Novembro Negro: Mulheres negras, indígenas, quilombolas e de terreiro debatem suas conquistas e desafios em aula sobre formação Étnico Racial

11 de novembro de 2020 - 14:34 # #

Camille Soares - Ascom SPS

A potência criativa das mulheres negras, indígenas, quilombolas e de terreiro vem abrindo caminhos e reinventando novos lugares na luta contra o racismo e o sexismo. Nesta quinta-feira (12), a formação em Relações Étnico Raciais, realizada pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), através da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Igualdade Racial (Ceppir), reúne mulheres para falar sobre desafios e conquistas na busca por autonomia e reconhecimento. Uma aula de mulheres contando as suas histórias e das mulheres que vieram antes delas. A transmissão inicia às 14h, pelo canal SPS Ceará no Youtube. O curso faz parte das atividades do Novembro Negro.

“Quando a mulher negra se movimenta toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. A frase da escritora Ângela Davis ganha múltiplos significados na análise da professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e doutora em Antropologia pela USP, Vera Rodrigues. “Esse diálogo entre nós mulheres de vários grupos historicamente oprimidos vem potencializar nossa força e nos mostrar o quanto nós somos também agentes de mudanças, que inclusive, acontecem quando nos empoderamos coletivamente”, destaca a professora.

Vera Rodrigues lembra que o Brasil é fruto de um projeto colonial que precisa ser desconstruído diariamente e urgentemente. “Nossa sociedade precisa de atitudes concretas, que passem pelas politicas públicas de promoção da igualdade racial, pela rede de proteção social às mulheres e pela justiça para todos. Enquanto nada disso avançar, nós seguiremos reféns deste sistema opressor e patriarcal”, pontua.

Na linha de frente no combate as opressões de gênero e ao racismo que atinge também os grupos étnicos, as mulheres indígenas, assim como as mulheres negras, assumiram postos de liderança, tanto nas aldeias como dentro da política, reforçando a luta pelas pautas dos povos indígenas e dando visibilidade a pautas pela vida das mulheres indígenas.

Marciane Tapeba é vice-cordenadora da Articulação de Mulheres Indígenas do Ceará (Amice) e também participa do debate. Ela conta que a pandemia intensificou os desafios na luta pela vida das mulheres indígenas.

“Nós, mulheres indígenas, temos participado de diversos movimentos em favor da vida das mulheres e pela garantia dos nossos direitos. Na pandemia foi necessário reforçarmos nossa luta no combate à violência doméstica, e neste sentido, percebemos o quanto ainda precisamos avançar nesta pauta que é tão urgente, e que não é só nossa, mas de todas as mulheres”, ressalta Marciane Tapeba.

Historicamente, as opressões recaem sobre as manifestações culturais e religiosas de matriz africana, que são frequentemente vistas com preconceito em nossa sociedade. Articuladora do coletivo Elas do Axé, Ana Andrade é filha de Yemanjá, educadora social e presidenta da Associação afro-cultural Casa do Rei/ Yakekeré do Ilê asè obá Oladeji. Assim como Marciane e Vera, Ana enfrenta muitos preconceitos por fazer parte de uma religião de matriz africana.

“Minha vivência dentro do candomblé aconteceu muito naturalmente. Há nove anos fui iniciada e permaneço muito ligada ao terreiro, me sinto pertencente a este espaço. Nossa religião se cruza muito com a cultura e é muito importante manter viva essas tradições que simbolizam a resistência do povo negro”, explica Ana, ao refletir que não existe cultura brasileira sem religiões de matriz africana. “Nós reafirmamos todos os dias nossa existência e fazemos questão de abrir a casa para que as comunidades vizinhas venham nos conhecer e nos perceber para além do preconceito, que, infelizmente ainda é tão real no nosso dia a dia”, complementa Ana Andrade.

Militante do Movimento Quilombola do Ceará e aluna do curso de pedagogia da Unilab, Cristina Quilombola, frisa a importância da capacitação como uma ação que fortalece a luta das mulheres negras, indígenas, quilombolas e de terreiro. “Eu acredito muito na força destes encontros e da troca de experiências enquanto possibilidades de renovação das politicas públicas, que são resultados das nossas lutas para ter acesso aos nossos direitos. Fazer parte deste espaço é muito simbólico e fortalece a nossa luta, nosso empoderamento e autonomia. Nesta aula seremos nós falando sobre nós e sobre as nossas demandas, e eu acredito muito na força destes processos, que representam o reconhecimento por parte do Estado das nossas falas e do nosso pertencimento aos lugares onde vivemos e construímos nossas lutas diárias”, conclui Cristina Quilombola.

Programação

12/11 (Quinta-feira)

Módulo 4 – Mulheres negras, indígenas, quilombolas e de terreiro: conquistas e desafios no Brasil e Ceará

Vera Rodrigues, Marciane Tapeba, Cristina Quilombola, Aurila Quilombola e Ana Andrade

Mediação: Wanessa Brandão e Lourdes Vieira

17/11 (Terça feira)

Módulo 5 – Conversando com as juventudes do Ceará

Ezequiel Tremembé, Tainara Eugenio, André Luís, e Wellington Nascimento

Mediação: Ceiça Pitaguary

19/11 (Quinta feira)

Módulo 6 – Uma Década de Estatuto da igualdade Racial: por mais reconhecimento étnico e justiça racial

Palestrante: Zelma Madeira

Mediação: Lourdes Vieira

 

Ouça:

A professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e doutora em Antropologia pela USP, Vera Rodrigues, fala sobre a importância do evento.