Na pandemia, ansiedade pode gerar transtornos alimentares; tratamento deve ser multidisciplinar

27 de maio de 2021 - 12:21 # # # # # # # # # # #

Milena Fernandes - Ascom HSM - Texto
Brauliana Barbosa - Artes Gráficas

Nos últimos meses, com a pandemia da Covid-19, tem sido necessário passar mais tempo em casa, distante do convívio social e dos momentos de lazer. Muitas pessoas reconhecem que passaram a comer mais. O psiquiatra David Martins, coordenador da Residência em Psiquiatria do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), afirma que a ansiedade tem sido um dos fatores que vêm causando transtornos alimentares. “É preciso ter cuidado, principalmente nesse momento de muitas inseguranças e incertezas, para não descontar na comida, gerando algum tipo de transtorno, o que pode acabar interferindo na saúde física e mental do indivíduo”, alerta.

Os principais tipos de distúrbios alimentares são anorexia nervosa, bulimia nervosa, compulsão alimentar e o transtorno alimentar restritivo evitativo, desencadeados por uma série de fatores associados à depressão ou ansiedade. “Os transtornos alimentares, de um modo geral, são mais comuns em mulheres e ocorrem quando existe uma preocupação exagerada com o peso e com a forma corporal. Muitas vezes são pessoas que não são obesas, mas se enxergam com sobrepeso, comprometendo a autoestima”, diz Martins.

Anorexia nervosa

Nesse tipo de transtorno alimentar, o paciente diminui bruscamente a quantidade de alimentos com foco no emagrecimento. Muitas vezes fazem exercícios físicos vigorosos, comem pouco e podem provocar vômito para perder peso. “Isso pode gerar um emagrecimento doentio com risco para a saúde, levando a uma arritmia cardíaca, sofrimento psíquico e até ao suicídio”, pontua o psiquiatra.

Bulimia nervosa

Uma das principais características desse transtorno é o exagero na alimentação. “Geralmente, as pacientes se apresentam com peso normal ou leve sobrepeso, tentam controlar a ingestão de comida, porém acabam perdendo o controle e comem uma quantidade exagerada de alimentos, seguida de vômitos. Observamos também nesses casos que as pacientes realizam exercícios físicos com a intenção de emagrecimento, utilização de laxantes e remédios para perder peso”, explica o especialista.

Compulsão alimentar

As pessoas com episódios de compulsão alimentar apresentam quadros de hiperfagia (aumento anormal do apetite ou ingestão excessiva de alimentos), com sensação de descontrole alimentar. Após estes momentos de alimentação exagerada, os pacientes se arrependem, ficam tristes, mas não apresentam comportamentos compensatórios, como ocorre na bulimia nervosa. Desta forma, acabam tendo maior probabilidade de ganhar peso e a autoestima fica baixa.

Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo

Esse é um transtorno que se apresenta nas pessoas emagrecidas. O paciente tem dificuldade de comer, mas se incomoda com o fato de ser magro e pode sentir nojo de comida ou receio de se alimentar.

Tratamento

O tratamento dos transtornos alimentares é sempre multidisciplinar e deve englobar, no mínimo, médico psiquiatra, psicólogo e nutricionista. Todos os profissionais envolvidos tentam melhorar a relação do paciente com a alimentação, com seu corpo e peso para diminuir os comportamentos prejudiciais, como compulsões alimentares, métodos compensatórios e restrição alimentar.

No HSM, esses casos são avaliados nos Ambulatórios Gerais da Residência em Psiquiatria, após encaminhamento dos postos de saúde. O hospital também tem convênio com o curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza (Unifor), onde são realizados os tratamentos desses pacientes.