Pacientes, familiares e colaboradores: a Psicologia nas unidades da Rede Sesa

27 de agosto de 2021 - 11:54 # # # # #

Bruno Brandão (HGWA), Débora Morais (Helv), Erika Mavignier (Hias), Jéssica Fortes (HM), Teresa Fernandes (HRN), Diego Sombra (HSJ) e Wescley Jorge (HGCC) - Texto
Bruno Brandão, Teresa Fernandes, Diego Sombra, Thiago Freitas (HGCC) e Ascom/Hias - Fotos

Time da Psicologia do Hospital Waldemar Alcântar, da Rede Sesa, é reconhecido pelo trabalho em equipe

Ouvir, compreender e auxiliar. Estes são apenas alguns dos dons que os profissionais da Psicologia têm como vocação. Diversas unidades vinculadas à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) possuem em seus quadros psicólogas e psicólogos para acolher familiares e tranquilizar os pacientes em momentos de aflição, além de auxiliar outros profissionais de saúde a atravessar períodos de angústia. A exemplo da pandemia de Covid-19, cenário que exigiu dos trabalhadores da Saúde um maior fortalecimento físico e emocional.

No Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), os profissionais do setor de Psicologia conhecem bem as diversas vertentes da profissão. A coordenadora da área, Flora Correa Guimarães, explica que, atualmente, existem três modalidades de opções psicológicas aos colaboradores: a demanda individual, o encaminhamento a partir da Medicina do Trabalho, além de rodas de conversas realizadas nos setores. Em 2020, no início da pandemia, a área conseguiu se organizar para uma escuta do colaborador realizada de forma diária. A partir deste ano, os atendimentos tiveram dias estabelecidos, com possibilidade do diálogo ser no formato online.

“O setor se reúne semanalmente, com ideias de novos projetos, mudanças e ações. A integração faz parte do dia a dia do time. Percebo que a nossa equipe é muito integrada e comprometida, tanto com pacientes e familiares, como a saúde mental do colaborador. Os profissionais são muito responsáveis e éticos nesse compromisso com a escuta psicológica do sujeito em sofrimento”, afirma Guimarães.

A psicóloga Joyce Hilário Maranhão, que atua com pacientes, em sua maioria, da Unidade Semi-Intensiva Neonatal, ressalta que o atendimento remoto é uma das modalidades que têm trazido um retorno positivo, principalmente para aqueles familiares que não podem, por algum motivo, estar perto do ente que está internado. “A modalidade remota foi uma estratégia de trabalho que deu certo. Ela foi estendida para todas as unidades dos familiares que não conseguem estar presentes nos horários das visitas. Na UTI Neonatal, por exemplo, se entende o cenário da família do bebê, por isso entramos em contato com o familiar de referência e tentamos conhecer a história, a dinâmica familiar e como os parentes estão diante do adoecimento desse membro da família”, detalha.

Pandemia e eventos estressores

No Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), também da Rede Sesa, há uma característica muito particular: ele ganhou forma e vida em meio ao período pandêmico para atender pacientes acometidos pela doença. Somente a partir de outubro de 2020 é que o hospital tornou-se unidade mista, concentrando, além de casos de Covid-19, pacientes cirúrgicos. Em ambas as situações, os internados estão expostos a eventos estressores que podem desencadear ansiedade, por exemplo.

A coordenadora da Psicologia Hospitalar, Narjara Bezerra, explica que “a proposta do serviço na unidade é ajudar o sujeito e sua rede de apoio a fazer a travessia da experiência do adoecimento”. Até o mês de julho de 2021, o setor do Helv realizou mais de 20.500 atendimentos a funcionários e pacientes da instituição.

Atendimento infantojuvenil

Na assistência às crianças e adolescentes atendidos no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), a Psicologia atua tanto no apoio aos pacientes internados, quanto no suporte às famílias. Além disso, por meio da equipe de residentes da área, são realizadas consultas ambulatoriais eletivas para pacientes encaminhados por outras especialidades do hospital. Em média, a equipe de psicólogos da unidade realiza cerca de 480 atendimentos mensais, nas mais diversas demandas, entre elas: adaptação à hospitalização; compreensão diagnóstica; adesão ao tratamento; reações psicológicas a intercorrências clínicas, cirurgias, procedimentos invasivos, ao processo de morrer e ao óbito, no caso dos familiares; mediação de conflitos entre paciente, responsáveis e equipe assistencial; crises psicológicas; além da preparação para alta.


Atendimento psicológico no Hias é pensado de acordo com o grau de desenvolvimento e os interesses das crianças e dos adolescentes

Segundo Chirliane Alves, coordenadora interina da Psicologia no Hias, em geral, o atendimento aos pacientes têm por objetivo minimizar o sofrimento da internação, com recursos lúdicos, e realizar intervenções para contribuir com a continuidade do processo de desenvolvimento cognitivo das crianças, principalmente no caso daquelas que estão internadas há mais tempo. “O atendimento é bem individualizado, a terapia é pensada de acordo com o grau de desenvolvimento e os interesses das crianças e dos adolescentes. Usamos brinquedos diferentes, imagens de super-heróis; temos o livro das emoções, que trabalhamos com os adolescentes. Afinal, precisamos acessar os pacientes por meio das coisas que eles gostam. Eles não podem escolher tomar ou não uma medicação, porém, no atendimento psicológico, é importante respeitar os interesses dos pacientes, até para o tratamento fluir melhor”, entende.

