Estudante da zona rural de Paramoti supera dificuldade com cálculos e passa em Matemática na UFC

10 de fevereiro de 2020 - 13:49 # # # #

Bruno Mota - Ascom Seduc

Estudante aprovada no curso de Matemática na UFC

Assim que entrou no Ensino Médio, Esteviane Lima Castro tirou a nota mais baixa de sua vida em matemática. Hoje, três anos após, ingressa na Universidade Federal do Ceará (UFC) para fazer curso superior de Bacharelado em Matemática. Transformando o bicho de sete cabeças em matéria preferida, a jovem de 17 anos agora alimenta o sonho de ser professora da disciplina, ajudando outras pessoas a também superarem as próprias dificuldades com os cálculos. Esteviane é natural de Timbaúba, povoado situado na zona rural do município de Paramoti, e estudou na Escola de Ensino Médio (EEM) Tomé Gomes dos Santos.

Filha de agricultores que não concluíram o nível fundamental e viviam apenas da renda do Bolsa Família, a estudante cedo entendeu a necessidade ir em busca de melhores condições de vida. Mesmo diante de alguns obstáculos – como o fato de ter que atravessar dois rios durante o período chuvoso para chegar até a escola, situada a 10 km de casa – a realidade dela começa a ganhar outros traços, com a entrada na universidade e a descoberta de um novo mundo.

O ano de 2019 foi particularmente desafiador para Esteviane, que enfrentou problema de saúde e precisou ficar distante das aulas por cerca de um mês, em plena época preparatória para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Tive um cisto hemorrágico entre março e abril, faltando muitas aulas, tendo hemorragias constantes. Isso me prejudicou bastante, pois ficava fraca e tinha dificuldade para estudar e ir à escola. Comecei a me tratar e a estudar, mesmo, a partir de maio. Foi durante esses dias que pensei nos meus sonhos e decidi voltar com força total”, relembra.

Transformação

A facilidade na matemática, de acordo com Esteviane, não veio da noite para o dia. A nota baixa serviu de motivação para que se dedicasse ao máximo ao assunto, acreditando que “quando a pessoa não é tão boa em algo, deve buscar se dedicar principalmente àquela área”. Ao se aprofundar no tema, a paixão veio por consequência.

“Meu sonho é contribuir com os sonhos das pessoas através da matemática. Pretendo estudar e pesquisar bastante para, um dia, também me tornar professora de Ensino Fundamental e Médio, ajudando crianças e jovens a lutarem por seus objetivos e também conquistarem uma vida melhor”, projeta.

Um dos segredos de Esteviane para tomar gosto pelos números foi começar a procurar a matemática no dia a dia. “Podemos percebê-la na distância entre locais, na estratégia de jogos como dama e xadrez, na hora de fazer compras. Os números estão por toda parte. Acho que a escola não deve se limitar a ensinar o teórico. As minhas professoras realizavam problemas práticos e assim os alunos despertavam o interesse. Não só eu, mas o restante da turma também”, observa.

Desenvoltura

Ao participar de projetos científicos na escola, Esteviane descobriu outro aspecto de sua personalidade com potencial a ser desenvolvido: a oratória. Graças a um projeto elaborado em parceria com colegas, denominado Pieped, que trazia a proposta de inclusão e educação de pessoas com deficiência, a estudante descobriu a aptidão de falar em público. O projeto foi campeão da etapa regional do Ceará Científico em 2018.

“Quando comecei a enxergar que era boa falando em público, pedia à professora para me deixar resolver problemas no quadro e explicá-los para a turma. Gostava muito de fazer isso. Comecei a tirar as dúvidas dos meus colegas. Fazia questão de terminar minhas lições primeiro, para ajudar o restante da turma. Não por querer aparecer, mas, pensando que estava fazendo uma espécie de estágio. Estava treinando para algo que gostaria muito de ser”, revela.

A propósito da escola, Esteviane diz que levará boas recordações e experiências importantes para as etapas seguintes da vida. “Gostei muito do meu ensino médio. Quando entrei e vi a biblioteca, busquei ler. Os professores eram maravilhosos. Foi onde eu encontrei a paixão pela matemática e por falar em público. Agradeço pelo carinho de todos”, destaca.

A respeito dos livros, a jovem cita um que classifica como inspirador para ter seguido em busca dos próprios objetivos. “Eu sou Malala” conta a história de uma menina paquistanesa que foi perseguida por um grupo extremista, simplesmente, porque ia à escola e lutava pelo direito à educação de outras meninas. “Me fiz a pergunta: se essa garota, lutando por seus direitos, conseguiu ganhar o prêmio Nobel diante de tantas dificuldades, por que eu não posso conseguir meus sonhos? Acredito que todo mundo é capaz de lutar pelos próprios sonhos”, finaliza.