Arteterapia reabilita jovens abrigados em Residências Inclusivas do Ceará

27 de abril de 2023 - 15:35 # # # #

Sheyla Castelo Branco/Ascom SPS - Texto
Ascom SPS - Foto

Em um mundo sem luz e sem som, Romário de Lima, 25, não perdeu a curiosidade por descobrir o que o cerca. Ao contrário, ele adora participar das aulas de teatro da psicopedagoga Oda Araújo. O jovem, que é cego, surdo e tem deficiência cognitiva moderada, está em abrigamento desde 2014. Oda conta que ela e os outros residentes se comunicam com Romário por meio de Libras tátil.

 Aulas de artes e apresentações

“Nós fazemos os sinais de Libras tocando as mãos dele para que ele entenda o que estamos falando e consiga participar de todos os momentos da aula. Eu acho a coisa mais linda a curiosidade dele de querer aprender sobre tudo. Antes de perder a visão por completo, Romário aprendeu Libras e hoje se comunica através da língua de sinais, além de ser um dos alunos mais dedicados do Instituto Cearense de Educação dos Surdos”, conta, orgulhosa, a psicopedagoga.

Romário vê, escuta e sente o mundo ao seu redor com as mãos, e ao lado de outros 80 jovens com deficiências neurológicas e transtornos psiquiátricos abrigados nas seis residências inclusivas coordenadas pela Secretaria da Proteção Social (SPS) do Estado do Ceará, vem protagonizando sua própria história. As aulas de arte que eles participam acontecem todos os dias da semana na sede da Associação dos Moradores do Conjunto Tancredo Neves (AMCTN), que é parceira da SPS.

Além das aulas de teatro, Oda desenvolve atividades psicomotoras com os jovens e trabalha o movimento muscular e o sistema nervoso deles através de jogos lúdicos, pintura, teatro de sombras e brincadeiras com materiais recicláveis, como tampinhas de garrafas pet e papelão.

A arte é um remédio

Com o papelão, Rafael Oliveira, 28, que tem o transtorno da esquizofrenia, cria cases para celular e tablet. Acolhido por volta dos seis anos de idade, Rafael conta que cria suas artes a partir de modelos que vê na internet. “Eu gosto de criar coisas que podem servir não só pra mim, mas também para as outras pessoas da casa. Gosto de criar brinquedos com papelão e palitos de picolé”, conta, enquanto mostra suas artes.

“A arte é o remédio mais eficaz que existe para tratar os transtornos de saúde mental. A arteterapia traz à tona o que eles têm dentro de si e com isso ajuda no processo de expressão de suas dores e alegrias”, conta Oda, que ao longo destes 10 anos trabalhando com jovens com deficiência cognitiva abrigados pelo Estado foi descobrindo como despertar a curiosidade de cada um deles através da psicoterapia.

No outro canto da sala de artes, Rogério de Morais, 27, que é fã das divas do pop, Shakira, Beyoncé e Lady Gaga, se prepara para a apresentação da peça “A Paixão de Cristo”. Empolgado, ele conta que gosta de participar do grupo de teatro porque sente que as pessoas o observam e admiram durante as apresentações. “Gosto de poder ajudar meus colegas a se soltarem na dança e adoro me apresentar para outras pessoas, me sinto visto e admirado”, explica Rogério, que chegou no serviço de abrigamento do Estado com apenas 10 anos de idade, vindo de Juazeiro do Norte. O menino, que chegou tímido e quieto, floresceu, terminou os estudos, fez o Exame Nacional do Ensino Médio e tem orgulho de dizer que domina todas as dancinhas do TikTok. Rogério hoje consegue ver beleza em si mesmo, nos seus movimentos e na pessoa que ele está se tornando.

A coordenadora da Proteção Social Especial da SPS, Mônica Gondim, lembra que as seis residências inclusivas são casas que contam, cada uma, com equipe multidisciplinar composta por médico psiquiatra, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiros, pedagoga, trabalhadores domésticos e cuidadores em regime de plantão.

“A arteterapia é imprescindível para recuperar a autoestima deles e estimular a autonomia. Nossos acolhidos têm muitos comprometimentos, físicos e psicológicos, e nosso maior desafio é estimular as potencialidades de cada um, a partir de atividades simples e cotidianas como ajudar na arrumação da casa deles e também através da psicoterapia”, pontua a coordenadora.