Outubro Rosa LGBT+: invisibilidade é barreira na prevenção

15 de outubro de 2021 - 12:29 # # # # # #

Rafaela Leite - Ascom SPS - Texto
Drawlio Joca - Fotos

No mês de conscientização sobre o câncer de mama, preconceito, invisibilidade e desconhecimento ainda são barreiras para prevenção de certos grupos. É o caso dos homens e mulheres transgêneros, que mesmo com corpos, trajetórias e dificuldades diversas, encontram esses percalços em comum.

Na caminhada pela prevenção, as posições são desiguais e os espaços para representatividade, quase nulos. “É como se a gente não estivesse incluído naquilo, porque nas propagandas só vemos mulheres cis”, explica a técnica em enfermagem e mulher trans, Tuanny Avilla, 23. “Eu nunca vi aquela questão da diversidade: a trans também deve se cuidar, fazer mamografia”.

“É de suma importância trabalhar a campanha do Outubro Rosa de forma inclusiva, atendendo às especificidades da população trans, que também precisa fazer o autoexame de mama, exames preventivos e buscar atendimento médico precoce, caso algum nódulo seja encontrado”, destaca a secretária-executiva de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Lia Gomes.

A orientadora da célula de Programa e Projetos da coordenadoria LGBT da SPS, Samilla Aires, ressalta a dificuldade de pesquisas e publicações científicas sobre a incidência de câncer de mama em pessoas trans. “Existe um distanciamento dos profissionais e de campanhas sobre as práticas de prevenção de câncer de mama em pessoas trans, quando deveriam ter essa observância pois é uma população que administra hormônios e muitas vezes anabolizantes”, explica Samilla. “E o uso das próteses mamárias, no caso das mulheres trans, as impossibilitam de sensibilidade no autoexame”, conclui.

A questão da representatividade é observada também por mulheres cis. Drielly Holanda tem 25 anos, é mulher negra e assistente social do Centro Estadual de Referência LGBT+. Além de destacar a importância das campanhas de prevenção, chama atenção para os direcionamentos das pautas. “Como mulher cis vejo bastante representatividade, porém ainda faltam outros corpos para serem vistos e postos nos meios midiáticos”, pondera.

Ela também acredita que as campanhas precisam ser mais assertivas. “Vejo muitas pessoas ‘celebrarem’ o outubro rosa como se fosse o mês das mulheres, esquecendo o real sentido da prevenção. Precisamos avançar mais nesse sentido de nos afastarmos da ideia do mercado de apenas vender blusas rosas, mas sobretudo proporcionar o acesso ao direito de fazer os exames necessários, ter um acompanhamento com profissionais da saúde e proporcionar o acesso à informação de forma correta”.

Mas o acesso não é igual para todes. É o que afirma o agente de segurança privada, homem trans e membro fundador da Casa Transformar (ONG de acolhimento para pessoas LGBTQIAP+ em situação de vulnerabilidade social e exclusão familiar), Kauê Conrado, 27.

Ele ressalta as dificuldades que homens trans enfrentam para ter acesso à saúde e fazer exames periódicos, e explica que uma consulta simples pode se tornar um momento de constrangimento. “Geralmente você não tem o seu nome social respeitado na hora de fazer sua ficha. Não existe uma certa privacidade e tudo isso faz um homem trans desistir até mesmo das consultas”, conta Kauê.

Tais situações são geradas não só por preconceito, mas muitas vezes, por falta de informação dos profissionais da saúde. “Nem os próprios médicos estão preparados para nos receber. Por isso que o risco de doença é bem maior, por todas essas barreiras que a gente tem que passar para poder chegar a ser atendido de uma forma digna”.

A médica ginecologista e assessora técnica da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), Débora Britto, destaca algumas características de um tratamento humanizado. “Acho que um primeiro aspecto que precisa ser considerado é o direito de acesso à saúde. Compreender que a população trans tem os mesmos direitos e que não é necessário ser um especialista em transgeneridade e transexualidade para acolher e cuidar de uma pessoa trans”, observa.

Débora, que também é colaboradora no ambulatório Sertrans, explicita outros pontos. “Atender pelo nome social, estar disponível para oferecer um momento de conforto e acolhimento no atendimento são pontos iniciais muito importantes”, reflete. “Existem especificidades na atenção, sobretudo relacionadas aos processos de afirmação de gênero e desse segmento. Mas em geral, muitas pessoas trans evitam buscar atendimento até para cuidados básicos de saúde por medo da discriminação e do preconceito”.