Pesquisa pioneira indica existência de um único e extenso recife na América do Sul
22 de novembro de 2022 - 16:39 #artigo #cientistas #Nature #Scientific Reports
Silvio Mauro - Ascom Funcap
Trabalho de cientistas conta com apoio da Funcap e resultou em publicação de artigo em periódico relevante
Um trabalho inédito e conjunto de 23 cientistas com apoio da Funcap resultou na publicação de artigo na revista Scientific Reports, do grupo Nature (um dos mais importantes do mundo na área de periódicos de ciência). Pela primeira vez, foi demonstrado que os recifes brasileiros fazem parte de um único e extenso ecossistema marinho na costa da América do Sul que vai da Guiana Francesa ao Sudeste do Brasil. Com o título “Interconnected marine habitats form a single continental-scale reef system in South America”, o artigo contou com a participação de pesquisadores de Brasil, Itália, Alemanha e Estados Unidos.
O trabalho foi liderado pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar). Os pesquisadores do Labomar que participam do artigo contam com o apoio da Funcap em seus estudos, em especial no Programa Ecológico de Longa Duração (PELD) e no Programa Cientista Chefe.
Foram obtidos, na pesquisa, dois achados principais, a partir das evidências coletadas. O primeiro foi a existência de um recife tropical extenso na costa semiárida do Brasil (Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte) com cerca de mil quilômetros de extensão. Ele foi detectado através da coleta de dados por filmagens submarinas e informações científicas já publicadas sobre o ecossistema. Além disso, foram feitos mapeamentos usando imagens de satélites e mergulhos para análise da vida marinha em espécies como corais, algas, peixes e esponjas, para obter mais evidências.
“Essa região da costa semiárida nordestina era dita como pobre nesses ambientes, porém os dados que levantamos mostram o contrário: mapeamos cerca de 192 recifes, sendo esses frequentes entre 20 e 50 metros de profundidade e abundantes abaixo de 50 metros. O alinhamento e a conexão desses ambientes são claros nos mapas e mostram que eles são parte de um único e imenso sistema recifal com área potencial de 34 mil km²”, afirma Pedro Carneiro, primeiro autor do artigo e pesquisador da UFDPar.
O segundo achado foi a comprovação de que o sistema recifal da costa semiárida está integrado com os outros dois existentes na América do Sul. Um deles é o da costa amazônica, já identificado por pesquisas realizadas nos últimos 50 anos. Ele tem cerca de 56 mil km² e se estende por aproximadamente 1 mil km entre a Guiana Francesa e o estado do Maranhão. O outro é o da costa leste brasileira, que tem cerca de 2 mil km e vai do litoral do Rio Grande do Norte até a região Sudeste.
“Não existe sentido no recife amazônico parar no Maranhão, porque não há nenhuma barreira natural lá. Quando se coloca no mapa os três componentes (recife amazônico, o da costa semiárida e o da costa leste) se vê claramente que temos um grupo único de recifes”, argumenta Marcelo Soares, professor do Labomar e um dos coordenadores da pesquisa.
O trabalho dos cientistas analisou dois bancos de dados disponíveis (um com 2.412 e outro com 8.375 espécies) que mostram a existência de uma clara conexão da vida marinha entre os três componentes do sistema recifal da América do Sul. Essa conectividade acontece pelas correntes marinhas, pela reprodução e pelo movimento dos animais. “Estamos falando de um único e vasto sistema recifal com quase 4 mil km, com tamanho comparável ao da Grande Barreira de Corais da Austrália e da Barreira Mesoamericana no Mar do Caribe (América Central). A América do Sul não tem somente uma das maiores florestas tropicais (Amazônia) e planícies alagáveis (Pantanal) do mundo, mas também um dos maiores recifes tropicais”, finaliza Marcelo Soares.
A pesquisa inédita pode ajudar a elaborar ações e políticas públicas para conservação de um dos maiores ecossistemas tropicais do planeta e ganha ainda mais importância porque estamos na Década do Oceano (2021-2030), definida pela Organização das Nações Unidas. Os dados mostram que a visão de planejamento marinho deve ser ampla e considerar toda a área, visando manter a conectividade e evitar que o recife da América do Sul seja degradado por uma série de impactos humanos (como exploração de óleo e gás, pesca excessiva e poluição).
Para quem quiser ler a íntegra do artigo, ele está disponível (em inglês) gratuitamente