Caçadores noturnos de vazamentos: estratégia que gera resultados

25 de fevereiro de 2021 - 16:33 # # #

Eva Silva - Ascom Cagece - Texto
Leandro Bayma - Fotos

A ampliação de equipes de caça-vazamentos no turno da noite está entre as medidas da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) para redução de perdas nos sistemas de abastecimento de água. Aliada a outras iniciativas como: diminuição do tempo de retirada de vazamentos através da ampliação do número de equipes que trabalham nesta atividade e implantação de Distritos de Medição e Controles (DMCs), a ação tem gerado resultados positivos para a Cagece.

Com base no plano de ação de controle e combate a perdas desenvolvido pela companhia, as equipes realizam uma varredura em toda a rede de distribuição e nos ramais domiciliares, reduzindo as perdas de água e de materiais (insumos). O trabalho de caça-vazamentos noturno também resulta em agilidade, maior eficiência e qualidade dos serviços executados pelas equipes de campo das unidades.

Reduzir perdas de água é um desafio inerente à maioria das empresas de saneamento do Brasil. A Cagece tem empreendido esforços com foco nessa meta e implementado ações diversas para alcançar esse objetivo. No Novo Marco Legal do Saneamento, esse é um ponto de destaque e será objeto de referência na regulação para novos investimentos.

A experiência da Unidade de Negócio Metropolitana Norte (UNMTN), nos últimos meses, serve de exemplo para a companhia. Após manter uma equipe fixa, no período noturno, para executar a pesquisa de vazamentos, a unidade constatou que houve redução no Índice de Perdas na Distribuição (IPD), na área de sua abrangência, de quase 50%. Só na área do DMC Montese, por exemplo, a diminuição absoluta do IPD mensal foi da ordem de 20%. Trata-se de um bairro localizado em Fortaleza, que tem grande quantidade de galerias de drenagem e antigas redes de distribuição de água, em cimento amianto. Em novembro de 2019, o índice de perdas era de 50,23% e em outubro de 2020, foi de 30,13%. Essa redução corresponde ao volume mensal de 10.390 m³ de água, suficiente para atender, em média, mil ligações e abastecer 4 mil pessoas a mais.

Segundo o gerente da unidade Norte, Rogivaldo Rebouças, atualmente são duas equipes de caça-vazamentos, uma em cada turno. “Essa ação foi intensificada no período noturno. Os vazamentos que são encontrados à noite geralmente têm a retirada programada para o dia seguinte e os identificados pela equipe diurna são solucionados no mesmo dia. A execução é conciliada com as demandas diárias da programação. A equipe caça-vazamentos diurna é acompanhada de outra da área operacional de perdas, a depender da demanda”, explicou.

Caça-vazamentos é um trabalho continuado, que toda Unidade de Negócio da Cagece realiza. A atividade é coordenada pela supervisão de perdas que foi criada no início de 2020, em cada unidade de negócio. Essa supervisão é o ponto de contato da Gerência de Combate às Perdas de Água (Gcope), que é a unidade especialista da Cagece nesse controle. Esta é ligada à Diretoria de Operações (DDO), que monitora e acompanha junto à gerência tanto a execução dos trabalhos quanto a otimização de muitos serviços, buscando sempre a redução de perdas.

Conforme destaca o diretor de Operações da Cagece, João Fernando Menescal, a pesquisa de vazamentos é extremamente importante e contribui para otimizar a distribuição de água. “Para se ter uma ideia, metade das perdas que registramos hoje diz respeito a vazamentos, tanto na rede quanto nas ligações até o hidrômetro. Esse é um número impactante e relevante. Por isso que é tão importante esse serviço de pesquisa, que identifica tanto os vazamentos que não afloram, ou seja, que não aparecem no pavimento, como também os vazamentos que estão nas ligações, que apresentam uma conexão inadequada ou um registro danificado. Então, sempre que é feita essa identificação é aberta uma ordem de serviço para as Unidades de Negócio e, estas, fazem o reparo tão logo recebam a demanda”, informa.

