Doação de órgãos: solidariedade que traz esperança em meio à dor

25 de setembro de 2019 - 08:59 # # # #

André Pinheiro - Ascom das UPAs 24h

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Maria (nome fictício) é profissional de saúde. Há cerca de três meses, a vida dela mudaria completamente. Ela despediu-se da filha de nove anos. Hoje, para Maria, sua pequena menina vive em outras crianças. “Ela foi minha primeira filha e eu queria muito ser mãe. A gente só conhece o amor depois que somos mães. Então o amor que eu sentia pela minha filha, que eu cuidei, se espalhou e sei que de alguma forma ela ganhou novas famílias e eu, novos filhos, mesmo que eu nunca saiba quem são”, declara.

Segundo Maria, sua filha começou a nausear em casa e foi conduzida a um hospital onde teve uma parada cardíaca. Foi transferida em estado grave para o Hospital Regional Norte (HRN), do Governo do Ceará. No HRN, a menina passou pela reanimação e foi internada na UTI Pediátrica.

“Depois que os médicos confirmaram a morte encefálica, Deus me iluminou com o dom da caridade, porque ajudar alguém não é só dar uma roupa usada ou comida, mas a maior caridade é o dom da vida, amar ao próximo como a si mesmo. E em um momento de dor, eu sabia que poderia ajudar outras famílias para que seus filhos tivessem a chance de serem curados pelo transplante”, afirma.

Foram doadas as duas córneas, o fígado e os dois rins. Maria ressalta que pensou imediatamente na possibilidade da doação, mas sua família a princípio era contra. “O hospital foi muito receptivo e acolhedor e não faltou nada para a gente. O meu marido acabou concordando com a doação e agora toda a família defende a causa da doação de órgãos”, ressalta.

Sensibilização

Segundo o coordenador da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), o médico Francisco Olon Leite Júnior, há famílias que doam e sentem-se melhores emocionalmente por saberem que uma parte do seu ente querido pode estar vivendo em outra pessoa. “Eles podem estar ajudando outra pessoa e isso faz diminuir um pouco a dor do luto, da perda. Estamos beneficiando em primeiro lugar a família que doa. E quando ocorre a doação, outro grande benefício do transplante é salvar vidas ou melhorar a qualidade de vida das pessoas”, diz.

O médico explica que o processo de sensibilização no hospital sobre a doação de órgãos não é voltado só para os pacientes do transplante e nem focado em um momento só, mas acontece desde a chegada ao HRN. “Nós percebemos que o acolhimento dá resultado quando ele é feito da mesma forma para todos os pacientes que chegam graves ao hospital. Quando o paciente é bem recebido na emergência, a família é bem acolhida. Esse processo vai se refletir quando a família for doar”, avalia.

CIHDOTT

O Hospital Regional Norte conta com a CIHDOTT há mais de cinco anos. A comissão é formada por uma equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiros e assistente social, com o apoio da psicologia e dos médicos da emergência e UTI, além de serviços secundários como a Imagem e Laboratório. A finalidade é organizar, no âmbito da instituição, rotinas e protocolos que possibilitem o processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes.

“Quando eventualmente o paciente evolui para morte encefálica, procuramos dar assistência a essa família em todas as fases do diagnóstico”, diz Olon Júnior. O HRN capta prioritariamente fígado, rins e córnea. Em 2019, foram captados cinco fígados, 10 rins e oito córneas.

Projeto

O Hospital Regional Norte foi um dos hospitais convidados a participar do Projeto DONORS, iniciativa nacional de pesquisa e incentivo à doação de órgãos que se encerrou no dia 30 de agosto. O Projeto é uma parceria entre Hospital Moinhos de Vento (RS) e o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS). O objetivo é traçar alternativas nacionalmente para preservar futuros doadores.