CE Pacífico: conheça o engajamento cultural do Vicente Pinzon

7 de março de 2016 - 16:05

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 O encontro dos morros do Vicente Pinzon convergem para a mistura de ideias e ações sociais que valorizam a autoestima da comunidade

 

A cultura de uma localidade, mesmo que situada na miscelânea de referências de uma metrópole, pode ser percebida por suas características marcantes, expressões, costumes e o modo de convivência rotineiros com os quais podem se relacionar. Não é diferente quando se adentra pelas ruas e ladeiras do Vicente Pinzon. Sua cultura local, além de percebida, é compreendida quando se vê apropriada pelos seus moradores, gerando empatia e vontade de conhecer cada espaço de suas expressões.

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Desde a arquitetura das quitandas em suas feiras livres às linhas, desenhos e cores expostas pelas paredes das casas, o encontro dos morros do território convergem para a mistura de ideias e ações sociais que valorizam a autoestima da comunidade. Entre as ações exitosas que existem no bairro, está a agência de notícias online “Mucuripe News”. O noticiário, que existe desde 2012, é o principal disseminador de informações do grande Mucuripe e adjacências. A ideia é projetar os bairros dando ainda mais acesso à informação e formando uma consciência cidadã, política, econômica e cultural que valorize e represente a comunidade. Assim, desenvolve e dissemina os seus acontecimentos e práticas sociais e culturais.

Segundo Adrízio Oliveira, idealizador e diretor do projeto, a ideia do site e suas plataformas (perfis e canais nas mídias sociais) é manter os moradores informados sobre o que acontece na região, focando na educação e no desenvolvimento sociocultural local. “Somos disseminadores e incentivadores das notícias locais. Falamos dos problemas oferecendo as soluções, além de mostrar o que está sendo feito. Por exemplo, conseguimos trazer diversos cursos gratuitos para os moradores e divulgar para todos da comunidade. Muitos nem sabiam da existência dos cursos”, diz, orgulhoso.

Morador da região desde que nasceu, atualmente com 31 anos, Adrízio sabe a importância que é levar conteúdo responsável para a autoestima dos moradores. “Estamos quebrando paradigmas e tirando estigmas que muitos têm, através das mídias de massa, com o nosso bairro. Temos muitos artistas, artesãos, carpinteiros, trabalhadores em geral, que nos dão orgulho a cada dia que saem das suas casas e cantam nosso bairro com bastante orgulho. Há talentos e pessoas que querem a mudança. São pessoas que querem mostrar do que o bairro é feito: de muito acolhimento, amor e trabalho”, destaca.

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Um produto do morro que ecoa a voz da comunidade

Um dos artistas que cantam o orgulho do bairro é um intérprete, autor e ativista cultural que leva, inclusive, a cultura do morro em seu sobrenome. O rapper autodenominado Erivan “Produtos do Morro”, de 33 anos, é natural da cidade de Ipaumirim, a 420 km da Capital. Influenciado por tios repentistas, o menino Erivan sempre achou fascinante a arte de se expressar através das rimas. Aos 12 anos, gravou sua primeira fita demo e, aos 15 anos, já integrava um dos grupos mais populares da cena rap cearense, o “Conscientes do Sistema”.

Grande incentivador da cultura local, Erivan desenvolveu, além de seu trabalho autoral, um projeto de fomento musical através do seu estúdio. Com um seu trabalho de produção musical, o artista valoriza universo do morro, sem perder de vista as influências regionais do repente, emboladores e as histórias dos pescadores e romeiros. “Comecei gravando, gratuitamente, todos da comunidade que desejam ter sua voz ouvida – e ainda gravo quando percebemos que o artista não tem condições e o material é realmente bacana. Atualmente, o estúdio ‘Produtos do Morro’ recebe pessoas de toda a Capital, além de cidades do Interior, do Brasil e do mundo. Orgulho-me de saber que somos referência no que fazemos”, confessa.

