“Eu tive atendimento de anjos”, conta mulher recuperada que deu à luz em UTI

8 de junho de 2020 - 14:35 # # # #

Wescley Jorge - Ascom HGCC

Maryane da Rocha Santos, 31, descobriu que estava grávida pela terceira vez em meio à confirmação dos primeiros casos de coronavírus ao redor do mundo. A doença, que até então não havia chegado ao Brasil, trouxe preocupação para ela e a família. “Quando ouvi falar sobre a pandemia, fiquei com medo, via muitas reportagens, lia sobre o assunto. Saía apenas pra fazer as compras de casa, de máscara e com álcool em gel”, lembra.

No final de abril, após uma dessas saídas, a gestante sentiu os primeiros sintomas de Covid-19: febre, dor de cabeça, dor no corpo. Moradora Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, Maryane procurou atendimento médico uma semana depois, quando os sinais da doença pioraram.

No dia 3 de maio, ela se sentiu ainda pior e foi transferida para o Hospital Geral César Cals (HGCC), unidade da rede pública da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado. “Assim que cheguei, verificaram o estado do bebê. Com ele tudo bem. O problema era comigo”, relata Maryane, que precisou ser internada.

No leito, a jovem teve uma parada cardiorrespiratória. Desse momento em diante, Maryane diz não se lembrar de mais nada. “O que eu sei é o que as pessoas me contam”, explica. Entubada e em coma induzido na unidade de terapia intensiva, a paciente não apresentava melhora. A solução encontrada pela equipe clínica foi realizar a cesariana na própria UTI para tentar salvar o bebê.

José Bernardo veio ao mundo no dia 8 de maio, pesando 1,359 Kg e com 40 centímetros. O recém-nascido foi encaminhado para a UTI Neonatal, onde se encontra em tratamento por ser prematuro extremo. Pela situação grave, nem ela e nem o pai tiveram a oportunidade de acompanhar o nascimento. Somente 10 dias após a internação, Maryane abriu os olhos pela primeira vez.

“Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi pegar na minha barriga. Perguntei a mim mesma: onde está meu neném?”. A enfermeira da unidade tranquilizou a paciente, informando que José já havia nascido e que estava bem. A recordação ainda traz muita emoção, mas também alívio para Maryane.

No dia seguinte, a jovem teve a oportunidade de conversar com o marido pela primeira vez em onze dias. O encontro aconteceu por meio de uma videochamada. “Foi muita emoção. Queria saber tudo o que tinha acontecido. Até pensei que tinha sido sequestrada. Fiquei feliz, pensando que ele tinha me encontrado”, lembra.

Apresentando melhoras dia a dia, Maryane foi transferida para a enfermaria do Eixo de Cuidados Covid-19 do HGCC, onde continuou recebendo todos os cuidados necessários para sua pronta recuperação. “Botei na cabeça que tinha que me recuperar por conta do meu filho. E minha recuperação foi rápida. No dia seguinte, com a fisioterapeuta, consegui fazer todos os exercícios. E no outro dia já comecei a andar sozinha”, relembra confiante.

Volta para casa

Recuperada da Covid-19, Maryane finalmente pôde retornar para casa no dia 22 de maio, data que ficará para sempre na memória da jovem. O bebê, no entanto, precisou permanecer na UTI do HGCC para se recuperar. “Tem gente que fez campanha pra mim. Recebi muito amor e carinho. Gente do Brasil todo, de Norte a Sul”, conta admirada.

Fora da unidade, Maryane faz caminhada, exercícios de respiração e meditação, conforme as orientações médicas e da equipe de fisioterapia. Agora, a meta é melhorar cada vez mais antes do primeiro e tão esperado encontro com o filho. “Quando receber a ligação de que posso buscar meu filho, se eu pudesse, me teletransportava na mesma hora. Eu boto na minha cabeça que ele ainda está na minha barriga para não ficar tão ansiosa. A evolução dele está sendo boa, sendo rápida. Vai dar certo”, confia.

A família, aliás, está preparando a casa e o enxoval para receber José Bernardo. “Todos os dias eu recebo ligações do Hospital, sempre me informam, recebo as fotos dele. Eu sei que não é a mesma coisa, tenho consciência do que está acontecendo, do que está acontecendo no mundo. Sei que é uma forma de
resguardar a mim e a ele”, afirma.

Para Maryane e a família, o que aconteceu com ela e o filho é um propósito de Deus. Ela faz questão de contar a história para inspirar outras pessoas. “Que essa história sirva de inspiração para as pessoas não perderem a fé. Além disso, pensar em se cuidar e se proteger”, declara.

Agradecimento

A jovem também guarda com carinho algumas lembranças dos cuidados e palavras de incentivo que recebeu no tempo internada no HGCC. Ela foi uma das 67 pacientes atendidas no Eixo de Cuidados Covid-19 Obstétrico do HGCC entre os meses de abril e maio. Todas as mulheres se recuperaram e foram para casa. Muitas na companhia dos bebês e outras para aguardar o término do período gestacional.

“Eu digo para todos que me perguntam: eu peguei anjos. Eu era muito bem tratada. Era como se eu fosse das famílias deles. Eu me sentia bem. Sempre me diziam palavras de conforto, que eu ia ficar boa, que eu estava melhorando. Todos se empenhavam em fazer o melhor. A recuperação do paciente também depende muito do atendimento, e eu tive atendimento de anjos”, finaliza agradecida.

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