Autismo: especialista do HSM alerta sobre a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento multiprofissional
1 de abril de 2022 - 13:00 #conscientização #HSM #Naia #Sesa #Transtorno do Espectro Autista
Milena Fernandes - Ascom HSM Texto e Fotos
Patrícia Saraiva, 37, dona de casa, é mãe de Gabriel, de 14 anos. Ele é paciente do Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência (Naia) do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Ela conta que procurou o serviço quando o filho tinha apenas dois anos para investigar alguns sinais diferentes.
“Recebemos o diagnóstico do autismo quando Gabriel estava com sete anos, mas, desde os dois, ele é acompanhado por vários especialistas do HSM. O convívio social dele sempre foi muito difícil. Só queria ficar no quarto e, de preferência, sozinho. Com o tratamento aqui no hospital, ele vem conseguindo se adaptar melhor no colégio e interagir com amigos e familiares. As medicações e as intervenções são fundamentais para o desenvolvimento neurológico e comportamental dele”, contextualiza.
O Naia do HSM atende cerca de 100 pacientes, entre quatro e dezesseis anos, diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA). O atendimento pode ser mensal ou semanal, de acordo com a necessidade. Uma equipe multiprofissional formada por psiquiatras, psicólogos, residentes em Psiquiatria, assistente social e pediatra faz esse acompanhamento e oferece suporte aos familiares.
O Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência do HSM atende cerca de 100 pacientes, entre quatro e dezesseis anos
“A família do autista merece ser olhada e cuidada porque sofre muito se for deixada de lado e pode até desenvolver transtornos mentais nesse caminho”, explica o psiquiatra do Naia, Erick Rebouças, especialista em Infância e Adolescência.
No Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 2 de abril, o HSM reforça a importância da atenção aos primeiros sintomas para que o diagnóstico e o acompanhamento aconteçam o mais precocemente possível. “O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que começa na gestação e que vai dar seus sinais iniciais na primeira infância. Os primeiros sintomas podem ser notados naquele bebê que chora muito, por horas, sem nada que o console. Geralmente, ele não olha para a mãe no momento da amamentação, demora a falar as primeiras palavras e vai crescendo demonstrando dificuldade de interação social e de comunicação verbal e não verbal”, descreve o psiquiatra.
Além disso, a necessidade de uma rigidez na rotina, com brincadeiras repetitivas e brinquedos não usais, pode ser um importante indicativo. “Algumas vezes pode acontecer também o retardo no desenvolvimento motor da criança, com dificuldade para sentar sozinho e andar sem apoio”, diz Rebouças.
Diagnóstico
O diagnóstico do autismo é clínico, ou seja, não existe um exame específico que o comprove. Ele é realizado após a investigação do médico, que, acompanhado da equipe multiprofissional, vai perceber esses sinais e analisar esses sintomas para definir e orientar a conduta.
Tratamento
Segundo o especialista, as intervenções e as terapias são direcionadas à adaptação do paciente. “Quando a gente indica as intervenções, não é para curar qualquer coisa que seja. É para favorecer o neurodesenvolvimento o quanto antes, porque ele começa na gravidez e vai até, mais ou menos, os 22 anos, período em que o cérebro está concluindo a sua formação. O ideal é que o acompanhamento envolva uma equipe multiprofissional com fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, psiquiatra, psicopedagogo e educador físico”, informa.
“Não se deve olhar para o autista com preconceitos ou achar que algumas atitudes aconteçam por falta de educação. Sugiro trocar essa posição de julgamento por uma posição de suporte”, afirma o psiquiatra Erick Rebouças
No ambulatório de autismo do Naia, os pilares do atendimento estão relacionados à autonomia. “Ou seja, sempre vamos fazer de tudo para que o autista dependa o mínimo possível do suporte dos outros. Em relação ao uso de medicações, sempre temos o cuidado de receitar somente as necessárias, com doses baixas, pelo menor tempo possível”, ressalta o psiquiatra.
“Lugar de autista é em todo lugar“
O tema da campanha nacional deste ano para o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo é “Lugar de autista é em todo lugar“, com a hashtag #AutistaEmTodoLugar, para promover uma mensagem inclusiva à sociedade.
“Não se deve olhar para o autista com preconceitos ou achar que algumas atitudes aconteçam por falta de educação. Sugiro trocar essa posição de julgamento por uma posição de suporte. Que tal chegar junto à família com as seguintes perguntas: tem algo que posso fazer por você? Como posso te ajudar? Porque, muitas vezes, os familiares têm medo desse olhar das pessoas. Isso não deve existir entre nós”, orienta.
Outra atitude muito importante é não infantilizar a pessoa autista. “Você não precisa se comunicar indiretamente. Não tem necessidade de um outro alguém intermediar a conversa. Ao falar com o autista, sempre respeite o espaço dele. Ao pedir alguma coisa, por exemplo, você pode perguntar da seguinte forma: Eu posso te abraçar? Você pode me emprestar esse brinquedo? O mais importante é interagir de forma respeitosa”, frisa Erick.
Ambulatório para Autistas do Naia
Para ser atendido pelo Naia – Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência do HSM, é necessário ser encaminhado pelos postos de saúde, pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e pela Central de Regulação da Secretaria da Saúde do Estado.
Dia do Autismo
O Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo é comemorado em 2 de abril e foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data foi escolhida para conscientizar a população mundial e reduzir o preconceito. A condição de saúde, caracterizada por desafios em habilidades sociais, comportamentos repetitivos e dificuldade na comunicação, vem afetando cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo. Com as terapias aplicadas atualmente, essas pessoas podem melhorar, cada vez mais, a sua condição e as suas relações.