Integração para a reinserção escolar

26 de agosto de 2023 - 15:42 # # # #

Ascom Prevenção à Violência - Texto
Hiane Braun - Casa Civil - Foto

Conflito territorial, vínculos familiares fragilizados, bullying, desmotivação, violação de direitos. São diversos os motivos que levam jovens em situação de vulnerabilidade social a se evadir da escola antes mesmo de concluir o ensino médio. Instigado a enfrentar tais desafios é que o projeto Virando o Jogo tomou para si, como um de seus principais objetivos, a reinserção escolar, ação que se dá de forma continuada ao longo de cada edição do Projeto e anualmente é avaliada em conjunto por gerentes de áreas, articuladores sociais, psicólogos, assistentes sociais e assistentes administrativos capacitados para a sensibilização e recondução de jovens ao sistema educacional.

Essa é a razão de ser do II Encontro Pedagógico de Integração da Reinserção Escolar, que acontece durante a manhã e tarde de hoje, no Museu da Indústria, trazendo ainda para a roda de conversa representantes da secretarias municipal e estadual de educação, parcerias imprescindíveis junto à Assessoria da Reinserção Escolar do projeto Virando o Jogo tanto no que tange à garantia de vagas nas redes públicas de ensino para jovens evadidos como na troca de estratégias e metodologias assertivas que os levem de volta à sala de aula.

Para a coordenadora do Virando o Jogo, Ravena Bezerra, construir possibilidades para que as juventudes vulneráveis se reencantem com a escola é entendê-la como lugar de proteção e acesso tanto ao conhecimento como aos próprios direitos. “Quando o nível de escolaridade se eleva tanto o jovem como a família e a sociedade se fortalecem, já que o exercício da cidadania requer informação. É por isso que, ao concluir sua 5ª edição em Fortaleza e 3ª em Sobral, o Projeto reitera sua aposta na reinserção escolar como caminho estratégico para o alcance de um outro objetivo central: o ingresso do jovem no mercado de trabalho através da qualificação profissional”.

Na ordem do dia, os resultados já alcançados mereceram aplausos gerais: em sua 5ª edição em Fortaleza, o projeto Virando o Jogo celebra a marca de 51,24% de adolescentes e jovens do Projeto que saíram da situação de evasão escolar e foram matriculados em escolas de ensino regular – EJA ou CEJA; e na segunda edição em Sobral o percentual se equipara.

“O engajamento da equipe do projeto Virando o Jogo é visível e a palavra-chave desse trabalho eficiente coordenado pela pedagoga Eugênia Moreira é acolhimento. Ao acolher o jovem vulnerável e capacitar a própria equipe através de metodologias ativas e lúdicas essa sensibilização sem dúvida ressoa positivamente nos dados de diminuição do abandono escolar, fortalecendo e enriquecendo a política pública estadual em curso”, comemora Kelen de Freitas, representante da Secretaria de Acompanhamento Escolar da SEDUC.

Para Andréa Peres, representante da Célula de Assistente ao Educando da Secretaria Municipal de Educação, a inserção territorial do projeto Virando o Jogo nos mais diversos bairros periféricos de Fortaleza amplia o alcance da chamada busca ativa, trabalho de formiguinha que tanto em âmbito municipal quanto estadual tem se mostrado eficiente na identificação e resgate de quem, por motivos diversos, está fora da escola. “Como podemos ler nas árvores da Reinserção Escolar aqui apresentadas pelas equipes do Projeto é plantando possibilidades que colhemos frutos. E isso tem sido feito em fina parceria”.

Em vigor desde 2019, o projeto Virando o Jogo é uma das principais ações desenvolvidas no âmbito do Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PReVio) e atende prioritariamente ao público jovem que não está estudando e nem trabalhando, criando oportunidades, através da oferta de cursos de qualificação profissional e  formação cidadã, para o desenvolvimento de capacidades, habilidades e competências necessárias ao ingresso dos jovens no mercado de trabalho e/ou sua inserção ou reinserção em escolas e universidades.

