Projeto Virando o Jogo: a “virada” de valor inestimável
23 de agosto de 2023 - 15:53 #5ª edição #juventude #PReVIO #reinserção escolar #Virando o Jogo
Ascom Prevenção à Violência - Texto
Roseane Gurgel - Casa Civil - Fotos
Reinserção escolar: eis um dos maiores desafios abraçados pelo projeto Virando o Jogo. Para enfrentá-lo, uma palavrinha mágica – sensibilização – tem surtido efeitos animadores junto a jovens que, por diferentes motivos, se afastaram da escola, mas, ao serem estimulados a fazer o caminho de volta, aprendem a ressignificar a pergunta: voltar a estudar para que?
A resposta já foi incorporada à prática de cada profissional do Projeto que é devidamente capacitado pela Assessoria de Reinserção Escolar sobre a importância do conhecimento e do esforço conjunto para tornar possível, junto à comunidade escolar, o esperado retorno aos estudos.
Vibremos: na 5ª edição do Virando o Jogo em Fortaleza, já em sua fase final, 51,24% dos adolescentes e jovens do Projeto que estavam em situação de evasão escolar foram matriculados em escolas de ensino regular – EJA ou CEJA. Para tanto, foi de fundamental importância a articulação institucional junto às Secretarias de Educação do Estado e dos Municípios (Fortaleza e Sobral).
À frente da Assessoria de Reinserção Escolar, a pedagoga Eugênia Moreira esclarece que é através de metodologias lúdicas e formação paralela das equipes de profissionais atuantes no Projeto em Fortaleza e Sobral que o ato contínuo de comover e afetar as juventudes para o retorno escolar gera resultados.
“Partimos da realidade de cada jovem participante. Por isso o debate sobre temas como vulnerabilidade social, gravidez na adolescência, bullying, conflito nas escolas, fatores que, em geral, levam à evasão escolar. Aí começa o trabalho de sensibilização, feito por quem atua diretamente nos territórios com as juventudes, nossos articuladores sociais, que contam com formação continuada junto à Assessoria de Reinserção Escolar”.
Estudo e trabalho: tudo junto e misturado
Cem por cento de aproveitamento. A turma do curso profissionalizante de salgadeiro que está prestes a concluir sua formação na 5ª edição do projeto Virando o Jogo mandou bem no Projeto Integrador, que consiste na realização do trabalho final desse ciclo formativo, cujo tema foi “beneficiamento dos alimentos e redução dos resíduos orgânicos”. Entre provas de degustação, cada jovem participante provou que não só desenvolveu talento para a gastronomia como entendeu a importância do ofício aprendido.
“Por ano, são produzidos no Brasil 37 milhões de toneladas de lixo orgânico e temos 15 milhões de pessoas com fome. Se esses alimentos fossem aproveitados integralmente não teríamos tanta fome”, ensinou Erica Queiroz, 23 anos, moradora do bairro Quintino Cunha e autora da ideia de preparo de uma deliciosa coxinha de camarão que não leva leite.
Com Ensino Médio completo e antes mesmo de ingressar no Virando o Jogo, Erica já havia aberto com sua companheira uma lanchonete para delivery. “O curso de salgadeiro tá sendo perfeito porque tô aprendendo a fazer outros tipos de salgado e como aumentar o índice de produção ganhando tempo no preparo. Com o dinheiro da bolsa que ganhamos também melhorei minha estrutura, comprando mesas e cadeiras”, vibra.
Nayane e Mikaelly, ambas com 23 anos, descobriram durante o curso de salgadeiro que empreender pode deixar de ser sonho para tornar-se projeto de vida. Nayane já faz trufas para vender pelo instagram e com a bolsa do projeto está aumentando a produção. Mikaelly tinha conhecimento prévio sobre doceria e agora se especializa em salgado. As duas tinham interrompido os estudos porque engravidaram precocemente, mas, através da ação de reinserção escolar desenvolvida pelo Virando o Jogo, regressaram à escola.
