A história de um jovem sertanejo que se tornou policial do Bepi da PMCE

28 de abril de 2021 - 15:53 # # # # # #

Aline Freires - Ascom SSPDS - Texto e Fotos

De menino do sertão a policial militar do Batalhão Especializado de Policiamento no Interior (Bepi) da Polícia Militar do Ceará (PMCE). Essa foi a trajetória trilhada pelo soldado Mauro Sérgio Pereira, de 31 anos, um jovem que teve uma infância desafiadora na zona rural cearense, mas que venceu todos os obstáculos para alcançar o seu grande sonho: ser policial militar. Há exatos um ano e seis meses, ele se tornava um “guerreiro de caatinga”. Coincidência ou não, dois dias antes do Dia Nacional da Caatinga, comemorado no dia 28 de abril.

Hoje, o Sd Mauro, como é chamado, atua na cidade de Boa Viagem (CE). Mas sua caminhada até aqui iniciou na zona rural da pequena Itatira (CE) até que seus pais se mudaram para a cidade de Canindé, a 118 km de Fortaleza. O município, que apesar de ser um local símbolo da fé do sertanejo, e de antes do cenário de pandemia abrigar milhares de romeiros durante as festas de São Francisco, ainda possui a simplicidade de pequenas cidades do interior cearense.

Ele explica que a migração de um local para o outro na sua infância se deu exatamente pelo desejo de seus pais de lutarem por uma vida melhor para os filhos. “O motivo da migração de uma família de agricultores, que vivia do trabalho na roça, para encarar vida nova em uma zona urbana de uma cidade diferente, foi para proporcionar uma educação melhor para mim e meus irmãos”.

O PM narra que o primeiro contato que teve com policiais militares foi quando, para ajudar na renda familiar, ele e os irmãos precisaram vender terços e outros objetos religiosos na praça da Basílica de São Francisco. “Eles faziam a segurança do espaço religioso. Desde então, passei a admirá-los, pois quando eles estavam por perto, me sentia seguro. Eu queria um dia fazer alguém se sentir assim também”, conta.

É comum de quem pega uma daquelas tradicionais “fitinhas de São Francisco” ler, entre vários tipos de mensagens, algumas como: “Lembrança de São Francisco – faça três pedidos”. Mas a partir daquele momento, Sérgio só precisava que um se realizasse em sua vida. Porém, a caminhada ainda seria longa.

Alguns anos se passaram até ele concluir o Ensino Médio. Trabalhou como balconista em uma panificadora e precisou deixar os estudos de lado por algum tempo em razão da falta de tempo e de condição financeira para estudar em cursos preparatórios. Mas isso não o desestimulou. A vontade só aumentava. Foi quando em 2011, o Governo do Ceará lançou o edital para um novo concurso da Polícia Militar do Ceará (PMCE).

“Larguei o emprego, juntei o dinheiro que tinha com o que meus familiares puderam me dar, comprei o material e comecei a estudar. Muitos me perguntaram se eu era louco. Não acreditavam que eu iria largar um emprego para tentar um concurso. Mas, na minha cabeça, não existia essa possibilidade de não dar certo. Como sou religioso, me apeguei ao meu santo padroeiro, São Francisco. Fiz promessa e fui à luta”, conta.

O jovem sertanejo precisou deixar muita coisa de lado por três meses, como noites de sono e até o seu relacionamento. “Passei três meses estudando dia e noite, dormia cerca de quatro horas por dia. Parei de ver até a namorada para sobrar mais tempo para estudar, quão grande era a vontade de ser um policial militar”. Talvez você que lê essa história esteja ansioso para saber se Sérgio passou de primeira, logo nos classificados. Mas não, nem sempre uma história de sucesso vem assim, dentro de alguns padrões de perfeição criados ou impostos a nós. É o caso dessa contada aqui.

Quando saiu o resultado do concurso, Sérgio não estava nos classificados. “Tinha 53 candidatos na minha frente. Não desanimei, continuei perseverando, altivo de que um dia ia pertencer as fileiras da gloriosa PMCE. Me mudei para Fortaleza, entrei na faculdade de Direito. Quando estava no terceiro semestre do curso, dois anos e meio depois da prova do certame, o edital do concurso foi modificado, ampliando o número de vagas”, disse. Na “fitinha” de São Francisco que simbolizava a fé do garoto sertanejo, um pedido já havia sido atendido. “Meu nome então saiu na lista dos convocados. Para mim, foi um milagre, uma graça alcançada. Foi um dos dias mais felizes da minha vida”, revela.

O soldado Sérgio

Após o Curso de Formação na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Sérgio tomou posse no cargo de soldado em 14 de abril de 2015. Ele explica que já durante a preparação para assumir o cargo de PM, ele ouviu as primeiras histórias sobre o Comando Tático Rural (Cotar). Ali, começava mais uma etapa na carreira dele.

Emoção marca a formatura dos novos servidores da Segurança Pública do Ceará

“Foi na Aesp onde comecei a ouvir a história da destemida Companhia do Cotar. Foi aí que criei mais uma meta de vida na minha profissão, colocar o carcará (ave característica da caatinga e símbolo do sertão) no peito e pertencer a este seleto grupo de grandes guerreiros de caatinga do Sertão do Ceará”, destaca. Encarando como mais um desafio a ser vencido, o agora soldado Sérgio participou do Curso de Operações Táticas Rurais. A instrução, que desafia todos os limites do corpo, leva o aluno a ter um contato profundo com a caatinga, com disciplinas que vão desde sobrevivência e resistência em ambientes hostis até o fortalecimento de valores como ser humano.

“A parte mais difícil, sem sombra de dúvidas, é a semana da sobrevivência, onde a instrução é ministrada em uma fazenda conhecida como Cão Miúdo, em Novo Oriente, divisa do Ceará com o Piauí. Um lugar onde de dia o sol é de rachar e à noite o frio é de tremer o queixo. Lá tivemos restrição de água e comida para que pudéssemos nos adaptar ao ambiente quente e seco do sertão. Tivemos que aprender técnicas de sobrevivência em ambientes inóspitos. Somos levados ao limite físico e mental”, disse.

Por 48 dias, Sérgio teve corpo e mente desafiados, até que o curso chegasse ao fim. O jovem do interior cearense foi um dos 134 concludentes dessa capacitação na soma das turmas desde 2016, de acordo com dados da Aesp. O soldado Sérgio agora é soldado Mauro, em razão de haver muitos nomes de guerra homônimos no Cotar. Muito mais do que 48 dias, a caminhada árdua e desafiadora do policial militar já vinha desde a sua infância. “A dor é passageira e a glória é para sempre”, diz com orgulho.

Quando perguntado sobre o sentimento de pertencer hoje ao Cotar, ele fala como um profissional apaixonado pelo que faz. “Sou realizado profissionalmente. Me sinto muito honrado em combater ao lado de grandes e valiosos guerreiros. É um sentimento inenarrável, e procuro retribuir essa grande satisfação com meu melhor no campo de batalha”, descreve.

O desfecho dessa história, de um menino sertanejo que virou policial militar, não poderia ser diferente. Luiz Gonzaga, que em tantas canções, falou da forma mais bela sobre os sertões, o Nordeste e a nossa caatinga, encerra uma de suas músicas com uma expressão forte, que também serve para resumir a luta do cearense que encara as adversidades e consegue alcançar seus sonhos. Como cantou o rei do baião: “digo por esta razão, que meu sertão é de aço”.