Teste do pezinho: algumas gotas de sangue podem mudar a vida de um bebê
5 de junho de 2023 - 16:13 #lacen #saúde #teste do pezinho
Ana Lídia Coutinho, Fátima Holanda, José Avelino Neto, Teresa Fernandes e Wescley Jorge - Ascom Sesa, HGCC, Hias, HRN e HRSC - Texto
Thiago Freitas - Foto
Letícia Maria - Arte gráfica
Coleta de material para a realização do teste do pezinho
Algumas gotas de sangue do pezinho do bebê e um resultado que pode mudar a vida dele. Com detecção de seis doenças, o chamado teste do pezinho deve, preferencialmente, ser feito entre o 3º e o 5º dia de vida do recém-nascido. Se não for possível, pelo menos até o 30º dia de nascimento. O assunto é lembrado no dia 6 de junho, dia Nacional do Teste do Pezinho.
No Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o teste é garantido a todos os nascidos no Hospital, bem como de outras maternidades. Para ter acesso, basta ir ao Setor Ambulatorial do HGCC (Av. Imperador, 372), no horário das 8h às 15h. Os pais devem levar documento de identidade da mãe, cartão do SUS da mãe da criança, papel emitido pela maternidade no qual constam a hora do nascimento e o peso do recém-nascido, certidão de nascimento da criança ou Declaração de Nascido Vivo (DNV).
“As amostras coletadas dos recém-nascidos no Centro de Ambulatórios do HGCC, bem como os internados em alojamento conjunto ou UTI Neonatal, são enviadas para o Laboratório Central (Lacen). Após o resultado, caso seja necessário, o bebê é encaminhado a um centro de referência, para o tratamento”, explica o bioquímico, Daniel Nascimento, chefe do laboratório do Hospital.
As doenças detectadas são: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. A neonatologista Ana Daniele Vitoriano, chefe do Centro de Neonatologia do HGHCC, lembra que quanto mais cedo – a partir das 72h de vida – o teste for realizado, melhor. “Se realizar o mais breve, o tratamento pode ser iniciado o mais precocemente possível”.
A primeira filha de Antonia Lidiane da Silva Barbosa, costureira, de 25 anos, nasceu no sábado, 27 de maio. Três dias depois, o material para o teste do pezinho de Bruna Luara, já tinha sido coletado. Agora é só esperar o resultado. Para a mãe, sair do hospital como os exames realizados é uma segurança. “Eu fico muito feliz de o Hospital ter realizado todos os exames porque daí a gente já sai com a certeza de que a criança está bem. A gente que é mãe sai muito feliz, segura” destaca Barbosa.
Antonia Lidiane se sente segura em ir para casa com os testes da filha realizados
No Hospital César Cals, em 2022, 3.363 crianças foram beneficiadas com o teste. Nesse ano, de janeiro a abril, já foram feitos 1.408 testes do pezinho. Os números são referentes aos bebês nascidos no Hospital César Cals, bem como em outras maternidades.
Detecção e tratamento de doenças raras
O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) desempenha um papel crucial na identificação e tratamento de doenças raras detectadas por meio do teste do pezinho. Como referência no estado, as equipes do Hias realizam o primeiro atendimento e acompanham essas crianças, além de aprofundar com exames mais específicos. Após a coleta na unidade de saúde, o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), encaminha os resultados alterados ao Hias e imediatamente é agendada a consulta do paciente pediátrico com o devido especialista.
Conforme a endocrinologista Carina Barroso, o teste é fundamental para detectar a hiperplasia adrenal congênita, uma doença que diminui o cortisol e aumenta a produção de hormônios sexuais masculinos. Também são identificadas alterações no hormônio estimulador da tireoide (TSH), sinal do hipotireoidismo congênito. Segundo a médica, é essencial realizar a coleta do teste entre o 3º e o 5º dia de vida para garantir o sucesso do tratamento.
“O diagnóstico precoce dessas condições devem ocorrer entre a segunda semana de vida e o final do primeiro mês. A detecção acompanhada do tratamento precoce é especialmente importante para evitar sequelas, inclusive neurológicas, antes dos 2 meses de idade”, detalhou Barroso.
