Paternidade ativa e os impactos na primeira infância

12 de dezembro de 2023 - 11:27 # # # #

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Paternidade ativa e sobrecarga materna são temas fundamentais para as políticas da primeira infância. No Seminário de Avaliação e Planejamento do Criança Feliz, os dois temas são abordados com prefeitos e secretários municipais de Assistência Social. A Secretaria da Proteção Social entrevista Osivan Júnior, coordenador do Ambulatório e do Setor de Enfermagem no Instituto da Primeira Infância (Ipeede) e mestrando do Departamento de Saúde da Mulher e da Criança pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Nesta terça-feira (12), o Seminário recebe Osivan Junior para discutir a importância de políticas públicas que valorizem a estimularem a paternidade ativa.

1 – O que é a paternidade ativa?

A paternidade ativa consiste em um conjunto de ações relacionadas ao cuidado e atenção que os homens devem dedicar aos filhos. A sociedade em que fomos criados é centrada no patriarcado e tem ainda enraizadas ideias equivocadas de que o homem deveria ser apenas o provedor financeiro, sem se preocupar com os cuidados que devem ser dedicados para que seus filhos se desenvolvam plenamente. A paternidade ativa inicia quando o homem pode discutir com seu parceiro(a) sobre a decisão de ter filhos e as responsabilidades que implicam nesta decisão.

2 – A paternidade ativa está conectada à diminuição da sobrecarga materna?

No mundo todo se fala sobre isso. Alguns estudos, inclusive, já mostram que as mulheres exercem esses cuidados com a casa e com os filhos, até três vezes a mais que os homens. Paralelo a isto, as mulheres vem entrando cada vez mais no mercado de trabalho e conquistando seu espaço, ao tempo em que seguem com triplas jornadas, fora e dentro de casa. Quando ocorre a divisão justa destas atividades através também da paternidade ativa, as mães conseguem ter tempo para também cuidarem de si, aliviando a sobrecarga materna.

3 – Como construir modelos paternos mais afetivos, de cuidado cotidiano?

Com amor e cuidado, que é a base de qualquer relação. Quando a criança recebe amor, carinho e atenção ela cria laços de afeto com seus pais. Uma das formas de construir essa relação é brincando com seus filhos, seja em casa ou ao ar livre. Ler com eles também é fundamental, dentre outras atividades, que trazem mais segurança e ajudam no pleno desenvolvimento das crianças.

4 – Como a presença efetiva dos pais na criação dos filhos pode impactar na primeira infância e no desenvolvimento das crianças?

Na primeira infância, as crianças estão em pleno desenvolvimento e precisam de um ambiente seguro, onde sejam cuidadas por todos a sua volta. Infelizmente, algumas crianças estão muito mais expostas à desnutrição, à fome, às violências física, psicológica e sexual, o que poderá gerar na criança uma exposição aumentada a alguns hormônios que nosso organismo produz para ajudar a combater o nível de estresse. Um desses hormônios é o cortisol, que poderá aparecer de forma duradoura em algumas crianças, que vão apresentar como consequência problemas no aprendizado, na fala e em outras coisas. Então o que pode evitar esse cenário é o carinho, a presença dos pais e uma alimentação saudável.

5 – A paternidade ativa implica uma mudança de cultura, na quebra de ciclos intergeracionais de violência? Como podemos trazer esse debate para o centro das discussões?

Quando o homem exerce sua paternidade de forma ativa, ele se distancia dos padrões masculinos impostos pela sociedade patriarcal. Quanto mais os homens passam a participar da vida dos seus filhos desde o pré-natal, os exames, o parto, o banho, a troca de fraldas, ele vai conseguindo se descolar dessa imagem só de provedor e vai construindo outra relação com sua família, seus filhos. Eu acho que uma das formas de trazer esse debate para o centro das discussões é realizar nas unidades básicas de saúde grupos onde os homens possam expor seus sentimentos, suas preocupações, seus anseios e suas experiências na infância. Acredito que essas trocas podem ajudar efetivamente na formação de homens/pais melhores e mais conscientes de seu papel.