Os desafios da paternidade: amor incondicional guia pais que lidam com rotina intensa e ausências
10 de agosto de 2023 - 15:18 #amor #paternidade #Rede Sesa
Bárbara Danthéias e Márcia Catunda/ Ascom HSJ e UPAs - Texto
Arquivo pessoal - Fotos
Josias Jeronimo - Arte gráfica
Enfermeiro dos plantões noturnos no HSJ e no HM, Isaac é pai de duas meninas: Isabelle e Isaellen
“Vou me atrasar um pouco porque estou terminando de arrumar a minha pequena”, avisou o enfermeiro Isaac Sambé, 40, que trabalha nos plantões noturnos do Hospital São José (HSJ) e do Hospital de Messejana (HM), unidades da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa). A mensagem, enviada pouco antes de ele chegar ao HSJ para a entrevista desta reportagem, revela um pouco da atenção e do carinho dedicados às suas duas filhas — Isabelle, de oito anos, e Isaellen, de um ano e sete meses.
Natural de Guiné-Bissau, Sambé chegou ao Brasil quando tinha 24 anos de idade. Ele iniciou a carreira como técnico de Enfermagem e também já atuou nos hospitais gerais de Fortaleza (HGF) e Waldemar Alcântara (HGWA), ambos da Rede Sesa. Foi no HGF, inclusive, no ano de 2010, que ele conheceu sua esposa, a técnica de Enfermagem Maria Cirlene, de forma bastante inusitada. “A minha esposa queria que eu namorasse uma colega dela, a colega dela acabou não ficando no HGF, teve um problema e saiu. Aí pronto, sobrou pra ela”, compartilhou, entre risos.
Os dois conheceram-se, casaram-se e, em 2015, tiveram a Isabelle. A primogênita foi fruto de uma gravidez planejada, ao contrário de Isaellen, uma grata surpresa que surgiu na vida de Isaac e Maria em 2022. Anos antes do nascimento da caçula, em 2018, o enfermeiro decidiu afastar-se do trabalho no HSJ para dedicar mais tempo a Isabelle, retornando cerca de dois anos depois, a pedido do diretor-geral da unidade, Edson Buhamra, com o apoio da gerência de Enfermagem.
“A gente se doa demais para os filhos, muda tudo. Em vez de você viver a sua vida, você passa a viver em prol dos filhos. Eu vivo em prol das minhas duas pequenas. O amor em si, não tem nada que substitua isso, não. Você chegar em casa e ver aquelas crianças. Elas correm, te abraçam. Aquilo ali é algo que não tem explicação, é muito forte”, refletiu.
Legado paterno
Além de ser pai de duas meninas, o enfermeiro também assume a posição paterna para seus 11 irmãos
Primogênito de 12 irmãos, Isaac contou ter assumido a posição paterna após o falecimento de seu pai. “Nossa cultura é diferente. O primeiro filho, quando é homem, tem uma responsabilidade muito grande. Na ausência do pai, quem faz essa substituição é o filho mais velho”, explicou. Dentre todos os ensinamentos que recebeu de seu pai, o enfermeiro destaca a importância do conhecimento. “Ele sempre me disse, e eu sempre passo para meus irmãos: o ladrão tira tudo de ti, a única que o ladrão não consegue te tirar é o conhecimento”, relatou.
É essa lição que Isaac pretende repassar também às suas filhas. “Eu invisto muito na educação, acredito nisso porque é algo que me foi passado. A educação delas é primordial, as outras coisas a gente vai correndo atrás”, pontuou. E complementou: “quem tem conhecimento, eu admiro bastante. São ensinamentos que, eu acredito, trazem o sucesso para qualquer ser humano”, afirmou.
‘O melhor pai do mundo jamais suprirá o espaço de uma mãe’, diz médico da UPA que acompanhou o nascimento do filho e vive paternidade solo
A chegada de um bebê é um momento de muita alegria para toda a família. Com o médico André Lopes, da UPA José Walter, unidade estadual da Sesa, não foi diferente. Pai pela primeira vez aos 25 anos, ele lembra com muita emoção do dia do nascimento do filho. “Eu ainda era estudante de medicina quando coloquei meu filho nos braços pela primeira vez. Eu fui o responsável por cortar o cordão umbilical e colocá-lo nos braços da mãe e minha companheira, Cassandra”, relembra.
Após dois meses do nascimento do filho e viver a emoção da alegria da chegada de uma criança, André e os familiares sentiram a dor da separação. Cassandra acabou morrendo, provavelmente por complicação tardia do pós-parto. Após isso, a preocupação maior foi lutar pelo suporte familiar, já que a ausência seria sentida não apenas pelo marido, mas principalmente pelo bebê. André reconhece que a união e cooperação dos avós da criança e demais familiares foi fundamental para amenizar as dificuldades e dores daquele momento.
A dor da partida da companheira foi transformada em aperto de laços com o filho. Hoje André tem 38 anos e o garoto, André Luis, 13. Os dois são grandes parceiros e fazem questão de dividir a rotina. Ele faz questão de sempre almoçar com o adolescente e buscá-lo na escola. “Almoçamos juntos e deixo meu filho na casa dos avós. À noite, vou buscá-lo de volta e conversamos sobre como foi o dia e sobre assuntos aleatórios, que vão desde a ficção, até os nossos sentimentos e memórias. No final de semana a programação é variada, mas sempre estamos juntos”, explica.
O médico André Lopes é companheiro em várias atividades com o filho, inclusive em viagens
E são essas memórias e lembranças que Lopes busca cultivar. “Os abraços que meu filho me dá quando está dormindo e não percebe; o segundo lugar que ele conquistou no campeonato de natação e comemoramos como se fosse o primeiro; as viagens a dois que já fizemos”, relembra. Apesar da pouca idade, Luís proporcionou grandes alegrias e orgulho ao pai. “O melhor momento do dia é quando ele diz que está cheio de coisas para contar e nem sabe por onde começar e conta com um brilho nos olhos que só ele tem”, acrescenta.
“Meu filho é o maior presente que eu poderia ganhar na vida”, diz André Lopes
Toda essa cumplicidade fez Lopes ser realizado como pai. Ele reconhece, porém, que a ausência da mãe de Luís é desafiadora durante o exercício da paternidade. “Costumo dizer que o melhor pai do mundo jamais suprirá o espaço de uma mãe. A maior angústia como pai solo certamente é não ter a mãe dele ao meu lado para dividir minhas angústias e medos paternos. Nós [eu e a mãe da criança] tínhamos uma relação de muita cumplicidade, então, sem dúvidas, isso provoca muita falta e saudade durante a trajetória de nosso filho”, relata.
Apesar da angústia aliada à saudade e dos desafios da paternidade solo, Lopes tem o sentimento de realização pela caminhada construída ao lado do filho. “Meu filho é o maior presente que eu poderia ganhar na vida. Ele me ensina a enxergar o que é essencial, me instiga a pensar no que realmente importa, a amar incondicionalmente e encontrar a minha felicidade na felicidade dele. Todo dia aprendo algo novo. Eu me tornei um ser humano melhor graças a ele e tenho orgulho de ver que ele está se tornando também um grande homem”, finaliza.