Dengue: a importância de estratégias integradas de prevenção e controle ‌

6 de julho de 2023 - 12:40 # # # # #

Kelly Garcia - Ascom Sesa - Texto
Bárbara Danthéias - Foto Josias Jeronimo - Arte gráfica

Para combater a dengue, é necessário eliminar todos os criadouros domiciliares

A dengue continua sendo uma arbovirose que merece atenção da população. Com sintomas muitas vezes inespecíficos, o curso clínico varia de quadros leves até casos de dengue grave, que se caracterizam pela ocorrência de sinais de alarme e complicações e, geralmente, exigem internação dos pacientes. Quem é picado pelo mosquito Aedes aegypti infectado pode ter a doença até quatro vezes, que é o número de sorotipos do vírus conhecidos (DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4).

‌A técnica em Enfermagem Adeniza Ribeiro sofreu bastante com os sintomas. No início, o problema chegou a ser confundido com uma virose. Porém, mesmo com o repouso, não houve melhora nos sintomas, o que a levou a procurar o Hospital São José (HSJ), referência no atendimento de doenças infectocontagiosas. O diagnóstico logo veio: era dengue. “Depois de quatro dias, eu fiquei muito mal, sentindo dores intensas no abdome e com muitos vômitos. Ao voltar ao hospital para repetir os exames, passei cinco dias internada. A recuperação, mesmo em casa, após a alta, era lenta. Foi a pior doença que eu peguei na minha vida”, conta.

A técnica em Enfermagem Adeniza Ribeiro sofreu bastante com os sintomas da dengue

De acordo com o secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antônio Silva Lima Neto (Tanta), para se proteger das arboviroses urbanas transmitidas pelo Aedes aegypti (dengue, Zika e chikungunya) os cuidados já são conhecidos. É necessário, por exemplo, estar atento aos locais que possam acumular água parada.

‌“O Aedes aegypti é um mosquito que vive muito próximo das pessoas. Para combater a doença, você tem que eliminar, de fato, todos os criadouros domiciliares. Especula-se que as fêmeas têm sobrevivido mais em ambientes propícios como as grandes cidades do litoral do Nordeste brasileiro. Como consequência, o aumento da sobrevivência permite que mesmo com baixas infestações ainda haja transmissão da doença”, diz.

Segundo o secretário, no momento, há a circulação apenas dos tipos 1 e 2 no Estado. “Houve recentemente isolamento do DENV3 em Roraima, o que é uma preocupação. Há mais de uma década não se detecta circulação desse sorotipo, que nunca provocou epidemias de larga escala no nosso contexto. Portanto, tem uma maior população suscetível à infecção pelo DENV3. Em tese, a transmissão poderia ser facilitada e surtos seriam mais prováveis”, destaca.

‌Meio ambiente

O Brasil viveu, nos últimos cinco anos, epidemias da dengue no centro-sul do País. Antônio Lima destaca que alguns pesquisadores apontam a expansão do habitat do mosquito para regiões de clima mais frio, até então onde não havia registro de transmissão sustentada.

‌“Tivemos epidemias importantes em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Paraná muito recentemente, com número de óbitos muito elevado, atingindo a população mais idosa, que não tem sido exposta, ao contrário daqui do Nordeste, em que a gente já convive há muito tempo com a dengue. Fenômenos como a globalização, o aquecimento global e a urbanização acelerada provavelmente têm favorecido tanto a adaptação do mosquito quanto a dispersão rápida dos arbovírus”.

‌Entretanto, é importante ressaltar que o mosquito transmissor das arboviroses dengue, zika e chikungunya só se multiplica em recipientes naturais ou artificiais com água limpa e parada. ‌“Diferentemente do Aedes aegypti, mosquitos que põem ovos em rios e lagoas, por exemplo, normalmente aqui é o Culex, conhecido popularmente como muriçoca.”, acrescenta Tanta.

O infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), ressalta que, em caso de suspeita de dengue, alguns medicamentos devem ser evitados. “São contraindicados os anti-inflamatórios, especialmente os que têm ácido acetilsalicílico (AAS). O motivo é que pacientes com dengue têm maior risco de sangramentos e essas medicações podem agravar esse problema”, destaca.

‌Dengue: o que não fazer

‌O médico também esclarece que os sintomas são os mesmos para os quatro sorotipos. “Não existe uma sintomatologia dos tipos, porque todos causam uma doença semelhante. Existem alguns trabalhos que indicam que alguns sorotipos são um pouco mais agressivos. Mas não temos nada conclusivo com relação a isso”.

‌Para se recuperar, em caso de sintomas mais leves, é indicado repouso, hidratação e o uso de paracetamol, para febre. Alguns sintomas merecem atenção extra. “Vômitos repetidos, dor na barriga, sinais de queda na pressão e pequenos sangramentos indicam necessidade de ir ao hospital”, cita.

‌Números

‌De acordo com o Boletim Epidemiológico mais recente, publicado no dia 16 de junho, em 2023 foram notificados 31.017 casos suspeitos de arboviroses. Os registros, até o momento, apontam para um menor número de casos notificados, quando comparado ao mesmo período do ano anterior (102.409). Desse número, apenas 26,5% foram confirmados, caracterizando um cenário de baixas confirmações dessas doenças no Estado.

Ainda segundo o documento, foram notificados 24.266 casos suspeitos de dengue no Ceará. Destes, 29,2% foram confirmados. A taxa de incidência dos casos notificados nas últimas cinco semanas no Estado é considerada baixa: são 28 casos por 100 mil habitantes. O município de Fortaleza é o que tem o maior número de confirmações e concentra 84,6% dos casos.

‌Em Brejo Santo, Barro, Jardim e Sobral, a circulação predominante é a da variante 2. Foi detectada a circulação do sorotipo 1 em 16 municípios do Estado. Já sobre a chikungunya, foram registrados 6.107 casos suspeitos, com 18,5% de casos confirmados. Sobre a Zika, foram 644 casos suspeitos: sete confirmados, nenhum em gestante.