Estação das Artes: resgate histórico e incentivo à cultura norteiam a obra no Centro de Fortaleza

22 de junho de 2021 - 15:50 # # # # #

Airton Lima Jr - Ascom SOP - Texto

O projeto Estação das Artes, hoje em execução no Centro de Fortaleza, já superou os 50% dos serviços de engenharia. O empreendimento consiste na restauração estrutural e modernização do conjunto de prédios e galpões localizados em frente à praça Castro Carreira (Praça da Estação), que pertenciam à antiga Estação Ferroviária João Felipe. Quando pronto, o projeto, executado através da Superintendência de Obras Públicas (SOP), irá compor a Rede de Equipamentos Culturais da Secult-CE.

Quando inaugurada, a Estação das Artes vai requalificar o Centro e aquecer a economia criativa cearense, facilitando acessos com a interligação ao sistema de Metrô de Fortaleza (Metrofor) e dialogando com espaços tradicionais da região, como o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o Passeio Público (Praça dos Mártires) e o Cineteatro São Luiz.

“A Estação das Artes é um complexo cultural que se insere no Plano Estadual de Cultura para qualificação do Centro da Cidade e do convívio social, no âmbito do ‘Fortaleza 2040’ e ‘Ceará 2050’ através das artes e da cultura. Trata-se de um projeto que reúne políticas culturais de artes, patrimônio cultural e memória, formação e economia criativa”, define Fabiano Piúba, titular da Secult-CE.

O complexo possui aproximadamente 67 mil metros quadrados (m²) e contará com ambientes diversificados para preservar a memória cearense e promover manifestações artísticas locais e regionais. Entre estas estruturas estão Mercado das Artes, o Mercado Gastronômico, a Pinacoteca estadual, as novas sedes da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), uma biblioteca, um museu, além de duas áreas de estacionamento, visando comodidade para os visitantes.

“Vamos ter uma Pinacoteca que será a salvaguarda de um acervo histórico e expressivo das artes visuais em nosso Estado, ao tempo que contará com espaços para exposições de grande monta local, nacional e internacional. O Museu Ferroviário será instalado afirmando a própria Estação como um lugar de memória e da história da ferrovia no Ceará. Além disso, contaremos com o Mercado de Gastronomia e o Centro de Design do Ceará, associando a Estação das Artes como um novo ambiente de economia criativa da cultura. Sem dúvidas, será mais uma grande instituição para compor a Rede de Equipamentos Culturais da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará ”, completa Fabiano Piúba.

Uma estação e muita história

O projeto da Estação das Artes prevê a conservação da arquitetura da Estação João Felipe, de características neoclássicas. Alguns blocos passaram por estudo de prospecção histórica em 2020, no intuito de classificá-los em termos de restauração.

“Existiam alguns equipamentos que estavam comprometidos estruturalmente, onde foram realizados projetos de recuperação dos galpões, do Casarão dos Engenheiros, são obras antigas e agora estão sendo restauradas, inclusive também a praça. A restauração vai ficar altamente moderna, sem deixar de fazer o cidadão voltar 60 anos atrás. Isso permitirá que o cearense possa retornar ao Centro da Cidade de forma mais confortável e atraente”, destaca o superintendente de Obras Públicas, Quintino Vieira.

Construído no terreno do extinto Cemitério São Casimiro, em 1880, o prédio inicialmente foi chamado de Estação Central, recebendo o nome de Estação João Felipe somente em 1956, em homenagem ao cearense de Tauá, João Felippe Pereira, engenheiro e político.

Originalmente, atendia ao transporte ferroviário de passageiros entre Fortaleza e Baturité, passando por sucessivas expansões à medida que a Capital cearense se desenvolvia, até integrar o sistema de ferrovias da Rede de Viação Cearense (RVC), em 1909. A partir de 1957, a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) assume a administração da Estação João Felipe, que nesse período contava com duas linhas de trens metropolitanos: linha Norte e linha Sul. Entre as medidas da RFFSA destacam-se a implementação do transporte de cargas, a renovação da frota de trens com a substituição de locomotivas a vapor por diesel-elétricas, e dos vagões de madeira por metálicos.

Em 1988, o transporte de passageiros na Estação João Felipe passa ser administrado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), enquanto a RFFSA permanece operando apenas com trens cargueiros, viabilizando sobretudo, o transporte de açúcar refinado, álcool, cimento e outros produtos, entre o Porto do Mucuripe e o Interior do Estado.

O engenheiro e memorialista Hamilton Pereira, ex-funcionário da RFFSA, relembra a movimentação intensa dos trens que chegavam e partiam da estação: “Naquela época, tínhamos trens de passageiros como os famosos ‘Sonho Azul’ e o ‘Asa Branca’, que seguiam de Fortaleza pela linha Norte, passando por Sobral, até Altos e Teresina, no Piauí, ou pela linha Sul, passando pelo Crato, até Sousa, na Paraíba. Os vagões eram bem confortáveis, climatizados já, e com poltronas reclináveis. Geralmente a locomotiva puxava cinco vagões – dois de primeira classe e dois de segunda, com um vagão-restaurante no meio”, comenta com saudosismo.

Além de setor administrativo, galpões e oficinas para manutenção das locomotivas, a estação contava com sala de recepção, restaurante e plataformas de embarque/desembarque para atender aos fortalezenses. Uma edificação que simboliza o progresso de Fortaleza ao longo dos séculos, através de seus arcos, colunas e paredes ornamentadas, e do frontão triangular marcado pelo relógio em algarismos romanos que, por gerações, informou as horas aos transeuntes da praça Castro Carreira.