Estudar: paixão renovada com sucesso!

João Paulo Prudêncio Jr., 19 anos, estava sem estudar desde a pandemia da Covid-19, anunciada em março de 2020, porque, à época, não contava com celular para acompanhar as aulas pela internet. A “virada” veio justamente com o projeto Virando o Jogo:

“Consegui ser selecionado para uma das primeiras turmas do projeto, mas pouco tempo depois acabei tendo que sair. Quando minha situação melhorou fui procurar o Virando o Jogo de novo, pra ter uma nova oportunidade. Me deram. E faço parte dessa turma da 5ª edição. Foi quando comecei a pensar em voltar a estudar, porque vi que estava ficando pra trás, perdendo muito tempo na vida. Comecei a fazer o curso de Assistente Administrativo e fui logo pedir ao Projeto a carta de encaminhamento para conseguir a vaga de volta. Agora estou no 8º ano e fico feliz por terem acreditado em mim”.

Foi por meio do planejamento e da realização de ações contínuas de sensibilização voltadas à reinserção escolar junto aos participantes do Projeto que jovens como João Paulo voltaram a ver sentido nos estudos, dando “rosto” ao percentual de 51,24% que estavam em situação de evasão escolar e acabaram voltando a estudar, estando hoje matriculados em escolas de ensino regular nas turmas de EJA ou CEJA.

“Quando voltei a estudar queria recuperar o tempo perdido e, no projeto, escolhi logo o curso profissionalizante de Assistente Administrativo, que pode me dar oportunidade de trabalho mais rápido quando eu terminar também o Ensino Médio”, diz o jovem morador da Barra do Ceará que, com a ajuda de custo recebida por meio do Virando o Jogo, já tem contribuído com as contas da casa mantida pela mãe costureira e a avó aposentada.

Outra alegria recente, que também pode ser converter em trabalho futuro, é poder exercitar o dom de escrever letras de música. “Voltar a estudar me trouxe de volta também a vontade de voltar a compor rap. E isso aí, pra mim, que gosto tanto desse som, não tem preço, já vale qualquer esforço”, comemora.

Por trás de cada número exitoso do projeto Virando o Jogo, há vidas transformadas. Kauã Dias, 17 anos, é um dos participantes da 5ª edição do projeto em Fortaleza que também merece destaque por fazer valer o percentual de 51,24% de jovens que chegaram ao Virando o Jogo em situação de evasão escolar e foram sensibilizados pela equipe de profissionais da Reinserção Escolar a voltar a estudar, estando hoje matriculados em escolas de ensino regular nas turmas de EJA ou CEJA.

Na fase final do curso profissionalizante de barbeiro, ofertado a ele gratuitamente graças à parceria do projeto Virando o Jogo com o SENAC, segue aprendendo e valorizando cada conquista: “tô gostando muito de conhecer tanta coisa nova no curso e no projeto porque isso é um aprendizado que ninguém tira da gente. Os estudos também. Tinha parado de estudar no 7º ano, aí, dentro do Virando o Jogo, entendi que sem estudo fica mais difícil entrar pro mercado de trabalho, então voltei a estudar. Fui fazer o CEJA e tô na benção agora, sossegado, com outra mente pra tentar terminar o Ensino Médio logo e conseguir trabalho”.

Morador do bairro Moura Brasil, Kauã sabe que assim que colocar as mãos no certificado do curso profissionalizante de barbeiro vai poder gerar uma renda extra “dando um trato” no visual da vizinhança. Por enquanto, já se sente feliz em poder cuidar do filho Enzo, de 01 ano e 4 meses, enquanto a companheira sai para trabalhar como cuidadora de idosos. “Como tive a chance de voltar a estudar com a ajuda do projeto, agora quero melhorar de vida pra garantir um futuro pro meu filho”, planeja, empolgado.