“La Femme Bateau”, de Sérvulo Esmeraldo, ganha instalação na Maloca 2018

26 de abril de 2018 - 16:19 # # # #

O Governo do Ceará apresenta a quinta edição do festival que dá a largada com inauguração de instalação em homenagem ao artista visual que é uma das referências brasileiras da arte cinética

O festival da novíssima arte cearense estende-se também como palco das referências desse movimento. Depois de homenagear, em 2017, o fotógrafo Chico Albuquerque, a Maloca Dragão celebra, neste ano, a vida e a obra de Sérvulo Esmeraldo (1926-2017), artista visual nascido no Crato e que, em trajetória brilhante, tornou-se um dos principais nomes da arte contemporânea do Brasil, em especial da arte cinética. Realizada de 24 a 29 de abril, a quinta edição da Maloca terá inauguração da instalação “Sérvulo Esmeraldo, o Artista Homenageado”, na próxima quinta-feira (26), às 19h, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE), no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Sob curadoria de Dodora Guimarães, a instalação artística em homenagem a Sérvulo será apenas um dos muitos caminhos que a cidade já aponta em direção à obra desse artista que tem esculturas gigantes expostas à beira-mar, nas calçadas do Centro, nas principais universidades de Fortaleza, entre outros pontos. “Essa instalação no museu do Dragão será uma imersão no contorno da sua obra, que é pautada, segundo ele dizia, ‘na beleza das coisas simples’. Ela terá como estrela-guia a escultura La Femme Bateau – a sua “Mulher-Barco” -, que, na grande ressaca de 2 de março de 2018, foi arrebatada, arrancada e arrastada para o fundo do mar”, define a curadora, que foi companheira de Sérvulo e que hoje preside o Instituto Sérvulo Esmeraldo, criado em 2013 e responsável pelo acervo e legado do artista.

Sérvulo Esmeraldo e Dodora Guimarães: companheiros de uma vida

Com grande mobilização da imprensa e das redes sociais, a Femme Bateau naufragada transformou-se em mito: virou poema nas palavras do compositor Ednardo, crônica de Ana Miranda e até tatuagem. Dodora recorda que até o resgate da escultura perdida teve contornos de arte. “O guarda-vidas que a localizou sob os verdes mares bravios se chamava José de Alencar, que declarou ‘querer ter asas para dar uma rasante no céu’, de tanta felicidade pelo feito”, conta. A obra, agora personagem da cidade, foi resgatada no dia 7 de março pelo Núcleo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros, mas voltou com todas as marcas da força do mar. “E é neste estado que ela estará presente (no museu), anunciando que voltará brevemente ao seu lugar, porque quem é do mar de Iracema não tarda a voltar”, vislumbra Dodora.

Além da escultura arrebatada, a instalação terá ainda uma breve cronologia ilustrada de Sérvulo Esmeraldo, quatro fotografias de Gentil Barreira da Femme Bateau – com dimensões de 5×8,55m e de 5x5m – e dois vídeos do fotógrafo e cineasta Tibico Brasil: “Uma Mulher-Barco”, que conta a história da concepção da obra; e o segundo, ainda em edição, sobre o famoso resgate. “É uma coleção de cenas captadas durante os três dias do resgate. Um ensaio poético visual da operação de retirada da obra do fundo do mar da Praia de Iracema”, afirma Tibico. Em exibição até dia 29 de abril no MAC-CE, a instalação trará também livros e catálogos sobre Sérvulo Esmeraldo e o “Doc Sérvulo Esmeraldo | O Espaço no Infinito”, realizado pela CineGroup e SESI.

Exposição em maio

A instalação “Sérvulo Esmeraldo, o Artista Homenageado” terá breve passagem pelo Dragão do Mar, porque, no dia 15 de maio, o MAC-CE receberá a exposição “A Intenção e o Gesto”, com curadoria de Marcus Lontra, que reúne trabalhos de Sérvulo Esmeraldo, homenageado também da 6ª edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas. Com itinerância por cinco cidades brasileiras – São Paulo, Brasília, Goiânia, Fortaleza, Rio de Janeiro e Porto Alegre, nesta ordem -, a mostra também contém obras de mais onze artistas contemporâneos que dialogam com o trabalho de Esmeraldo. Em cartaz até o início de julho, a exposição trará obras dos anos 1960 até 2015, incluindo esculturas, relevos e desenhos, além de objetos dos anos 1970 em acrílico e joias, uma produção pouco conhecida de Sérvulo.

A arte pública

Depois de morar por mais de vinte anos em Paris, cidade onde amadureceu sua obra e desenvolveu trabalhos de notoriedade internacional no campo da arte cinética, Sérvulo Esmeraldo decidiu voltar a Fortaleza com um intuito único: dotar a cidade de um museu a céu aberto. “Foi o motor do seu retorno ao Brasil. Ele tinha grande interesse na arte pública e isso derivava da grande luminosidade que Fortaleza tinha e que favorecia sobremaneira a escultura”, explica a curadora. A obra de grande impacto nesse propósito foi a “Monumento ao Saneamento Básico de Fortaleza” ou “Interceptor Oceânico”, que emoldura a disputada feirinha da Beira-Mar, na Praia do Náutico. A obra teve projeto de 1977, mas foi inaugurada em 1978. Essa foi a primeira escultura contemporânea pública com tais dimensões no Brasil.

