Comitiva visita unidades prisionais do Ceará para investimentos e geração de empregos aos internos

19 de junho de 2024 - 10:43 # # # #

Natasha Ribeiro Bezerra - Ascom SAP - Texto
Pablo Pedraza - SAP - Fotos

A Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) recebeu uma comitiva empresarial interessada em instalar empresas dentro das unidades prisionais do Ceará e contratar mão de obra qualificada dos internos e internas do sistema prisional. A visita ocorreu na última segunda-feira (17).

Os empresários foram recebidos pelo secretário executivo da SAP, Rafael Beserra, que apresentou o aspecto organizacional da Secretaria e o modelo de gerenciamento das unidades prisionais. Na ocasião, os representantes visitaram a Unidade Prisional de Ensino, Capacitação e Trabalho de Itaitinga (UPECT-Itaitinga) e a Unidade Prisional Vasco Damasceno Weyne (UP-Itaitinga 5).

A comitiva conheceu as empresas que fazem parte do projeto “Cadeias Produtivas”, que oportuniza capacitação profissional e trabalho para as pessoas privadas de liberdade. Além disso, também foi apresentada a rotina de trabalho implementada com os policiais penais e os projetos complementares de reintegração social dos internos.

Rafael Beserra falou da importância da visita dos empresários ao sistema prisional. “A perspectiva da visita de hoje é a melhor possível. O objetivo é fazer com que a gente consiga convencer a iniciativa privada a acreditar que a sua linha de produção pode ser instalada dentro de uma unidade prisional, acreditar na transformação dessa pessoa, acreditar na capacidade produtiva do sistema e, mais do que isso, é fazer com que essas pessoas que estão dentro do sistema possam ser transformadas através do trabalho, através da oportunidade, através da dignidade de um trabalho honesto, conforme a premissa da Secretaria, que é a capacitação, educação e trabalho”, disse.

A empresária e dona da Soltex Confecções, Patrícia Quintela, falou sobre a possibilidade da instalação da sua empresa no sistema prisional. “Não é de negar que, como mulher, ingressar no sistema penitenciário e ainda mais em uma unidade masculina, me deixou um pouco apreensiva. Mas a partir do momento que foi apresentado os resultados e dados comprovados, você fica mais seguro. Me senti acolhida e protegida. Nada se compara a colocar a mão na massa e ver com seus próprios olhos o que está sendo feito. Não é aquilo que os filmes, as séries e a mídia negativa propaga. Muito diferente disso. Eu sou do chão de fábrica. Eu acredito muito no poder da costura, principalmente no poder da educação e do trabalho”, comentou.

Patrícia reforçou ainda o lema de sua empresa, que é transformar vidas através da costura. “Sou um exemplo de transformação, a minha vida mudou. E isso não é apenas um discurso bonito. Às vezes, essas pessoas não tiveram oportunidade. E hoje, se eu tô aqui como empresária, um dia eu também já fui auxiliar de produção. Alguém me ensinou alguma coisa pra hoje eu poder estar aqui. Então vai muito da vontade de cada um. Eu estou muito impressionada com o nível de qualidade e devo dizer que aqui a gente escuta o barulho das máquinas, porque uma produção de verdade a gente reconhece pelo barulho das máquinas. Quem é empresário do ramo da costura vai entender o que eu estou dizendo”, concluiu a empresária.

A colaboradora da Escola de Conhecimento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Cíntia Paula, afirmou ter ficado impactada com a estrutura e oportunidades no sistema prisional. “Estou encantada. Já tinha visitado o presídio feminino há muito tempo atrás, na faculdade ainda, mas essa experiência de hoje foi bem impactante. Nós podemos entrar como um complemento das atividades e oportunidades que os ressocializados vão poder ter, pois como tem a questão da limitação de capacidade para as vagas dentro das indústrias que vão entrar aqui nos espaços, o empreendedorismo entra como uma oportunidade a mais para as pessoas que querem ter o próprio negócio. Tenho certeza que iremos somar nesse trabalho e vai ser um resultado bem bacana em parceria”, disse.

O empresário da empresa Suprema Caju, Victor Torquato, comentou sobre a visita. “A possibilidade das empresas se instalarem no sistema penitenciário para a captação de mão de obra do preso é uma grande oportunidade. Até para a performance da empresa, a questão de produtividade e também no trabalho social. Um interno hoje, daqui a pouco, estará lá fora e junto conosco. E nada mais justo que a gente ajudar no processo de ressocialização dando capacitação e trabalho”, conclui.

Investimento privado, capacitação e ressocialização

A visita dos empresários destaca a importância crescente do investimento privado como uma ferramenta eficaz na ressocialização dos internos. A atual disciplina e segurança implementadas permitem que os empresários direcionem seus recursos e projetos dentro dos presídios do Estado, gerando emprego, renda, remição de pena e ressocialização real entre os internos.

Com mais de 23 mil certificações em diversas áreas profissionais, a parceria entre SAP e Senai transformou a vida de milhares de internos e internas, abriu novas possibilidades e proporcionou o firmamento de parcerias com a iniciativa privada.

A oportunidade de trabalho durante o período de encarceramento desempenha um papel crucial na redução da reincidência criminal. Ao desenvolver habilidades profissionais e manter uma ocupação estável, os internos reduzem significativamente a probabilidade de cometer novos crimes após serem reintegrados à sociedade. Esse processo de ressocialização não apenas promove a segurança pública, mas também facilita a reinserção social bem-sucedida dos indivíduos.

