HGF atende mais de 200 pessoas por mês com lúpus; pacientes precisam ser encaminhados pela Central de Regulação

9 de maio de 2022 - 15:24 # # # #

Felipe Martins - Ascom HGF Texto e Fotos

Tratamento depende do grau dos sintomas de cada paciente, podendo fazer uso de antibióticos, anti-inflamatórios e, em casos mais graves, de imunossupressores

“Começou a cair o cabelo, a quebrar as unhas e a aparecer manchas na minha pele”, recorda Juliana Ferreira, 33, sobre a primeira grande crise manifestada pelo lúpus, ainda antes de receber o diagnóstico. A analista de Licitação, que chegou a perder uma irmã para a doença, hoje faz parte dos mais de 200 pacientes atendidos mensalmente no Ambulatório de Lúpus do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

O lúpus é uma doença autoimune que leva o sistema imunológico a atacar os tecidos do próprio corpo, causando danos em diversos órgãos, como a pele, os rins, o coração, os pulmões e até o cérebro. “É como se o nosso sistema imune passasse a não mais tolerar esses componentes que são naturais nossos, produzindo anticorpos para atacar essas estruturas”, explica o chefe do serviço de Reumatologia do HGF, Walber Pinto Vieira. Os primeiros sinais da doença geralmente surgem com infecções nas articulações e no rosto, produzindo desde manchas avermelhadas até feridas mais profundas.

Predisposição genética

A manifestação do lúpus em Juliana e na irmã não é considerada eventual. Apesar de não ter uma causa definida, estudos apontam para uma predisposição genética. “Acredita-se que a doença se expressa em virtude da interação entre fatores genéticos e ambientais”, diz o reumatologista. “No que diz respeito aos fatores ambientais, são estudadas, principalmente, infecções virais e bacterianas como gatilhos para esses indivíduos predispostos. Mas nenhum estudo tem resultado absoluto”, pondera.

As causas são incertas, mas o perfil de paciente é bem definido. O lúpus acomete majoritariamente mulheres em idade fértil. “Uma estimativa de incidência de nove mulheres para um homem”, afirma Vieira. “É uma doença que causa um grande impacto na vida delas, porque muitas das medicações não podem ser usadas por gestantes ou mulheres que pretendem ter filhos. É preciso encontrar um momento certo, quando a doença está controlada por, no mínimo, seis meses”, ressalta.

O tratamento para quem tem o diagnóstico depende do grau dos sintomas. “Em casos mais leves, fazemos uso de antibióticos e anti-inflamatórios. Já nos casos mais graves, é preciso fazer uso de imunossupressores, medicações que diminuem a atividade do sistema imunológico”, detalha o médico.

Com a imunidade baixa, é preciso ter ainda mais cuidado com infecções. “Quando o paciente está em uso desses medicamentos, recomendamos evitar contato com pessoas doentes e indicamos o uso de máscara sempre”, explica.

Pessoas com o diagnóstico são encaminhadas ao HGF por meio da Central Estadual de Regulação. Entenda como funciona o fluxo para a assistência.

É possível viver bem com lúpus

“Mas não significa que o paciente vai precisar tomar remédio para o resto da vida. É possível, sim, viver bem com lúpus. Depende da aderência do paciente ao tratamento”, continua o especialista. “As medicações devem ser tomadas durante o período de maior atividade da doença até a estabilização. Depois disso, é importante continuar mantendo hábitos de vida saudáveis, como alimentação balanceada, atividade física regular e sono reparador”, lista.

Outro fator essencial para manter a doença controlada é evitar a exposição ao sol. “Isso é um dos principais gatilhos para ativar a doença, levando o paciente a ter mais inflamações. Por isso, recomendamos não apenas abusar do protetor solar, mas, realmente, evitar se expor ao sol”, orienta Vieira. Para repor os níveis de vitamina D, que tem forte ligação com o “banho de sol”, pacientes fazem uso de suplementação.

Juliana vem aprendendo dia a dia a conviver melhor com o lúpus. “Em 2014, quando minha irmã morreu, éramos ignorantes quanto à doença e só descobrimos quando já estava bem avançada. Hoje, meu caso é diferente. Eu já a conheço e tomo todos os cuidados”, conta.

Dia Mundial do Lúpus

O Dia Mundial do Lúpus é lembrado nesta terça-feira (10). A data é uma iniciativa da Federação Mundial de Lúpus, que reúne organizações de pacientes lúpicos de todos os continentes, para chamar a atenção para o impacto da doença sobre a população acometida e a necessidade em diagnosticá-la e tratá-la precocemente, além de incentivar o aumento de pesquisas sobre suas causas e cura.