“Monumento ao Saneamento Básico de Fortaleza” ou “Interceptor Oceânico”, a primeira obra pública de impacto

Calcada na presença da luz natural e do movimento, são mais de 30 obras públicas ou integradas à arquitetura expostas em Fortaleza. Uma delas em que o movimento é fundamental é a “Quadrados”, de 1987, instalada na entrada da Universidade Federal do Ceará, no campus do Pici. A cada ângulo, a obra se revela de um modo. “Ele via a escultura como elemento para dinamizar o espaço à sua volta. A obra da UFC é um movimento virtual, mas a Femme Bateau é um exemplo de escultura biruta, que se mexia com o vento”, exemplifica. Além de Fortaleza, há obras de Sérvulo ainda nas cidades de Crato e Quixadá, no Ceará; e também em São Paulo (SP), Rio Branco (AC), Curitiba (PR) e Paris, na França.

Festival de homenagens

Surgida em 2014 em comemoração ao aniversário do Centro Dragão do Mar e em celebração à força da mais recente produção artística do Ceará, a Maloca Dragão tem se consolidado como vitrine nacional para a arte cearense. Nesse ensejo, homenagear artistas consagrados enquanto referências em suas respectivas linguagens é trazê-los à tona ao jovem público do festival e que, muitas vezes, desconhece a relevância desses nomes. “Desde 2017, resolvemos ter um grande artista cearense homenageado a cada edição. Neste ano, escolhemos o Sérvulo porque ele é um importante artista público, tem prestígio internacional e é um dos grandes nomes da arte cinética mundial”, explica Paulo Linhares, presidente do Instituto Dragão do Mar e idealizador da Maloca Dragão.

Dodora Guimarães afirma ter recebido com emoção essa homenagem “num evento da moçada”. “É uma justiça que se faz à obra do Sérvulo, que, além de grande artista, foi um cidadão defensor da arte e do direito dos artistas”, relembra. Ela destaca que o escultor cearense destinou sua obra para fruição do público, consciente de seus direitos e deveres. “É uma justa homenagem à memória dele e para a memória dos jovens artistas, que podem, a partir da obra do Sérvulo, se reconhecerem como propulsores de mudança”. Neste ano, aliás, a Maloca Dragão tem como tema “As barricadas abriram caminho: os 50 anos de maio de 68”, que destaca a importância desse momento como catalisador de mudanças políticas e sociais à época e como isso reverbera até hoje por meio da arte. A arte como revolução.

QUE TAL UM PASSEIO PELA CIDADE PARA VISITAR AS OBRAS DO SÉRVULO?

Expostas pela cidade de Fortaleza são mais de 30 públicas ou integradas à arquitetura. Que tal um passeio descompromissado por esse museu a céu aberto? A Maloca Dragão indica algumas delas para você:

2013 – Tetraedros, 1989. Aço pintado, 78 x 300 x 75 cm
Jardim Campus Unifor – Fortaleza, CE, Brasil

2012 – Sem título, 1997-2012. Aço corten. Escultura composta de dois elementos paralelos, medindo cada: 224 x 102 x 152 cm
Jardim Campus Unifor

2012 – Sem título, 1997-2012, aço corten. Escultura composta de dois elementos paralelos, medindo cada: 224 x 102 x 152 cm
Jardim Campus Unifor

2007 – Sem Título, relevo mural, borracha vulcanizada sobre muro de cimento e hera, 5,50x 8,80m
Sobrado Dr. José Lourenço

2005 – Monumento ao Dr. Regis Jucá, escultura em aço corten composta de 04 elementos semelhantes, medindo cada cerca de 3,00 m de altura
Hospital do Coração

Foto: Luiz Alves

2002 – Ballet Gráfico, escultura-fonte cinética, composta de três cones em aço inox, o maior 4,00 m de altura
Praça da Sé

1997 – Cones, escultura em aço pintado, 6,50m de altura
Parque de Esculturas, CDL

1992 – Monumento ao Jangadeiro, escultura em aço pintado, 6,00 x 3,00m
Praça do Pescador

1991 – Pirâmides, escultura em aço pintado, 4,00 x 4,50m
Parque do Cocó

1988 – Sem Título, escultura em aço pintado, 9,00 x 0,50m
Centro Empresarial Clóvis Rolim

1987 – Quadrados, escultura em aço pintado, 4,00 x 4,00 x 4,00m
UFC, Campus Universitário do Pici

1986 – Sem Título, relevo em aço pintado, 10,00m
Ed. José Bezerra de Menezes, BICBanco

1983 – Infinito (homenagem a Brancusi), escultura em aço pintado, 6,00 x 0,50 x 0,40m
Praça General Murilo Borges

1981 – Quadrados, escultura em aço pintado, 5,30 x 2,00 x 3,80m
Ed. Raul Barbosa, Justiça Federal

1978 – Sem Título, escultura em aço pintado, 1,33 x 1,10m
Sede do Jornal O Povo

1978 – Escultura-fonte em alumínio fundido, 2,00 x 3,20m
Faculdade de Medicina, UFC

1978 – Sem Título, escultura (pênsil) em aço pintado, 2,40 x 3,16m
Centro Administrativo do Banco do Nordeste do Brasil

1977 – Monumento ao Saneamento Básico de Fortaleza, escultura em aço pintado, 11,20 x 33,90x 1,50m
Praia do Náutico