Exemplos de iniciativas bem-sucedidas

Empresas como W.Jota e SkyBeach são exemplos notáveis de sucesso operando dentro do sistema penitenciário cearense. A W.Jota, situada no complexo penitenciário de Itaitinga II, na Unidade Prisional de Ensino, Capacitação e Trabalho de Itaitinga (UPECT-Itaitinga), destaca-se pelo seu amplo espaço de produção de 1000 metros quadrados. A empresa emprega 70 internos, divididos entre a gráfica e a confecção, além de contar com o apoio de 4 colaboradoras.

Além da fabricação de imãs de geladeira, sacolas, embalagens e materiais promocionais, a W.Jota expandiu suas operações para incluir uma oficina de costura. Esta expansão não apenas diversifica as atividades dos internos, mas também proporciona oportunidades adicionais de aprendizado e desenvolvimento de habilidades técnicas. Com um modelo de trabalho supervisionado e treinamento contínuo, a empresa tem conseguido aumentar sua capacidade produtiva e oferecer produtos de qualidade reconhecida no mercado nacional.

O gerente comercial e sócio da W.Jota, Rafael Pinto, fala sobre o sucesso da empresa ao ingressar no projeto. “A W.Jota já está nesse projeto há mais de três anos e desde o início da operação, a gente teve a oportunidade de captar novos negócios dentro do sistema prisional. Atualmente a empresa tem capacidade produtiva e a necessidade de novas captações de funcionários para que seja expandido as oportunidades. A confiança é visual e com certeza eles ficaram impactados como eu fui impactado há três anos atrás. É preciso vivenciar essa experiência para criar uma admiração real desse projeto. Depois de um tempo é gratificante visualizar no semblante dos internos a alegria e orgulho de estarem trabalhando e se tornando pessoas melhores, além de profissionais capacitados”, afirma.

Por sua vez, a SkyBeach, especializada em moda praia, opera há 4 anos no complexo penitenciário Itaitinga I, na Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim (UP-Sobreira Amorim). Com uma equipe de 40 internos e 4 funcionários dedicados à supervisão, controle de qualidade e planejamento, a empresa expandiu suas atividades e pretende aumentar seu quadro de funcionários. Graças ao treinamento contínuo e à ampliação da mão de obra, os internos também realizam tarefas como embalagem, etiquetagem e revisão, contribuindo para a produção diária de aproximadamente 500 peças.

A empresária e dona da SkyBeach, Josefa Gecilma, comemora o sucesso da empresa. “A nossa iniciativa “Transformando Vidas Através da Oportunidade e Resgate”, foi inscrita no Innovare, o maior prêmio da cidadania e justiça do Brasil, e recentemente fomos destaque como case de sucesso 2024 pela participação nos projetos do Sebrae e governo federal Ali e Brasil Mais. Vejo isso como resultado da nossa participação no projeto “Cadeias Produtivas”. Além disso, também recebemos o selo resgata, que é um incentivo às práticas de responsabilidade social e sustentabilidade às organizações que se propõem a assumir uma postura socialmente responsável em relação à segurança pública e justiça social.

Ao longo desse período conseguimos reduzir custos e consequentemente tivemos um aumento nos lucros. Outro objetivo é promover a reintegração social e o crescimento profissional dos internos, por meio da capacitação e emprego. Esse projeto vai além do resgate individual. Ela cria uma mudança sistêmica, oferecendo aos internos a chance de se tornarem membros produtivos da sociedade. Ao proporcionar crescimento profissional e a reintegração social, a iniciativa traz esperança e dignidade para aqueles que buscam uma segunda chance. Ao oferecer a oportunidade de estarmos inserido neste projeto transformador com união e trabalho é possível romper as barreiras e estigmas associados ao sistema prisional. Ao fornecer oportunidades de trabalho e crescimento, essa prática contundente está ajudando a construir um futuro mais justo e inclusivo para todos. Ao oferecer aos internos uma chance de recomeço sob uma nova perspectiva, a prática ilumina o caminho para uma sociedade mais justa, compassiva e solidária”, afirma.

Esses casos exemplificam como iniciativas empreendedoras dentro do sistema prisional não só oferecem oportunidades de emprego, mas também são fundamentais para a reinserção social e o desenvolvimento pessoal dos detentos.

Cadeias Produtivas

A instalação de empresas dentro das unidades prisionais faz parte do projeto Cadeias Produtivas. Em 2 anos, o programa já recebeu 8 empresas. As empresas instaladas são: Ypióca (confecção de camisas de palha, usadas para revestir a garrafa da cachaça), Prot Servis (confecção de roupas profissionais – fardamentos), Sky Beach (confecção de roupas), Mara Top London (confecção moda feminina), W.Jota Gráfica e Editora (prestação de serviços em gráfica), Lupo (confecção de peças de vestuário), ISM e CWM (Alimentação).

O objetivo é oportunizar qualificação e trabalho para todos os internos que cumpram pena dentro do sistema penal. Atualmente, 500 internos estão trabalhando nas empresas instaladas. Neste projeto, os internos trabalham 40 horas semanais e recebem remição de pena a cada três dias trabalhados. A metade do salário é enviada a família, 25% entra como depósito judicial para benefício futuro do interno em liberdade e os outros 25% retornam ao sistema prisional para investimento em melhoria.

Contato

Empresários ou industriais interessados podem entrar em contato com a Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso no telefone 3101-7714 ou por meio  do e-mail cispe@sap.ce.gov.br