Museu do Ceará: exposição celebra o centenário da artista cearense Ciça do Barro Cru

12 de dezembro de 2015 - 15:48

“Ciça e Maria: o barro das maravilhas”. Este é o nome que batiza a exposição comemorativa do centenário de nascimento de uma das maiores artistas populares do Brasil – Dona Ciça do Barro Cru, cuja abertura acontece no dia 15 de dezembro, às 19h, no Museu do Ceará, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará. O acesso do público é gratuito.

Com curadoria de Bárbara Cariry e coordenação geral de Diego Pontes, sócios da produtora cultural O Mercador, a exposição contará com mais de cem peças, organizada em três segmentos, que dialogam entre si. Tendo como ponto de partida os cem anos da artista caririense, a mostra tece elos que transcendem o tempo e as linguagens.

O primeiro viés será uma exposição inédita, com obras de Maria do Barro, filha de Ciça, que após um hiato em sua produção, retorna às artes, com sua técnica de traços fortes e marcantes – herança estética da mãe.

Além disso, a cena contará com um conjunto de artistas plásticos de várias gerações, que estão produzindo obras especialmente para a exposição, em uma homenagem que revisita e dialoga com o trabalho de Ciça. Entre os nomes estão: Rosemberg Cariry, assinando uma instalação, com a única peça autoral de Ciça do Barro Cru presente na exposição; além de Descartes Gadelha, Zé Tarcísio, Liara Leite, Sérgio Silveira, Bosco Lisboa, Uinverso (Priscila e Nadiuska Furtado), Pedro Augusto, Leandro Alves, Sérgio Pinheiro, Nilo de Juazeiro e Stênio Diniz.

Compondo o tripé sobre o qual foi arquitetada a exposição, o público poderá conferir ainda um ensaio fotográfico, realizado pelo fotógrafo paulista Ricardo Tilkian, que nos Anos 70 fez, em Juazeiro, um registro único da obra de Ciça. As fotos serão expostas pela primeira vez no Ceará.

Para a curadora da exposição, Bárbara Cariry, a obra da artista configura-se como uma metáfora do tempo e da impermanência, traduzida na técnica rara de modelar o barro sem submetê-lo a cozimento. “Os primeiros contatos com a arte de Ciça eu tive ainda na infância, por meio das histórias que meu pai, que é seu conterrâneo, me contava. Depois, vieram outras leituras pelo cinema e pela fotografia. Até que tive o privilégio de ver e tocar em uma peça original de Ciça, já no terceiro milênio. Essa obra emocionou-me pela sua beleza, delicadeza das curvas, clareza das cores e, sobretudo, pela imantação do barro de uma magia que resistiu aos anos e à brutalidade do mundo”, frisa.

Diego Pontes, diretor da O Mercador e coordenador geral da exposição, afirma que o objetivo da iniciativa é jogar luzes sobre a arte de Ciça e Maria do Barro, ainda pouco reconhecida pelos cearenses. “Ciça do Barro Cru é uma gigante das artes brasileiras, que queremos fortalecer a sua lembrança. A exposição só se tornou viável porque foi reencontrada Maria das Dores – a filha de Ciça do Barro Cru, uma artista tão importante quanto a mãe, herdeira das técnicas da modelagem e do talento. Com essa exposição, devolvemos Ciça e Maria ao Ceará”, explica.

A exposição traz em seu conceito um ato de afirmação estética, que quebra a dicotomia entre tradicional e contemporâneo, buscando também apresentar-se como um discurso político, no sentido de reconhecer duas mulheres artistas, anunciando suas grandezas e seus talentos, de modo a contribuir para a superação de visões estereotipadas do que sejam as artes do povo.

Sobre Ciça do Barro Cru

14 de março de 1915. Tempo que o chão rachou e a dificuldade da vida sertaneja gritou mais alto. Nascia Ciça Maria de Araújo, no município do Crato (CE). Pobre e cabocla (de origem indígena) virou “Ciça do Barro Cru”, após conhecer o marido Manoel Faustino de Sena, que a iniciou na arte de modelar a terra. Como criatura, superou seu criador em técnica e criatividade. Mulher do povo que criou uma arte de grande expressividade, importância social, antropológica e estética, capaz de abrir um campo vasto de significados simbólicos.