Cardiopatas e pneumopatas

Já no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM), o serviço atua na promoção, na prevenção, no tratamento e na reabilitação da saúde do cardiopata e pneumopata, nas diferentes faixas etárias, contribuindo para o nível de saúde mental, a aderência ao tratamento e a qualidade de vida dessa população. As ações da equipe da Psicologia incluem atendimento clínico ambulatorial, visitas junto ao leito, avaliações psicológicas, identificação de casos críticos e estabelecimento do atendimento e segmento. Durante a pandemia da Covid-19, o HM intensificou o atendimento psicológico aos servidores da unidade. O atendimento, realizado com agendamento prévio, acontece de forma presencial, duas vezes por semana, e tem sido um espaço de escuta para os profissionais neste momento tão desafiador.

Projetos no HRN

Em Sobral, o Hospital Regional Norte (HRN) é composto por quatro psicólogos. Os profissionais atuam em todo o espaço hospitalar para atendimento em duas possibilidades: como referência no serviço, integrando a equipe multiprofissional, e por interconsulta, quando há a necessidade de uma atenção do psicólogo em casos específicos. Em 2021, foram mais de três mil atendimentos a pacientes e familiares.


No HRN, serviço de Psicologia também auxilia no contato com as famílias por meio de chamadas de vídeo

O HRN também conta com o atendimento individual de funcionários. Somente neste ano, mais de 90 assistências foram realizadas. “São dois projetos principais. O de Qualidade de Vida do funcionário, no qual nós ofertamos atendimento psicológico aos colaboradores, e o atendimento a funcionários enlutados, com acolhida de colaboradores que perderam seus parentes. Dentro do Projeto de Qualidade de Vida, também ofertamos rodas de conversa nos setores sobre questões apresentadas por cada um”, explica a coordenadora do serviço de Psicologia da unidade do Interior, Raiza Ribeiro.

Subjetividades em doenças infectocontagiosas

O Hospital São José (HSJ), referência em Infectologia no Ceará, possui um Núcleo de Psicologia para dar suporte a pessoas com doenças infectocontagiosas atendidas na instituição. Ao todo, são sete psicólogas, que atuam nas unidades de internação e no Ambulatório. A assistência prestada pelas profissionais é fundamental para proporcionar escuta e acolhimento a pacientes e seus familiares, sobretudo durante a pandemia de Covid-19.

“Nós observamos todas as subjetividades em torno das doenças infectocontagiosas que podem dificultar o estar na internação, a adesão ao tratamento, a procedimentos médicos e à medicação, por exemplo. Por isso, o trabalho da psicóloga é escutar o paciente sobre seus sentimentos, afetos e angústias em torno do adoecimento e tentar minimizar o sofrimento psíquico”, explica Karla Miranda, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Psicologia.


Gisele Dutra atua no HSJ há cerca de dois anos e meio e acompanha pacientes internados na UTI

Gisele Dutra chegou ao São José há dois anos como residente multiprofissional. Após concluir a especialização, ela se tornou funcionária do HSJ, onde acompanha pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Para mim, é gratificante poder fazer a diferença na vida das pessoas atendidas aqui, seja em momentos tristes ou de alegrias. Durante a pandemia, em especial, os pacientes tinham muita necessidade de atendimento psicológico e nós buscamos estratégias para prestar a assistência da melhor forma possível”, pontua.

Acompanhamento em pacientes com obesidade

O acompanhamento psicológico é parte essencial no tratamento da obesidade realizado no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), do qual faz parte a cirurgia bariátrica. Por meio de sessões individuais e em grupos, os psicólogos desenvolvem ações que ajudam o paciente a passar por todas as etapas, bem como conviver com as mudanças provocadas pela cirurgia no processo de emagrecimento para uma melhor qualidade de vida.

“O atendimento contempla pacientes tanto no pré-operatório, como no pós-operatório. A gente faz uma avaliação para, ao fim, emitir o parecer psicológico para a cirurgia. Também observa se a pessoa tem algum histórico de transtorno psiquiátrico, tentativa de suicídio, histórico de etilismo ou dependência química, de uso de substâncias psicoativas. Analisa-se, ainda, a vontade e a disposição do paciente em realizar ajustes no seu repertório de comportamento para se adequar ao novo estilo de vida que ele deverá ter no pós-operatório da cirurgia bariátrica”, sublinha a psicóloga Maria Silane Sousa e Silva.


Encontros individuais do acompanhamento psicológico favorecem o tratamento da obesidade

Débora Carvalho Gomes da Silva, de 55 anos, esteve em seu primeiro acompanhamento após a cirurgia. Moradora de Canindé, no interior cearense, destaca a importância de contar com o serviço. “Para mim, é muito importante. A gente precisa muito porque tem ansiedade. Não é fácil uma cirurgia dessas. A gente fica com medo, tem também a importância de toda família querer (a cirurgia). Sempre que venho para cá, sou bem atendida por todos os profissionais. Eles conscientizam a gente sobre muita coisa”, reconhece.

O Serviço de Psicologia do HGCC atua nas assistências hospitalar e ambulatorial, nas Enfermarias Clínicas, Cirúrgicas e de Maternidade, nas Salas de Parto, na UTI Adulto, no Centro de Neonatologia e no atendimento aos colaboradores do próprio hospital, além de contribuir com algumas comissões existentes na instituição, no ensino e na pesquisa.