“Eu já nem tinha mais RG e CPF e até isso o projeto me ajudou a ter de volta para poder voltar a estudar. Agora estou cursando o 1º ano do Ensino Médio e quero estudar para concurso público da Guarda Municipal. Também vou me juntar com Mikaelly e mais duas colegas da turma, Erika e Cleane, pra preparar e vender salgados, cada uma no seu bairro”, adianta a concludente que colocou à prova uma tortilha de limão de derreter na boca.
“Além do cadastro de nossos jovens no banco de dados do SINE, temos uma sólida articulação junto ao CIEE, que desde a primeira edição do projeto oferta vagas de Aprendiz em instituições de diferentes segmentos e grandes empresas. Concluída cada edição, o projeto encaminha os jovens de acordo com o perfil desejável para as vagas ofertadas e aí é só acompanhar a evolução, porque não tem erro: a galera do Virando o Jogo se destaca mesmo!”, vibra a coordenadora do projeto Virando o Jogo, Ravena Bezerra.
Virando o Jogo para vencer
O Governo do Estado do Ceará, através da Vice-Governadoria e Secretaria de Proteção Social (SPS), deu início ao projeto Virando o Jogo em dezembro de 2019, atraindo para o time responsável por sua execução o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), através de recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECOP).
Em 2023, criada a Assessoria de Prevenção e Redução à Violência do Governo do Estado do Ceará, o projeto Virando o Jogo ganha ainda mais alcance sob o escopo do Programa de Prevenção e Redução à Violência (PReVio), que conta com crédito aprovado junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para atender ao seu público prioritário: os chamados “nem-nem”, jovens entre 15 e 22 anos, moradores de territórios vulneráveis, com renda per capita inferior a meio salário-mínimo, que nem estudam nem trabalham.
Foco nos objetivos centrais: primeiro, possibilitar acesso gratuito a cursos profissionalizantes certificados pelo SENAC para aqueles e aquelas que estão fora do mercado de trabalho; em paralelo, promover ações de reinserção escolar junto a quem interrompeu os estudos e manifesta interesse em voltar a estudar, reconduzindo cada jovem participante evadido ao ensino regular – CEJA ou EJA -, através de parcerias firmadas com as secretarias municipais e estadual de educação.
Ao vestir a camisa do Virando o Jogo, o start da “virada” é dado em diferentes fases: ao longo do processo formativo, participantes do projeto Virando o Jogo passam por formação cidadã, qualificação profissional, ações comunitárias e atividades socioculturais, além de adquirir noções de empreendedorismo e gestão financeira. Contam ainda com atendimento psicossocial e acompanhamento familiar, quando necessário, assim como ajuda de custo, vale-transporte, material didático, fardamento, lanche e outros benefícios sociais.
E quem avançou todas as “casas” do projeto Virando o Jogo sai como dessa experiência? Com certificado técnico-profissional assinado pelo SENAC, perspectiva de encaminhamento para estágios ou empregos, pequenos negócios iniciados ou em planejamento e, no mínimo, um currículo mais encorpado, o que resulta em chances mais sólidas para ingressar no mercado de trabalho.
Aos números: em vias de iniciar sua 6ª edição em Fortaleza e 3ª em Sobral, o Virando o Jogo já contemplou mais de 5000 jovens, contingente assistido de perto por uma equipe de gestores públicos, supervisores e gerentes de área, articuladores sociais, pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, corpo de bombeiros e técnicos afins, além de representantes das instituições governamentais e não governamentais envolvidas em parcerias.
Caucaia, Maracanaú e Maranguape são os próximos municípios a receberem o projeto Virando o Jogo. Em 2024 é a vez de Itapipoca, Quixadá, Iguatu, Crato e Juazeiro do Norte. Até o final deste ano, a previsão de atendimento é de 6 mil adolescentes e jovens, marca que, graças a recursos do PReVio, prevê alcançar mais 10 mil participantes.