Fazia arte do que vivia. E vivia da arte nascida de suas mãos, a qual espalhava sobre uma toalha no chão das feiras. Para atrair a atenção dos passantes, movimentava suas peças, criando roteiros, como em um teatro que dava vida ao barro. E assim, através dela, muitas crianças aprendiam sobre as manifestações da cultura do povo e os seus significados mais profundos.

Ciça do Barro Cru pertence ao Olimpo da arte popular, que ofereceu ao Brasil nomes da grandeza de Aleijadinho, Patativa do Assaré, Cartola, João do Vale, Cego Aderaldo, Mestre Vitalino, Nino, Mestre Noza, entre centenas de outros que compõem os tesouros humanos e a generosa diversidade cultural do nosso país.

A artista cearense é uma expressão não apenas da chamada arte regional, mas também da nossa universalidade e contemporaneidade. Reconhecida com mostras em cidades do Brasil e do mundo, tendo obras preservadas por importantes museus e coleções particulares – estampadas em relevantes livros de arte.

Morreu em 1994, mas deixou a filha Maria das Dores de Araújo Bernardo (conhecida como Maria do Barro), como sua herdeira da arte de fazer maravilhas com o barro.

Sobre a exposição

Maria do Barro – artista popular e filha de Ciça do Barro Cru

“Receber esse convite para fazer parte de uma exposição comemorativa aos cem anos da minha mãe, apresentando também minha arte, foi uma grande emoção. Estou muito ansiosa pela chegada desse dia. Fiz uma série de peças especiais para este momento. Quando comecei a trabalhar com minha mãe, eu tinha sete anos. Tenho muitas lembranças de seus ensinamentos e nossas andanças pelas feiras do Crato, Barbalha e Juazeiro, onde vendíamos nosso barro. Com a morte dela, eu parei. Mas, agora resolvi retomar este trabalho, também como uma forma de homenageá-la. Porque o barro representa tudo de bom no mundo para mim”.

Rosemberg Cariry – cineasta e pesquisador

“O centenário de nascimento de uma das maiores artistas populares do Brasil – Dona Ciça do Barro Cru não pode passar em branco. É urgente e simbolicamente reparadora uma homenagem a essa mulher, que tão bem representou a criatividade e o espírito de luta do povo brasileiro. Muitos meninas e meninos da minha e de outras gerações aprenderam com Ciça, seus bonecos e suas histórias, as riquezas das manifestações culturais mais diversas da região do Cariri. A tradição do barro cru, herdada dos antigos tapuias, não morreu; floresce em barro novo, explode em cores, dores e alegrias contemporâneas; renasce e se se vivifica pela mãos mágicas de Maria, filha e herdeira da arte de Ciça – uma artista da qual o Ceará deve se orgulhar de ser a terra-mãe”.

Juraci Cavalcante – socióloga

“A arte de Maria do Barro é feita de pura magia de formas, enredos e cores. Lembra a de sua mãe, mas exibe um toque de seu, traduzido em modo próprio de perceber o mundo. Esta exposição Ciça e Maria – O Barro das Maravilhas comemora, sobretudo, isto! A retomada da arte de Dona Ciça em Maria, uma arte e uma tradição das quais o Cariri, o Ceará e o Nordeste nunca poderão vir a se esquecer, porque se trata de uma arte relicário, preservada por uma ancestralidade remota e nômade, que aponta para o futuro. Uma arte potente e frágil, como afinal o é a própria vida que retrata”.

Serviço

Exposição – Ciça e Maria: o barro das Maravilhas

Abertura: 15 de dezembro, às 19h;

Visitação: até 13 de fevereiro (terça a sábado, das 9h às 17h);

Local: Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51, Centro – Fortaleza);

Mais informações: (85) 98169.3003 / 3101.2610

Foto: Ricardo Tilkian

 

12.12.2015

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