Especialista do HMJMA explica que sintomas da TPM podem durar até 15 dias, todos os meses

16 de junho de 2021 - 14:07 # # # # #

Diana Vasconcelos - Ascom HMJMA

Ginecologista-obstetra Francisco Nogueira Chaves destaca a necessidade de um olhar mais atento ao bem-estar das pacientes e condena os estigmas que a TPM pode acarretar

A Tensão Pré-Menstrual (TPM) é uma realidade entre as mulheres. Um ciclo que, apesar de ser alvo de inúmeros comentários jocosos, pode afetar a saúde física, mental e até a convivência social da mulher. O ginecologista-obstetra Francisco Nogueira Chaves, coordenador dos serviços de Maternidade e Ginecologia do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), tem mais de 30 anos de experiência cuidando da saúde da mulher e destaca: “Qualquer alteração que tira de uma pessoa a sensação de bem estar físico, social e/ou emocional, é algo diferente de saúde, é doença”.

Por este motivo, o médico destaca a necessidade de um olhar mais atento ao bem-estar das pacientes e condena os estigmas que a TPM pode acarretar. Em entrevista, o especialista esclarece as características da tensão e a possibilidade de tratamento para pacientes com indicação.

O que é a TPM?

A sigla TPM significa Tensão Pré-Menstrual. Ela se caracteriza por sinais e sintomas que surgem na fase que antecede a menstruação. Mas é muito importante ressaltar que, quando esses sintomas permanecem após a menstruação, é provável que estejamos diante de outra patologia e não mais da TPM. A característica dessa doença é exatamente ser um ciclo, uma correlação com o fenômeno menstrual. E podemos chamar de doença sim. (…) Não podemos dar um nome diferente a algo que pode levar a absenteísmo, ansiedade, irritabilidade, retenção de líquido, depressão e várias outras coisas.

Por que acontece a TPM?

A Etiologia (estudo das causas da doença) da TPM é, até hoje, questionada. Mas existe uma relação entre um equilíbrio na produção (dos hormônios) de estrógeno e de progesterona que afetam substâncias centrais (no Sistema Nervoso Central), as quais atuam na sensação de bem-estar. Agora o motivo de ocorrer em algumas mulheres e em outras não, isso ainda é questionável.

Qual o perfil das mulheres acometidas pela TPM?

As mulheres que apresentam sintomas de TPM, na maioria das vezes, são aquelas que estão submetidas a maior índice de estresse. Até porque requer delas uma produção melhor dessas substâncias e elas têm essa dificuldade na produção. É baseado nisso que pensamos também na terapêutica (tratamento). Primeiro, descobrimos o que a paciente sente, qual a região mais afetada, se ela tem sintomas mais dolorosos ou mais sinais emocionais.

Quanto tempo dura a TPM?

É variável, mas vamos botar em média dez dias. Um terço do mês sob os efeitos dela, às vezes mais, porque ela pode começar até duas semanas antes da menstruação. Então, essas pessoas são muito comprometidas no seu potencial de trabalho, na convivência com as outras pessoas e, dependendo do nível de TPM que ela tenha, até passam a ser estigmatizadas.

Os sintomas são os mesmos para todas as mulheres?

Não. Os sintomas são muito variáveis. Há mulheres que têm sintomas somente a nível central (emocional), que são aquelas que ficam irritadas, deprimidas, ansiosas. E tem outras que sentem mais fisicamente, sentem, por exemplo, a mama ficar extremamente dolorosa a ponto de nada poder encostar. Outras têm incômodos no abdome, as roupas não fecham. Há mulheres que ficam com as pernas doloridas, cansadas. Independentemente do sintoma, se a intensidade dele promove mudanças no seu dia a dia, é considerado TPM.

A TPM engorda?

Não é um aumento de gordura, mas de água, pela retenção de líquido que ela pode causar. Tanto que um dos tratamentos é o uso de anticoncepcionais, o que reduz a reabsorção de líquidos. Agora, existe a mudança dos hábitos alimentares nessa fase e há ansiedade. É como um jogo de satisfação, quando você está meio chateado, você procura as coisas que lhe agradem, como as guloseimas.

O que poderia amenizar a TPM?

A primeira medida é a mudança comportamental (mudar o ambiente de estresse, fazer exercícios, alimentar-se bem, lazer). Essa mudança no estilo de vida pode minimizar ou até parar a sintomatologia que pode ser muito desagradável. Há também as drogas principais, como os anticoncepcionais. É comprovado que os anticoncepcionais podem ter uma boa resposta. Existe o uso de vitaminas, mas há muito questionamento na literatura sobre o uso delas. E há drogas que há muito tempo já vem sendo usadas, aquelas de ação central, que são antidepressivas e redutoras de ansiedade.

Quem sofre de TPM precisa de acompanhamento com psiquiatra?

Vai depender do quanto (a TPM) compromete o dia a dia dessa pessoa. Se ela não consegue trabalhar, se a TPM causa problemas no relacionamento familiar ou desconforto intenso. Ela precisa de um acompanhamento do ginecologista e, às vezes, da Psiquiatria. Mas esses são casos extremos, na maioria das vezes o ginecologista pode acompanhar. A paciente precisa conversar com seu médico.