Estação das Artes: complexo cultural enriquece o fim de semana cearense

28 de janeiro de 2023 - 08:09 # # # # # #

Isabella Campos - Ascom Casa Civil - Texto
Tatiana Forte - Fotos

A centenária Estação Ferroviária João Felipe, hoje Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, recebe o cearense, aos finais de semana, para um novo propósito: a apreciação da arte, cultura e regionalidade. Inaugurada em março de 2022, o local agora é palco de exposições, shows, feira gastronômica, sorrisos e trocas de afeto.

“Nós adoramos os espaços públicos, tanto aqui, quanto o Passeio Público, a Cidade da Criança, as praças. [Desde que abriu] a gente tenta vir, pelo menos, um ou dois domingos por mês”, disse Fernanda Regalado, arquiteta, acompanhada da filha de 5 anos, que aproveitou o momento para se divertir com as atividades oferecidas ao público infantil.

Com uma programação diversificada aos finais de semana, o espaço dedica as manhãs de domingo às famílias cearenses, com o já conhecido “Domingo na Estação”. A antiga Estação Central de Fortaleza promove diversão e confraternização entre famílias, onde a programação oferece música com DJs, oficinas infantis, apresentação teatral, feira gastronômica,exposições e outras atividades, das 9h às 15h.

“Aos domingos acontece uma programação mais familiar que já foi incorporada à rotina no fortalezense e dos visitantes também, mas aos sábados temos uma programação mais voltada para o público jovem. Já tivemos shows com três mil pessoas, que os jovens chegam com toda força e toda alegria”, ressalta Lara Vieira, diretora presidenta do Instituto Mirante.

Para a arquiteta Fernanda, esse tipo de iniciativa só enriquece cada vez mais a cidade. “Tem muitas atrações. A pintura, a música, os espaços mesmo.Venho para ela poder passear, andar de patinete, [além disso] ela sempre encontra com os amigos. Fortaleza é outra Fortaleza, e a gente usufrui muito [mais] dos espaços públicos”, pontua.

Além dos sábados e domingos, nas sextas-feiras o local conta com a programação chamada ‘Som na Praça’, que acontece na praça em frente a estação e aberto ao público, no entanto, por conta do período de chuva, a programação das sextas, por ser ao ar livre, deve ter uma pausa nos próximos meses. .“É uma programação que inclui múltiplas linguagens artísticas e é voltada para os mais diversos públicos, porque a ideia é que todos ocupem a estação”, pontua Lara Vieira.

O funcionamento da Estação às sextas-feira é das 18h às 21h30, já aos sábados é das 16h às 21h. A programação completa e atualizada pode ser conferida nas redes sociais

Resgate afetivo

A estação, que durante tanto tempo foi um espaço de chegadas e partidas, inclusive de onde partiu a primeira locomotiva de Fortaleza, agora faz um convite à permanência, à apreciação da identidade do povo cearense.

“A Estação João Felipe, antiga Estação Central do Estado do Ceará, foi muito importante no desenvolvimento desse Estado. Quando ali, nos anos 2000, a estação foi fechada, esse prédio estava se deteriorando. Então, a iniciativa do Governo do Estado do Ceará, à época do governador Camilo Santana, foi de recuperar esse prédio pensando na preservação do nosso patrimônio histórico e afetivo. Quando trazemos artistas cearenses e valorizamos a sua cultura, a gente quer, exatamente, fortalecer a nossa identidade. A identidade do Ceará é, exatamente, a identidade cultural do seu povo”, explica a presidente do Instituto Mirante.

Maira Regina, produtora cultural de 57 anos, é um desses cearenses que vem renovando seus laços com a cultura no espaço. Uma das DJs das manhãs de domingo, a promotora teve um momento familiar importante no local: sua mãe, de 87 anos, foi lhe assistir. “Para mim, é sempre um grande prazer ouvir música com a minha mãe. Durante a pandemia, a gente não podia mais ir à praia, que sempre íamos. Então, peguei todas as coleções dela, do Roberto Carlos, e no dia de domingo ouvíamos música juntas. E assim vamos vivendo, ouvindo música juntas, se amando”, pontua a produtora.

