“Passado, Presente e Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

19 de janeiro de 2024 - 14:33 # # # #

Ascom Aesp-CE - Texto e fotos

Ser mãe é uma missão que exige amor, dedicação e coragem. É um amor incondicional, que não conhece limites. Ser mãe atípica exige o dobro de tudo isso. A maternidade atípica se refere às mães que lidam com a criação de filhos que necessitam de cuidados específicos

Assim como uma policial, uma mãe está sempre pronta para defender suas crias, mesmo que isso signifique colocar a própria vida em risco. É uma guerreira que, a todo momento, tem que estar atenta a tudo o que acontece a seu redor, para proteger contra qualquer perigo. E ela também precisa estar preparada para lidar com situações difíceis.

Acumular as funções de de mãe e de policial não é para qualquer uma. São missões que priorizam a vida. E, quando acumuladas, tornam praticamente heróica a jornada dessa mulher.

O terceiro episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história da Camila Rabelo Xavier Nascimento, aluna do Grupo 04 da Turma 2/2021, do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará. A trajetória de uma mãe que superou os próprios limites para que seu filho tenha um futuro cheio de possibilidades.

Passado

A família simples, de Caucaia, na Grande Fortaleza, uniu um autônomo e uma mãe dona de casa. Da união nasceu Camila. Primeiro, para uma infância tranquila. “Minha infância foi normal, humilde, sem muita riqueza, mas tranquila. Éramos meu irmão e eu. Não fui uma criança que tinha um sonho, que sabia que ia ser quando crescer, eu não tinha isso”, conta a aluna.

Ao terminar o ensino médio, começou a trabalhar em uma loja de decoração. A loja começou a ilustrar os sonhos daquela jovem que acabara o Ensino Médio. Todavia, o emprego durou pouco tempo. Com sorte, ela iniciou uma nova história em uma casa lotérica, onde permaneceu por cinco anos. Tempo suficiente para uma nova missão: o ingresso no curso de Gestão de Recursos Humanos.

O tempo avança e Camila, que já era auxiliar administrativo em uma escola, descobriu a gravidez. Uma gestação que mudaria a história e a forma dela de enxergar o mundo. “No começo da gravidez eu tive um deslocamento de placenta. Sangrei, tive uma gravidez muito difícil. Tive que ficar em repouso, pegar licença da escola onde trabalhava. Infelizmente, meu filho nasceu antes do tempo, nasceu prematuro de 24 semanas. Ficou seis meses internado, porque era prematuridade extrema, que geralmente não resistia. Os médicos não tinham grandes expectativas com ele. Mas, com o passar das semanas, ele foi surpreendendo a equipe médica. E o médico disse que aquele guerreirinho era resistente. Minha vida passou a ser no hospital. Meu marido me deixava e me buscava todos os dias”.

Murilo veio ao mundo desafiando expectativas. Vencedor da prematuridade, o filho de Camila teve os vasos sanguíneos do cérebro rompidos durante a internação, deixando-o com uma hemorragia interna na cabeça. Começava ali o diagnóstico de Paralisia Cerebral. “Essa hemorragia podia ter vários níveis de risco. A dele foi a mais grave. Ele poderia ter ficado com a cabecinha grande, ter que usar a válvula para poder drenar o sangue ou o próprio organismo absorver o sangue e cicatrizava a lesão. Foi o que aconteceu no caso dele. Foi grave, mas o próprio organismo cicatrizou a lesão e absorveu a hemorragia. Por conta dessa lesão, ele comprometeu os membros inferiores”, conta Camila.

A partir de então, Camila passou a dedicar-se ao filho e às necessidades. Vieram mais obstáculos, como a demissão da escola em que trabalhava. Foi nesse momento que o serviço público apareceu como uma opção. Uma esperança de estabilidade e de qualidade de vida para a família. “Nessa escola onde eu trabalhava tinha um rapaz que era concurseiro. Ele me incentivou a estudar para concurso. Eu comecei a estudar, fui e me matriculei em um cursinho. Quando o Camilo Santana (governador à época) anunciou que ia lançar o edital da Polícia Civil, eu resolvi apostar. Comecei a gostar, comecei a ver o que a Polícia Civil faz. Gostei. No dia da prova, eu fui, lógico, com esperança de obter a aprovação, mas eu vi uma prova bastante difícil. Quando saiu o resultado: aprovada. Lá, no finzinho, mas deu certo, graças a Deus. E eu sei que eu tirei essa força do meu filho”, lembra a futura inspetora.

Presente

Agora, como aluna do Curso de Formação, Camila conta sobre os desafios de uma rotina longe do filho e a experiência de aprender a ser uma policial civil na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp/CE). “Os primeiros dias foram bastante difíceis, porque eu tinha uma rotina totalmente diferente, não trabalhava. E passar o dia inteiro aqui, longe dele, também foi difícil. Estou me adaptando, mas os primeiros dias não foram fáceis. O curso em si eu estou achando maravilhoso, conhecendo os casos que os professores trazem, como que se faz uma investigação. Aquelas investigações que a gente assiste na televisão, que a gente nem imagina como o caso foi descoberto, aqui a gente está passando a conhecer como que a polícia trabalha”.

Futuro

Camila não descarta nenhuma possibilidade de atuação na Polícia Civil e nas salas de aula da Aesp, seja como aluna ou professora. “Eu pretendo atuar bastante, pretendo atuar na Polícia Civil de forma ampla. Se for para ir para a rua, eu vou; se for para investigar, eu vou; se for para estar cumprindo mandado, entregando intimação, eu vou. Eu quero aproveitar tudo que estiver ao meu alcance. Quero voltar à Academia, um dia, talvez como professora. Tenho vontade. Não é uma possibilidade descartada, não. Tenho essa vontade de me especializar, fazer os cursos que a Academia também dispõe pra gente. São amplas as possibilidades”.

Mas a prioridades são os planos que ela tem pra Murilo. “Hoje a gente tem uma vida financeira restrita, mas ele é minha maior prioridade. Para o meu filho, eu pretendo ampliar mais as terapias dele, pagar algumas especialidades. Pagar um curso de inglês para ele. Dar a ele qualidade de vida”, conclui a aluna.