A Gcope é responsável pelo acompanhamento das pesquisas de vazamentos junto às Unidades de Negócio. “Temos nos empenhado para contribuir junto às unidades da capital e do interior, com o intuito de alinhar as ações e melhorar o desempenho operacional. Temos intensificado essa comunicação com a finalidade de avançar com essas atividades e reduzir o índice de perdas de água no estado”, destaca Anderson Lima, gerente da Gcope.

As equipes e o foco da pesquisa

Ao todo são 13 equipes fixas e quatro itinerantes, que atuam como caçadoras de vazamentos e contam com o auxílio de equipamentos específicos de medição e profissionais capacitados. Os colaboradores realizam trabalhos diurnos e noturnos, conforme o objetivo da pesquisa. Durante o dia, o foco é vazamento nos ramais e cavaletes, utilizando a haste de escuta diretamente no cavalete. Outro equipamento usado no período diurno é o geofone para pesquisa de vazamentos ao longo das redes.

Já à noite, a pesquisa é voltada para identificação de vazamentos ocultos, que representam aproximadamente 35% do total de ocorrências encontradas. A diminuição do barulho da cidade reduz também interferências, facilitando o trabalho das equipes. Outro fator positivo nesse horário é a pressão mais elevada na rede, ocasionada pela redução no consumo de água. Esses elementos facilitam a detecção de vazamentos ocultos por meio dos equipamentos de escuta.

As equipes de caça-vazamentos percorrem bairros e ruas das cidades para verificar a existência de vazamentos visíveis e ocultos nas redes de distribuição de água da companhia. Em 2019, foram percorridos o equivalente a 7.482,43 Km e identificados 23.050 vazamentos. Destes, 7.704 eram vazamentos ocultos. Já em 2020, a extensão de rede pesquisada foi de 7.558,69 km, e foram detectados 21.439 vazamentos, sendo 8.078 vazamentos não visíveis.

A área pesquisada pelas equipes noturnas da unidade Norte tem média mensal de 36 km de extensão de rede e 37 vazamentos encontrados. No período de um ano foram identificados 59 vazamentos visíveis, 218 ocultos e 163 não visíveis com afloramento. Estes últimos são denominados de “vazamentos viajantes” e são de difícil localização, pois a água aflora distante do local da tubulação quebrada.

As unidades de negócio monitoram pelo sistema comercial Prax as áreas que apresentam elevação no consumo. O setor é mapeado e encaminhado para a programação. Esta direciona a equipe para o local, a fim de constatar ou não a existência de vazamentos.

Na calada da noite

No horário em que muitos trabalhadores estão se organizando para dormir, eles estão começando o seu expediente. Os colaboradores Rellyson de Sousa Silva, Victor Ferreira de Paula e Diógenes Rodrigues de Sousa formam uma das equipes noturnas de caça-vazamentos da Cagece.

O expediente dos caçadores de vazamentos começa às 22h e vai até as 4h. Ao chegarem à Unidade, recebem o mapeamento da área a ser pesquisada, checam os equipamentos e seguem para percorrer as ruas do bairro indicado, em busca de vazamentos.

Na função há quatro anos, Rellyson é inspetor de saneamento e há 12 meses passou a trabalhar à noite. É ele quem realiza a pesquisa com o geofone, com o auxílio dos demais membros da equipe. “Acho um trabalho importante e gosto muito do que faço. O uso do equipamento é fácil e, visto que à noite tem menos barulho, facilita a escuta e a detecção de vazamentos ocultos”.

Para Diógenes, que integra a equipe há um ano e seis meses, o desafio maior são os locais menos movimentados à noite. “Procuramos sempre começar pelas ruas com maior movimento nas calçadas e, na madrugada, fazemos os demais trechos. Tem dado certo. Gosto muito. Estamos executando nosso trabalho da melhor forma possível, com tranquilidade”.

Victor, é o mais recente da equipe e realiza o trabalho de escuta com a haste há quatro meses. “Gosto desse horário porque não tem sol. Além disso, o silêncio da noite facilita o meu trabalho. É possível detectar melhor, com a haste de escuta, a existência de vazamentos ocultos. Do tempo em que estou na equipe, não vivenciei nenhuma situação de risco. Tem alguns bairros mais difíceis, mas, graças a Deus, não passei por nenhuma situação complicada”.