#CearádeAtitude: a dedicação do cearense que trabalha na preservação do Parque do Cocó há 26 anos

23 de junho de 2017 - 13:32 #

Em junho, mês em que o Parque Estadual do Cocó foi regulamentado, a série especial Ceará de Atitude conta a história do tenente Araújo, que há 26 anos dedica-se à preservação do parque

Três vezes por semana, moradores de Fortaleza e visitantes têm a oportunidade de conhecer o rio Cocó no pequeno barco “Marta”. Às quartas-feiras, o privilégio é dos estudantes da rede pública. O responsável por isso é Francisco de Assis Araújo Garcia, que há quase 26 dos seus 53 anos de vida trabalha no Parque do Cocó. E ele não pensa em parar. Vai disponibilizar um caiaque para quem quiser fazer o passeio por conta própria. E o valor do aluguel será simbólico: basta retirar lixo do rio, contribuindo para a preservação da área.

A rotina no parque começou em 1991, na fundação do Pelotão Ecológico, hoje Batalhão de Polícia Militar Ambiental, atuando no policiamento do bosque, que também inclui o rio. “Vi muita coisa acontecer aqui. Nas primeiras patrulhas, só víamos caçadores, pescadores, pessoas retirando mangue para construir casa na favela. Fomos conscientizando e isso vem melhorando aos poucos com o passar dos anos”, conta tenente Araújo, como é conhecido no local.

Atualmente na reserva, aceitou o convite da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) em 2015 para auxiliar na manutenção do rio. Partindo dele mesmo, fez um acordo com o secretário Artur Bruno para um projeto de educação ambiental, fazendo o passeio de barco pelo trecho do rio que compreende as avenidas Sebastião de Abreu e Engenheiro Santana Júnior. O objetivo para ele é bem claro: “Queria trazer alunos de escolas públicas para eles verem que o rio tem vida”.

“Saber que os jovens estão conhecendo, vivenciando, eles vão ajudar o rio a sobreviver, pois sozinho ele não consegue. A carga de pessoas atirando todo tipo de poluição é muito grande. Cada grupo de alunos, as pessoas que vêm nos fins de semana, conversam comigo, ouvem as histórias. As crianças gostam quando veem aves, o mangue vermelho, sentem a natureza pulsando. Tudo está vivo. Para mim, isso é ter certeza que tudo vai mudar. Ele será preservado”, disse o Tenente Araújo.

Passeio de barco no Rio Cocó

O passeio é realizado todas às sextas, sábados e domingo, pelo preço de R$ 5 (meia) e R$ 10 (inteira), valor utilizando na manutenção do próprio barco. Nas quartas-feiras, o tour pelo rio é reservado para crianças de escolas públicas.

Para Araújo, o serviço nunca foi visto como um trabalho. “Para mim é uma coisa natural. Quando você está próximo da natureza, você está perto de Deus. Aqui eu não faço nenhum sacrifício, a coisa mais natural do mundo é passar meus dias aqui. Vou em casa só dormir. Meu hobby é ficar aqui, cuidar da manutenção do Cocó. Se passo dois dias longe já fico com saudade e volto pra cá. E assim vou ficar enquanto o cérebro e as pernas me permitirem raciocinar e andar”.

Regulamentação do Cocó

No último dia 4 de junho, o governador Camilo Santana concretizou o que era um sonho de 40 anos: a regulamentação do Parque do Cocó. A assinatura do decreto que tornou o parque uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. Com a demarcação, 1.571 hectares tornaram-se área de preservação do meio ambiente, indicando, além disso, que o espaço deve ser de posse e domínio público.

A atual área é cerca de 15 vezes maior que o embrião do bosque, o Adahil Barreto — denominado parque em 1983 após decreto municipal, com área de 10 hectares; 7 vezes maior que o Parque Ibirapuera, em São Paulo, e 4,5 vezes mais extenso que o Central Park, em Nova Iorque.

E, em pouco tempo, o tenente Araújo relata que o ato já reativou o interesse da população pelo Cocó. “Só com a assinatura e a divulgação, recebi pessoas que moravam em Fortaleza e não conheciam o parque. E quando vêm, se apaixonam como eu e não conseguem mais sair. As crianças fazem o passeio e não querem sair do barco, querem repetir”.

Para Araújo, trata-se do início de novos tempos para parque. “Para as pessoas que moram na cidade, é um sonho ver tudo isso regulamentado, pois fica para nossos filhos, netos. Para mim, é como se eu tivesse começado aqui naquele 4 de junho de 2017, quando o parque foi criado por direito, pois antes só existia de fato. O resto vamos apagar e vamos começar tudo novamente. Quero passar pelo menos mais 25 anos aqui”.