Funcap apoia criação de equipamento para aplicação de anestesia odontológica sem dor

13 de maio de 2014 - 11:23

Como anestesiar pacientes sem que eles sintam dor? A pergunta de José Augusto para o filho José Jeová Siebra Moreira Neto, ambos dentistas, serviu para que Jeová, em parceria com o irmão Augusto Darwin, começasse a pensar em como tornar possível uma solução para a questão. Jeová é cirurgião dentista, mestre e doutor em Odontopediatria pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp –Araraquara), e professor do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Augusto também é cirurgião dentista, com mestrado e doutorando em Odontologia pela UFC. Ambos são sócios de uma Clínica Odontológica.

 

Jeová e Augusto tiveram o projeto “Dispositivo para o controle da dor durante anestesia local em odontologia” aprovado no edital do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE Integração) – Nº 10/2010, da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), em parceria com a Agência Brasileira da Inovação (Finep). O objetivo foi desenvolver um dispositivo para evitar a sensação dolorosa durante a realização de anestesia odontológica, além de realizar testes clínicos necessário para a efetivação do produto.

 

O projeto “Dispositivo para o controle da dor durante anestesia local em odontologia” recebeu da Funcap e da Finep R$ 193.820,00, enquanto a Clínica Odontológica investiu uma contrapartida de R$ 84.480,00. Para o empresário, o Pappe Integração tornou possível transformar uma ideia inovadora em realidade.

 

“Estímulos governamentais, na fase em que estamos, são fundamentais para criar uma atmosfera de estímulo à Inovação em nosso estado. Acredito que nosso povo, além de trabalhador, é criativo. O que precisamos é de estímulos como o Pappe para que possamos mudar a forma de pensar e de fazer pesquisa. Em vez de testar materiais e produtos importados, devemos desenvolver os nossos próprios equipamentos, materiais ajustados à nossa realidade, produtos acessíveis, entre outros”, destaca o empresário.

 

E as inovações da Clínica Odontológica não param. O projeto “Desenvolvimento de dispositivo para anestesia odontológica automático controlado por computador”, foi aprovado no edital do Pappe 06/2013, sendo um aprimoramento do projeto anterior.

 

O projeto de 2010 apresentava duas tecnologias inovadoras: controle da punção inicial da agulha e vibração circunscrita dos tecidos. O novo projeto desenvolverá outras duas: identificação da pressão da anestesia em tempo real, já existente em um produto estadunidense, necessária para um tipo de técnica anestésica, e realização da técnica de anestesia de forma automática. “Ou seja, o cirurgião dentista irá apenas identificar a região anatômica e os procedimentos de inserção da agulha nos tecidos e liberação do líquido anestésico serão controlados por computador. Não existe produto com estas características no mercado mundial” explica Jeová.

 

Apesar do sucesso, a tecnologia ainda não está disponível no mercado. O protótipo do projeto aprovado no edital do Pappe 06/2013 deverá estar pronto em 14 meses. Entretanto, várias etapas precisam ser vencidas para o produto ser disponibilizado. “Inicialmente, precisamos da aprovação na Anvisa, o que leva um tempo considerável. Após a aprovação, precisamos fazer parcerias para conseguirmos capital para a produção em escala do produto. Assim, em três anos esperamos lançar um produto que seja acessível para os cirurgiões dentistas e uma agradável surpresa para os pacientes”, informa.

 

O produto

 

Para alcançar o objetivo, o dispositivo deveria apresentar as seguintes características: controle de punção da agulha; controle de injeção do líquido anestésico; estímulos vibratórios e desenho externo modificado. “Existem vários trabalhos científicos que afirmam que a anestesia é o principal motivo de medo e ansiedade sentido pelos pacientes. Estes sentimentos têm relação direta com a experiência sentida por eles durante a realização deste procedimento, ou seja, a dor”, explica Jeová.

 

De acordo com Jeová, a condição psicológica influencia o limiar de dor do paciente. Desta forma, o medo, a ansiedade e o estresse influenciam diretamente o modo como o paciente vai responder aos estímulos operatórios. Segundo o professor da UFC, pacientes com medo ou ansiedade terão um menor limiar de dor. “Assim, para o tratamento de pacientes com um alto grau de ansiedade, é fundamental que o profissional, por meio de técnicas psicológicas, diminua a ansiedade, permitindo uma experiência a qual chamamos de Odontologia minimamente desconfortável”, informa.

 

O desenvolvimento foi realizado em duas etapas: a elaboração do produto e seus testes clínicos. Para o protótipo ficar pronto, a equipe precisou desenvolver o dispositivo do controle de punção da agulha, mecanismos para causar estímulos vibratórios na mucosa a ser anestesiada e um mecanismo de injeção do líquido anestésico controlado por computador, além do design. Os testes clínicos foram realizados em cooperação com o Departamento de Clínica Odontológica da UFC, assim como a definição das características do produto foi realizada em conjunto com professores da universidade.

 

O dispositivo entra em contato com a mucosa causando uma pressão negativa de forma que a mucosa é tensionada de encontro à agulha, sendo limitada por um obstáculo, impedindo uma penetração maior que o bisel da agulha. Um micromotor emite vibrações para que a região a ser anestesiada sinta esta vibração e impeça a passagem dos estímulos dolorosos da punção da agulha. De acordo com Jeová, os membros da equipe estão empolgados com os resultados até o momento, citando o fato de quatro dissertações de mestrado terem avaliado alguns aspectos do dispositivo, classificando-o como superior em relação à seringa convencional.

 

“Para citar um dado técnico, 100% dos pacientes durante a anestesia com o dispositivo estavam confortáveis a partir da análise de uma escala chamada SOM (sons, olhos e movimentos). Quando a mesma escala foi aplicada com a anestesia convencional, 40% dos pacientes estavam confortáveis, 40% com desconforto leve e 20% sentiram dor. Além disto, ao final da pesquisa, mais de 75% das crianças preferiram ser anestesiada com o nosso dispositivo”, comemora o professor da UFC.

 

De acordo com pesquisas realizadas pela equipe desenvolvedora, a maioria das crianças não tem medo de ir ao consultório odontológico, desde que não tenham passado por uma experiência negativa. E por experiência negativa foi englobado qualquer tipo de desconforto, como esperar muito pela consulta e longas sessões, por exemplo.

 

13.05.2014

Assessoria de Comunicação da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (Funcap)

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