Foi a primeira vez da idosa no local e, apesar de ter a locomoção e a audição limitada, Maria Alderi, ou como prefere, Dona Eurides, fã número um da filha, se divertiu. “Mãe é mãe, é a melhor coisa, e hoje ela tá aqui, do meu lado, me prestigiando. Para mim é um super prazer tocar pra ela. Música é minha alma, e ter minha mãe me prestigiando é como retomar nossos passeios que foram, por um bom período, suspensos. Viva a vida! ”, destaca a produtora.

Espaço

O local que hoje chama-se Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, para além do nome Estação Ferroviária João Felipe, já foi conhecida como Estação Central, e foi aberta ao público em 1880. O patrimônio histórico e cultural do Ceará renasceu como um Complexo Cultural, um empreendimento de 67 mil m².

No local funciona a Estação das Artes, o Mercado AlimentaCE, a Pinacoteca do Ceará, o Centro de Design Do Ceará, o Museu Ferroviário João Felipe, além da futuras novas sedes da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ceará (Iphan-CE).Todos os citados integram a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secult Ceará, com gestão em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte.

O projeto de intervenção teve início em agosto de 2019, sendo executado pela Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP). A Estação das Artes se insere no Plano Estadual de Cultura para qualificação do Centro da Cidade e do convívio social, no âmbito do ‘Fortaleza 2040’ e ‘Ceará 2050’ através das artes e da cultura. Trata-se de um projeto que reúne políticas culturais de artes, patrimônio cultural e memória, formação, economia criativa, cidadania e diversidade cultural.

A Pinacoteca do Ceará, um desses equipamentos, foi inaugurado no último mês de dezembro, e oferece a mostra “Bonito pra chover”, composta de três exposições de longa duração: a “Amar se Aprende Amando”, sobre o centenário de nascimento do artista cearense Antonio Bandeira a partir de obras que integram o acervo do Governo do Ceará; a “No Lápis da Vida não Tem Borracha”, que aborda o centenário de nascimento do artista cearense Aldemir Martins; e a “Se Arar” lança um olhar sobre a história da arte no Ceará, a partir de obras que integram o acervo do Governo do Ceará e de obras de 169 artistas, sendo 40 convidados, atravessando diversas gerações.

O Centro de Design do Ceará também é um dos equipamentos em pleno funcionamento do Complexo Cultural, com exposições, cursos e demais ações voltadas para difundir os conceitos e possibilidades da linguagem. O equipamento atualmente abriga a exposição “Tempo Presente em Nós: design, memória e inovação”, que reúne aproximadamente 200 peças, partindo do fazer ancestral como principal saber do design, com a premissa que não há fronteiras entre a cultura popular, o design e a arte.

Conexão com a comunidade

Com o objetivo de aproximar esse complexo das pessoas que residem à sua volta, o Instituto Mirante achou importante incorporar moradores do Moura Brasil, comunidade localizada perto do equipamento, às atividades culturais e gastronômicas do local. O trabalho é realizado a partir do Núcleo de Articulação Comunitária e Afirmativa (Naca), que tem o objetivo de identificar a identidade econômica, social e cultural da comunidade.

“Nós já promovemos, não só vários momentos, várias reuniões com a comunidade, a partir da identificação das suas lideranças, como já desenvolvemos atividades na comunidade. [Nós queremos] fazer com que as pessoas da comunidade participem não só das atividades propostas, mas nos ajudem na construção dessa programação e das atividades que vão ser desenvolvidas aqui”, explica Lara Vieira. “A gente entende que não pode chegar com um equipamento público, dessa magnitude, sem o diálogo com a comunidade”, completa.

“Uma porta de início para muita coisa”, é assim que Pérola trata a Estação das Artes. Uma das pessoas impactadas por essa ação. Ela é vendedora de acarajé na Estação, uma figurinha carimbada do local. “É muito importante um equipamento desse, como a Estação das Artes, que abre oportunidades para os empreendedores. Principalmente, para as empreendedoras mulheres que batalhamos todos os dias”, ressalta a vendedora.

A oportunidade também lhe ajudou a expandir os negócios. “Eu, que já comercializo acarajé há muito tempo, expondo aqui na Estação das Artes, eu consegui convite para expor em outros espaços. Acaba sendo uma vitrine, então é muito bom estar aqui”, finaliza.