Projeto ‘De Olho na Ferida’ previne infecções pós-cirúrgicas no HRSC

14 de junho de 2021 - 13:40 # # # # # # # #

Isabelle Azevedo - Ascom do HRSC - Texto e foto

Objetivo é acompanhar a cicatrização de ferimentos operatórios dos pacientes que já estão em domicílio e antecipar as consultas de retorno, caso haja necessidade

Infecções de Sítio Cirúrgico, conhecidas pela sigla ISC, são aquelas que ocorrem como complicação de uma cirurgia, comprometendo a incisão, tecidos, órgãos ou cavidades manipuladas. Para evitar que os pacientes sejam atingidos pelas ISCs, o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), lançou o projeto “De Olho na Ferida”. O objetivo é acompanhar a cicatrização de ferimentos operatórios dos pacientes que já estão em domicílio e antecipar as consultas de retorno, caso haja necessidade.

O coordenador de Enfermagem do Centro Cirúrgico Geral, Daniel Rodrigues, explica que a ação surgiu como um desdobramento do projeto “Infecção Zero”, do Centro Cirúrgico Geral do HRSC. “Nós analisamos variáveis a fim de mitigar situações que possam desenvolver à ISC. Contudo, alguns pontos fugiam do processo cirúrgico e precisavam ser acompanhados, como o cuidado com a ferida operatória em domicílio”.

O projeto realiza a busca ativa por meio de contato telefônico com pacientes que fizeram procedimentos cirúrgicos classificados como “limpos”, após o sétimo dia da alta hospitalar. O projeto conta também com um tablet que possibilita ligação por WhatsApp. A equipe investiga pontos que vão desde a alta esclarecida até a sintomatologia apresentada, como cor da pele ao redor da incisão, tipo de secreção, febre, dor em incisão operatória e sua abertura.

“Quando verificado, junto ao paciente, algum marcador crítico como ferida aberta ou secreção purulenta, mesmo que isoladamente, o auxiliar administrativo sinaliza a necessidade de antecipação da consulta. Do mesmo modo ocorre se encontrados inchaço e vermelhidão, presença de secreção serosa ou hemática, febre e dor no local da incisão”, pontua Rodrigues.

Bem-estar do paciente

Segundo Warley Feitosa, auxiliar administrativo responsável pelo contato com os pacientes, é emocionante perceber, na fala do usuário, seu contentamento em ser questionado quanto ao bem-estar. “Sempre me deparo com a mesma pergunta: ‘vocês estão ligando para saber como eu estou? Que maravilha!’”, diz o colaborador.

Francisco Vitor Lima de Oliveira é um dos pacientes assistidos atualmente pelo ‘De Olho na Ferida’

Francisco Vitor Lima de Oliveira, de 26 anos, é um dos usuários assistidos atualmente pelo projeto. Trabalhador da área de restaurante, ele precisou realizar uma cirurgia depois de fraturar o pé. Em recuperação domiciliar, voltou ao hospital para avaliar a cicatrização da cirurgia. “A pessoa é bem tratada aqui e o atendimento é bom. Eles ligaram para saber como eu estava. Contei que estava achando a cirurgia inflamada depois que um primo pisou sem querer no meu pé e me pediram para retornar”, afirma Oliveira.

Antecipação de consultas

Os dados obtidos pelo acompanhamento telefônico são trabalhados em uma planilha e compartilhados com diversos setores, como Serviço de Controle e Infecção Hospitalar (SCIH), clínicas cirúrgicas, serviço de Estomaterapia e Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC). Percebida a necessidade de antecipação de retorno da consulta, o NAC realiza novo agendamento e contato telefônico. O serviço de Estomaterapia, também especificado na planilha, acompanha a data de retorno desse usuário e realiza o acolhimento nesse primeiro atendimento pós-procedimento para a definição de ISC.

“O acompanhamento extra-hospitalar impacta de forma positiva no resultado do trabalho, pois oportunizamos o retorno de pacientes que poderiam desenvolver ISC ou complicações mais graves. Passamos a observar que junto ao projeto ‘Infecção Zero’ no CCG, tivemos uma diminuição no número de ISC em cirurgias limpas”, observa Rodrigues.

Dados obtidos pelo acompanhamento telefônico são compartilhados com diversos setores, como Serviço de Controle e Infecção Hospitalar (SCIH) e Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC)

Para a Coordenadora do Ambulatório/Imagem e Transporte, Janina Falcão, o retorno antecipado pela necessidade do usuário com o atendimento inicial via enfermeiro especialista em ferida é algo único na região. Já a coordenadora do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt) e responsável pelo projeto “HRSC na Comunidade”, Katylla Queiroz, relata que a temática fará parte das informações apresentadas na rede de saúde, unidades básicas, programas de rádio e população local, a fim de alertar o paciente sobre seu cuidado.

Resultados

No primeiro trimestre de 2021, somente 60% dos pacientes foram localizados. Destes, 89% relataram ter tido informações sobre os cuidados com a ferida operatória na alta; 88% relataram ter entendido sobre as informações repassadas e 11% apresentaram sintomatologia que sinalizaram antecipação de retornos pós-procedimento cirúrgico.

Dos pacientes que retornaram antecipadamente, somente 1% apresentou de fato ISC. O resultado apresenta uma projeção de melhoria, mantendo-se abaixo da meta permitida, de 2%.