Por sua vez, a geneticista Erlane Ribeiro, destaca que o diagnóstico precoce, especialmente por meio do teste do pezinho, também pode prevenir os Erros Inatos do Metabolismo, como a fenilcetonúria (defeito congênito que causa acúmulo do aminoácido fenilalanina no corpo) e até mesmo o desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) como sintoma na criança.
“Quando o teste não é realizado no tempo adequado, o tratamento para a doença pode não ser iniciado no momento devido, aumentando o risco de desenvolvimento do autismo como um sintoma. O ambulatório de genética do Hias está preparado para diagnosticar crianças com doenças raras e alterações genéticas que podem estar associadas ao TEA”, detalhou Ribeiro.
HRN também oferece o teste
No Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, o teste do pezinho é realizado nas crianças internadas na Neonatologia entre o 3º e o 5º dia após o nascimento. A médica pediatra da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) do HRN, Ana Lia Rocha, ressalta que “o diagnóstico precoce das doenças reduz a morbimortalidade dos bebês”. Segundo a médica, enfermidades como a fenilcetonúria e hiperplasia adrenal congênita (HAC) podem ter um impacto reduzido com uma correção simples na dieta do bebê.
Rocha ressalta ainda que nenhuma das doenças identificadas no teste do pezinho pode ser detectada ainda no pré-natal, o que confirma a necessidade de que o diagnóstico seja realizado no período sugerido. “O teste do pezinho é um exame simples, acessível e que traz o diagnóstico de doenças graves e que podem levar à morte ou deixar sequelas”, avalia.
Pactuação de processos no HRSC
Pensando em garantir ao recém-nascido assistência especializada de forma rápida, o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC) pactuou entre os serviços internos um método de comunicação rápida que sinaliza resultados do teste do pezinho com alterações, definindo um esquema de urgência para que a família seja comunicada e receba o resultado mais rápido possível.
Além da dinâmica para garantir rapidez quando há necessidade de avisar aos familiares sobre testes alterados, o HRSC realiza a entrega de maneira informatizada. As puérperas são comunicadas via telefone e recebem os resultados na comodidade de casa, seja por e-mail ou através dos agentes de saúde dos municípios onde residem, sem que precisem voltar ao município de Quixeramobim. Ao todo, 19 municípios da região atendidas pelo HRSC.
“Pactuamos que se o teste tiver resultado alterado, o biomédico do laboratório vai comunicar ao setor específico e eles entram em contato com a família avisando que precisam levar o filho a um pediatra”, explica Júnior Coelho, biomédico e gerente do laboratório do HRSC. Desde 2019, quando o setor de obstetrícia passou a funcionar no HRSC, mais de 1.800 testes do pezinho foram realizados em parceria com o Laboratório de Saúde Pública (Lacen).
Graças a iniciativa, Márcia Bezerra Campos, moradora da zona rural de Limoeiro do Norte, soube a tempo que era preciso levar a filha a um especialista. “Foi muito bom pra mim porque eles alertaram do problema com minha filhinha e nós estamos tratando antes de ficar pior”, conta. Sendo avisada a tempo ela iniciou um tratamento no Hospital Infantil Albert Sabin. Márcia Bezerra foi avisada na comodidade de casa, sem precisar se deslocar mais de 160 quilômetros de Limoeiro do Norte até o HRSC.
Postos de coleta do teste
Atualmente a Sesa tem 370 postos de coleta distribuídos nos 184 municípios do Estado para realizar o procedimento, fornecido gratuitamente pelo Ministério da Saúde e encaminhado para análise no Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen).
Em 2022, no âmbito da administração pública, 93.939 crianças foram submetidas ao teste do pezinho no Ceará. Cada amostra coletada possibilita a realização de seis exames distintos. Nessa perspectiva, 563.634 diagnósticos foram fornecidos pelo Lacen-CE. Já entre janeiro e maio de 2023, já foram realizados 237.010 exames relacionados ao teste no Estado, em 39.501 crianças.