceará na vanguarda quando se trata de recursos hídricos. “Nisso também somos pioneiros: fomos o primeiro estado a lançar uma proposta para as empresas privadas possam analisar a viabilidade técnica e econômica para implantação de uma usina de dessalinização de grande porte”, destaca o secretário Batista.

 

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