Profissionais relatam dia a dia com prematuros: “o sentimento é de que eles são nossos filhos”

9 de julho de 2020 - 16:49 # # #

Márcia Ximenes e Teresa Fernandes - Texto e Fotos
Jeorge Farias - Artes gráficas

Proporcionar qualidade de vida para bebês prematuros é a principal missão da equipe multiprofissional que trabalha na Unidade de Neonatologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Na unidade da rede pública da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado, o tratamento clínico destinado aos bebês que nascem antes do tempo previsto é potencializado pelo atendimento humanizado prestado pela equipe.

“Nós interagimos com o bebê o tempo todo. Procuramos potencializar esse tratamento indo além de um trabalho mecânico. Todo procedimento que é feito é explicado para o bebê enquanto estamos realizando. Além disso, estimulamos que a mãe ou o pai participe desses momentos, muitas vezes com um simples toque na criança”, explica a fisioterapeuta Lila Mendonça, que trabalha há 12 anos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do HGF.

A profissional relata que muitos pais não entendem o motivo de explicar o procedimento para o bebê porque acham que a criança não entende. “Depois, eles veem como o bebê percebe a qualidade dessa presença, tanto nossa quanto deles, e ficam impressionados como ele reage melhor ao tratamento”, completa.

Com 32 leitos, sendo 16 leitos de UTI e 16 de médio risco, a UTI Neonatal do HGF conta com 194 profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogo, fonoaudiólogos, nutricionistas e assistentes sociais. A pediatra e chefe do Serviço de Neonatologia do HGF, Fabíola Arraes, ressalta a importância da equipe multiprofissional. “O saber do outro ajuda no meu cuidar. Toda a equipe se comunica com a finalidade de proporcionar uma assistência plena e satisfatória para a vida desses bebês”, afirma.

O trabalho multidisciplinar tem como foco a humanização no tratamento de prematuros, um dos valores da Sesa. Trabalhando há nove anos na UTI Neo do HGF e há três na coordenação de Enfermagem, Roberta Campos evidencia o vínculo que os profissionais criam com o bebê a família. “Eu já tive vários momentos marcantes, porque a gente acaba criando um vínculo forte com o bebê e com os pais também. O sentimento é de que eles são nossos filhos e, além de toda nossa expertise, o carinho se torna a base do nosso trabalho”, conta.

Quando o bebê tem alta e pode ir para casa com a família, o sentimento da equipe é de missão cumprida. “É muito gratificante ver que conseguimos proporcionar, para cada uma dessas famílias, a felicidade de levar o seu bebê saudável para casa. E é sempre emocionante quando a mãe vem para as consultas de retorno no ambulatório e traz a criança aqui para a gente ver como eles estão bem”, finaliza.

Prematuridade e Covid-19

No Hospital Regional Norte (HRN), da rede estadual, a equipe enfrentou um grande desafio para salvar mãe e filha. Grávida de 26 semanas, Maria Lurdiany Mendes, 36, deu entrada na unidade com Covid-19. Por conta do estado grave, a paciente precisou ser reanimada pelos profissionais e passar por um parto de emergência no dia 21 de maio, quando deu à luz Diany Havenna.

Felizmente, tudo saiu bem, mas a médica obstetra Eveline Valeriano Moura Linhares relembra a gravidade do caso. “A gestação é um fator de risco de complicação em caso de Covid-19. A mulher fica imunodeprimida e é mais difícil para o organismo se recuperar”, explica. Após 26 dias internada, Lurdiany finalmente pôde conhecer a filha.

O primeiro encontro foi por videochamada. “Estou muito feliz e emocionada por poder ver minha filha. Venci a Covid-19 e agradeço a todos os que cuidaram de mim e os que estão cuidando da minha filha. O HRN é um lugar que eu amei demais. As pessoas cuidam muito bem com amor, paciência e bondade”, diz.

Na última terça-feira (7), Lurdiany recebeu alta da unidade e agora aguarda a filha, que continua internada para se recuperar. “Nunca esperava acontecer isso. Pensei que ia morrer. Graças a Deus, estou curada e lutando para voltar para a minha família e a minha filha”, diz.