31 anos do SUS: atendimento universal ganha maior relevância após pandemia

17 de setembro de 2021 - 10:20 # # # # #

Jackson de Moura - Ascom ESP - Texto
Tatiana Fortes e Arquivo Pessoal - Fotos
Francisco Oliveira e David Tomás - Artes gráficas

Para o enfrentamento da Covid-19, o Governo do Ceará adquiriu o Hospital Estadual Leonardo da Vinci, que foi integrado à rede de saúde pública estadual de forma permanente

Os efeitos da pandemia são amplamente conhecidos por sobrecarregar o sistema de saúde. Seja ele público ou privado, Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) tiveram seus leitos completamente ocupados. A pressão imposta, ao contrário do que se poderia imaginar, mostrou como as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) – composto pelo Ministério da Saúde, estados e municípios – foram e são essenciais para o cuidado à população de forma universal, sem distinção. A imunização contra a Covid-19 beneficia todos os cearenses também graças ao SUS. Tudo isso apenas para citar como o contexto pandêmico impacta em sua notoriedade. Seja com um “Viva o SUS” estampado nas camisas, em hashtags nas redes sociais ou ainda nas rodas de conversa, o sistema público de saúde brasileiro completará 31 anos neste domingo (19) mais reconhecido, valorizado e galgando ainda mais protagonismo.

O SUS sempre foi o plano de saúde do psicólogo Clayton de Oliveira. Ele, que nunca foi usuário de um seguro privado, acredita que, se não fosse o sistema público, não teria completado, há uma semana, a imunização contra a Covid-19. “Tudo o que o SUS possibilitou à população ao longo desta pandemia, para mim, não é surpresa. Eu já tinha plena consciência do seu acesso universal, mas boa parte da população não tinha informação suficiente para valorizar o SUS”, avalia.

Uma pesquisa produzida pelo centro de estudos Sociedade, Universidade e Ciência (Sou_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), evidencia este momento de redescoberta do SUS no Brasil. Antes da disseminação do coronavírus, 40% dos brasileiros atribuíam importância altíssima ao SUS. Com a doença, esse número foi elevado para 62%. Já o percentual dos que dão importância baixa ou baixíssima caiu de 14% para 9%. Foram ouvidas 1.268 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 2 e 5 de agosto deste ano em todas as regiões do País.


Especialistas apontam que, mesmo diante de desafios, o SUS é referência em saúde pública no mundo. “A pandemia mostrou a força que o SUS tem. Isso ficou claro para a população como um todo que não acreditava no sistema. Se nós não tivéssemos essa potencialidade do SUS, a pandemia teria sido mais difícil de ser enfrentada”, avalia Gláucia Posso, consultora em Educação Permanente da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).

Para a especialista, além de a pandemia evidenciar a capacidade do Sistema Único de Saúde de lidar com o surgimento de novas doenças, a defesa pela manutenção de um sistema de saúde público e universal se fortaleceu, tornando um cenário mais favorável de luta e cobrança por melhorias junto aos governantes, embora o País enfrente adversidades e visões políticas polarizadas.

Atuação do SUS

Criado efetivamente pela Lei Orgânica de Saúde Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, o SUS atua desde o tratamento de diversas doenças e fornecimento de medicamentos da atenção primária a casos de alta complexidade. Além disso, o sistema público nacional é referência mundial pela atuação no enfrentamento de HIV/aids, tuberculose, hepatites e hanseníase. O Brasil também é exemplo por ter o maior sistema público de transplantes de órgãos e tecidos.

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Gláucia Posso destaca que o SUS é uma política pública de saúde acertada, pois está em todo o País, apesar de sua extensão territorial. “O SUS é um grande vitorioso. O Brasil, com essa sua dimensão continental, consegue trabalhar de uma forma satisfatória, mesmo com todas as dificuldades que ainda temos”, diz. O País é o único do mundo com mais de 200 milhões de habitantes que tem um sistema de saúde público e gratuito.

Natural de Baturité, o ator Jeovane Fraga, 36, vive em Nova York há dois anos. Os mais de seis mil quilômetros de distância do Ceará só o aproximaram de reconhecer a importância e necessidade do SUS para assistência à saúde da população brasileira. “Vivendo fora do Brasil, minha percepção sobre o sistema de saúde só melhorou. É só orgulho de ter esse sistema no País, o maior sistema de saúde pública do mundo. Eu conheci as dificuldades, a realidade, o que ainda tem pra melhorar, mas os avanços são muitos! A saúde aqui nos EUA é caríssima, graças a Deus nunca precisei usar. Não tenho plano de saúde“.


Há dois anos morando nos EUA, o cearense Jeovane Fraga tem orgulho do SUS: ‘Vivendo fora do País, minha percepção sobre o sistema de saúde só melhorou’

O artista conta que o SUS salvou a saúde da mãe por duas ocasiões: primeiro de um câncer de mama e, depois, de uma cirurgia delicada no intestino. A experiência pessoal com o sistema e a atuação também como profissional de saúde – fisioterapeuta, ele atuou por cinco anos na 4ª Coordenadoria Regional de Saúde de Baturité – fez com que ele montasse o espetáculo A Usuária do SUS, apresentado em vários municípios cearenses e num festival de teatro no Rio Grande do Sul.

“Na peça, a personagem dona Susete é uma defensora do SUS. Ela mostra os nossos direitos, mas principalmente os nossos deveres com esse sistema, que precisamos cuidar, zelar, fiscalizar. Ela também enfatiza que todos os brasileiros utilizam o SUS, diariamente, seja pelo controle da qualidade da água, serviços como o Samu 192 [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência], campanhas de vacinação e tantos outros”, conta. Com a personagem que criou, Jeovane mostrou que valorizar o SUS é um papel que todo brasileiro pode exercer.