Pacientes do Hemoce passam a ter novo tratamento para hemofilia A

18 de outubro de 2021 - 12:02 # # # # #

Natássya Cybelly - Ascom Hemoce - Texto e fotos

O novo tratamento, o Emicizumabe, é uma medicação injetável via subcutânea e promete mais eficácia no organismo de algumas pessoas que apresentaram resistência às medicações anteriores

O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), passa a oferecer uma nova medicação que vai auxiliar no tratamento de pessoas com hemofilia A. A terapia vai melhorar a qualidade de vida dos pacientes, prevenindo hemorragias de pessoas com o distúrbio de forma mais rápida e eficaz.

Felipe Araújo, 19, descobriu que era portador de hemofilia aos cinco meses de idade. Morando em Iguatu, no Centro Sul cearense, todo o acompanhamento é feito no posto do Hemoce na cidade e no Hemocentro de Fortaleza. A descoberta da doença aconteceu quando um hematoma chamou a atenção da mãe do rapaz. “Ele tinha uma manchinha no peito que não desaparecia. Como desde novinho já tratava de uma anemia, eu aproveitei a consulta com o hematologista do Hemoce para investigar o que poderia ser. Os exames apontaram que ele tinha hemofilia A”, lembra Noélia Araújo.

A hemofilia é um distúrbio genético que impede a coagulação do sangue. Em algumas pessoas, a deficiência pode ser na proteína do fator de coagulação VIII ou IX. A ausência das proteínas é identificada como hemofilia A ou B, respectivamente. As pessoas com o diagnóstico sangram por mais tempo e podem ter hemorragias internas.

O novo tratamento, o Emicizumabe, é uma medicação injetável via subcutânea que imita a função do fator de coagulação VIII e promete mais eficácia no organismo de algumas pessoas que apresentaram resistência às medicações anteriores. O remédio passou a ser disponibilizado em setembro pelo Ministério da Saúde (MS) para os hemocentros do País.

A medicação vai beneficiar pessoas que já tentaram fazer o tratamento convencional (com aplicação intravenosa do fator VIII), mas apresentaram resistência mesmo com altas dosagens. “Alguns pacientes, ao receber o fator de coagulação deficiente, apresentam um anticorpo, como se fosse um tipo de defesa do organismo que destrói o fator VIII. São os chamados inibidores. Nestes casos, o tratamento não atinge o efeito esperado e eles precisam utilizar outros métodos alternativos para ativar a coagulação”, explica Luany Mesquita, diretora de Hematologia do equipamento estadual.

Foi o caso do Felipe que, por volta dos 12 anos de idade, não respondeu mais à aplicação do fator VIII convencional e apresentou os inibidores. Em decorrência disso, o jovem não tinha mais sucesso com o tratamento, mesmo com altas doses da medicação, precisando usar outras alternativas para controlar ou prevenir os sangramentos.

Ele chegava a aplicar até 60 seringas por semana para tentar prevenir os sangramentos. No novo tratamento, será necessário a aplicação de apenas uma seringa por semana. O remédio vai permitir a coagulação sem o bloqueio pelos inibidores, o que reduz ou pode até mesmo zerar as hemorragias, permitindo a prevenção dos sangramentos.

O Hemoce é o único centro de referência do Ceará para o atendimento das pessoas com hemofilia em todas as faixas etárias

Felipe já recebeu a primeira aplicação do Emicizumabe e, para este primeiro mês, as injeções serão aplicadas semanalmente no Hemoce da Capital. Posteriormente, ele e os demais pacientes irão receber o medicamento para fazer a aplicação em casa.

“Neste primeiro mês, a medicação será aplicada no Hemoce Fortaleza, para seguimento de eventos adversos e monitorização dos episódios hemorrágicos, além de treinar o paciente para que, futuramente, ele aplique sozinho no seu domicílio”, detalha Luany Mesquita.

Tratamento revolucionário

De acordo com a diretora de Hematologia do Hemoce, a medicação é um tratamento revolucionário. “É uma verdadeira revolução no tratamento de pacientes com hemofilia A com inibidores, pois esses pacientes costumam apresentar muitos sangramentos no decorrer do ano e, com essa medicação, os episódios reduzem consideravelmente, com alguns pacientes apresentando zero sangramento no decorrer do ano”, pontua.

Para Felipe, a novidade foi recebida com entusiasmo. “Eu achei maravilhoso. Será muito mais prático, mais fácil e mais eficiente”, avalia.

Hemoce é referência no tratamento no Ceará

O Hemoce é o único centro de referência do Ceará para o atendimento das pessoas com hemofilia em todas as faixas etárias. O hemocentro de Fortaleza coordena todo este trabalho e também supervisiona o tratamento nas unidades regionais (Sobral, Crato, Iguatu e Quixadá). São cerca de 540 pacientes com o distúrbio em todo o Estado.

O diagnóstico é feito por meio de análise laboratorial que verifica a dosagem do fator de coagulação no sangue. O Hemoce disponibiliza o exame para investigar a hemofilia. Em Fortaleza, o atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h.

Já a farmácia da unidade, que oferece o fator de coagulação, fica aberta 24h. Nas unidades, as pessoas com hemofilia são assistidas por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, farmacêuticos, bioquímicos, enfermeiros, fisioterapeutas, odontólogos, assistentes sociais e psicólogos.