Magna Negritude: Ceará ressignifica um marco histórico e avança na conquista de políticas públicas para igualdade racial

25 de março de 2021 - 09:13 # # # # #

Ascom SPS

Muito mais do que um feriado, o dia 25 de março é um marco histórico que vem sendo continuamente ressignificado para contar sobre a resistência do povo negro e de sua descolonização mental na busca por outras formas de existir neste território. Mais do que celebrar uma abolição inacabada, esta data deve dar visibilidade aos negros e negras que protagonizaram o movimento abolicionista no Ceará. O Estado foi pioneiro nesta conquista e garantiu quatro anos antes do restante do Brasil, em 1884, a liberdade aos negros que aqui foram escravizados. Este marco histórico se tornou a Data Magna do Ceará, instituída por lei publicada no Diário Oficial do Estado em 2011.

Para explicar sobre a importância desta data e seus desdobramentos, Martír Silva, coordenadora Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) e Carol Bernardo, Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará e professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) compartilham suas visões sobre este período e as lutas e conquistas do povo negro até os dias atuais.

“Precisamos tirar das sombras, as personalidades de negros e negras que estiveram a frente do movimento abolicionista no Ceará. Este protagonismo foi dado durante muito tempo para pessoas brancas, e nós sabemos que tivemos aqui diversos ícones negros que lutaram pela libertação de seu povo, como a Preta Simoa, conhecida também como “Tia Simoa”, e o jangadeiro Chico da Matilde, o famoso “Dragão do Mar”, além de muitos outros que protagonizaram o fim do processo oficial de exploração do povo negro. Precisamos também salientar que estes personagens só ganham notoriedade após muito tempo, e daí percebemos a importancia de discutir o epistemicidio, que é o apagamento da história e da cultura do povo negro. Não podemos deixar que apaguem nossas trajetórias e lutas do fio da história. No passado, muitos pensadores e ativistas negros que foram essenciais para a construção da consciência histórica no nosso país, nem sequer foram lembrados na nossa historiografia, então passamos agora por um processo de ressiginificar e recuperar suas contribuições na cearensidade e na nossa formação enquanto povo”, destaca a coordenadora Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial da SPS, Martír Silva.

Faz-se necessário pensar que quando comemoramos esta data, nós estamos agora ressignificando esta invisibilidade e transformando em reverência a força dos nossos ancestrais. Acredito que estamos também nos libertando deste mito de “terra da luz”, que durante muito tempo colocou as personalidades negras na invisibilidade. Nesta ressignificação nós trazemos ao debate o quanto a abolição ainda está incompleta e nossa luta diária é para que alcancemos aqui no Ceará a igualdade racial, entendendo que não nos apegamos a mitos de democracia racial, mas acreditamos na construção de políticas públicas eficazes e que vêm sendo uma realidade nesta gestão. Ressalto aqui o projeto de lei do Governo do Ceará que garante a negras e negros reserva de 20% das vagas em concursos públicos”, complementa Martír, lembrando desta conquista para o povo negro, que foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Ceará ainda no inicio deste mês de março.

Para a titular da SPS, Socorro França, este projeto de lei só reforça o compromisso do Governo do Estado com as políticas sociais afirmativas.“Precisamos refletir sobre a abolição inacabada e o racismo estrutural que ainda produz desigualdade de condições e oportunidades para a população negra, sobretudo no mercado de trabalho. Neste sentido, ressalto aqui a importância de seguirmos construindo políticas públicas para a igualdade racial. Estamos aos poucos construindo uma consciência coletiva e provocando em diversos espaços um debate importante sobre o racismo, a exemplo da Campanha Ceará Sem Racismo, em que conseguimos dar evidência e contar a história de personalidades negras que muito contribuiram para abolição da escravidão em nosso estado ”, friza Socorro França.

Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) ,Carol Bernardo fala da importância desse dia não como uma lembrança da dor da escravização, mas para lembrar que o povo negro foi resistência e conquistou sua liberdade. “Esta data é para nos lembrar de que existe negro no Ceará, sim! E que nós somos um povo de resistência e de luta, que mesmo antes da abolição no país todo, conseguimos nos organizar e antecipar aqui uma conquista coletiva. Hoje é um dia para reverenciar os pretos e pretas que vieram antes de nós e reivindicaram a nossa liberdade, assim como também manifestaram sua indignação com a violência escravocrata. Um dia para reverenciá-los e manifestar também as nossas pautas”, explica Carol Bernardo, que também lembra que a sociedade cearense ainda reproduz o racismo em suas instituições e espaços públicos. Ainda vivenciamos esse racismo no nosso cotidiano, tendo que lidar ou com a própria negação, opressão ou desqualificação. Nossa agenda ainda é para desconstruir os diversos racismo que permeiam nossas existências e tentam apagar nossas potencialidades”, completa a educadora.

Nesta quinta-feira, 25, Martír Silva e Carol Bernardo participam de transmissão pelo canal do YouTube do Theatro José de Alencar. O evento inicia às 18h30 e tem como tema “Magna Negritude”, em alusão à Data Magna do Ceará. A iniciativa irá abordar não só a importância, contextualização histórica e significado da data, como também a sua representatividade dentro da comunidade negra.

Serviço:

Magna Negritude
Quando: 25 de março, às 18h30
Transmissão: canal do YouTube do TJA (https://www.youtube.com/channel/UCIFTpfkGLYFjlXRC_7i5-tQ)