 MVS8979 webA vasta experiência, a proximidade com os temas e personagens ícones com quem convive, fazem de Erivan “Produtos do Morro” uma expressão viva dos anseios de um povo que é ouvido de forma real e positiva. “São pessoas que merecem ter suas histórias contadas. E não há forma mais intensa e penetrante de ser ouvido que não pela música. Eu me sinto cada vez mais próximo de todos do Vicente Pinzon. A cena do hip hop é fruto dos morros e aqui não é diferente”, explica.

Em uma de suas letras de sua autoria, Erivan canta: “De cabeça erguida, bote fé na sua vida. Ações e informações economizam tostões. Acredite, bote fé, guerreiro! A tua boa cabeça vale mais do que dinheiro”. Em síntese, o produtor é a arte traduzida através de um homem simples, humilde e com os “pés no chão” – os mesmos que já andanram pelas ruas de Brooklyn, em Nova Iorque, ou em Jyväskylä, na Finlândia, por onde já produziu e cantou – que inspira e traz a motivação social para muitos jovens da região. A prova de que tudo é possível através das batidas e rimas música.

Um grito africano de disseminação da paz e sonhos
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A mudança de estilo de vida e propagação da paz pela música também é percebida quando ouvimos cada batuque do projeto social “Kebra Mola”. Criado pelo músico e mestre percussivo Júnior Brasil há 17 anos, o projeto foi idealizado com a proposta de ensinar e disseminar a cultura afro-brasileira para os jovens do grande Mucuripe. O objetivo é afastar da ociosidade ou qualquer atividade que não contribua com o desenvolvimento sócio cidadão dos jovens do bairro.

 

Atualmente, o “Kebra Mola” tem cadastradas cerca de 180 crianças, jovens e adultos entre 10 e 35 anos, formando ao todo mais de quatro mil alunos através das artes (teatro, dança e música). Segundo Júnior Brasil, a ação social foi logo abraçada pela comunidade. “O projeto tem um impacto muito forte, como um grito. Um grito de cultura, de disseminação da paz e de sonhos – idealizados e alcançados. Quando cheguei no bairro, vi muitas crianças ociosas e em situação de risco educacional. Aos poucos, fomos ganhando o espaço, o respeito das famílias e a credibilidade dos jovens. Atualmente, o projeto tem mudado a vida e a rotina dessas crianças. Um orgulho pra mim”.

 MVS8853 webRealizando shows e apresentações em eventos, o grupo realiza também oficinas, palestras sobre arte e música africanas e assessoria na criação dos grupos afro-brasileiros, destacando-se na cena musical do Estado com títulos musicais importantes como “Projeto Revelação Percussivo da Feira da Música”, expoente do ritmo samba-reggae do Ceará e representante estadual em festivais de música étnica no Nordeste.

Entre os diversos alunos que tiveram a vida modificada através do projeto está o professor de percussão Luís Carlos Costa, de 30 anos. Há oito anos no “Kebra Mola”, ele conta que foi seduzido diversas vezes para entrar na criminalidade. “Foi o destino de muitos dos meus amigos. Se não fossem pelos estudos, dificilmente você não entraria no mundo da criminalidade. Por diversas vezes, me chamavam para trabalhar com coisas ilícitas, mas fui sempre perseverante. Assim que vi o projeto ‘Kebra Mola’, a forma como se expressavam – não só pelo som dos atabaques e tambores, mas pelas cores, gingado e atitude – foi logo me seduzindo. Hoje, sou o que sou e agradeço sempre ao Júnior Brasil por fazer parte do projeto e da história do Kebra Mola”.

Personagens como Luís Costa; a aluna Suelen Lima, de 14 anos, forte e desenvolta ao batucar os tambores; ou mesmo o jovem Gabriel Victor Lima, de 13 anos, que, com dois anos e meio no projeto, já repassa ensinamentos como veterano, têm algo em comum: a força da presença que os fazem serem vistos, ouvidos e percebidos, dando o recado de que são protagonistas e não coadjuvantes. São protagonistas do seu presente, com sonhos altos para o futuro.

Confira o conteúdo completo sobre o Vicente Pinzon

Mais informações:

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Erivan “Produtos do Morro”
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07.03.2016

Fotos: José Wagner e Marcos Studart / Governo do Ceará

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