“Passado, Presente, Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

5 de fevereiro de 2024 - 08:31 # # # # # #

Ascom Aesp-CE - Texto e Fotos

O quinto episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história de Márcio Sandro Lopes Bezerra, aluno do Grupo 13 da Turma 2/2021, do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE)

Um paulistano por nascimento, mas um cearense de coração. Assim se apresenta o protagonista desta sexta-feira (2). Sua jornada de vida tece, através das sombras de uma família desestruturada, enfrentando a escassez de incentivo, uma infância carente de perspectivas e a superação de limitações em busca de um propósito maior.

Na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE), um novo capítulo se desenha. Entre desafios e conquistas, o presente se colore com o calor acolhedor da turma, transcendendo fronteiras na integração e desvendando nuances do serviço público.

Passado

Natural de São Paulo, Sandro veio morar no Ceará aos cinco anos. A mudança marcou o início de uma vida na periferia de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, onde ele enfrentou uma realidade desafiadora e sem perspectivas de futuro.

A convivência familiar conturbada também o afetou e refletiu em muitos aspectos da vida. “Eu tenho mais três irmãs. Nós não tínhamos incentivos para estudar, tínhamos muita pressão. Nossa família era meio desequilibrada, o meu pai era alcoólico, não tinha uma boa relação com minha mãe. Infelizmente, isso refletia em mim, já que eu sou mais velho. E eu era meio que o ‘patinho feio’ da família, as pessoas não acreditavam que eu era capaz de fazer algo, e passei a não acreditar também. Desde criança ouvia que conseguiria coisa boa. Minha vida era só cobrança e julgamento. Mas, por alguma razão, acho que por misericórdia divina, algo dentro de mim disse que eu tinha que lutar, que não tinha que me conformar com aquela realidade”.

Na adolescência, a precocidade forçou Sandro a assumir o papel de provedor da família, trabalhando com papelão, e até mesmo empacotando bolachas em padarias. “Depois que terminei os estudos, foquei em trabalhar e ser para a minha mãe a segurança que meu pai não era. Até que depois de seis anos trabalhando em uma indústria têxtil, fiquei desempregado e, novamente, sem perspectiva. Foi quando, após um batizado na casa de um amigo, recebi muitos conselhos e me incentivaram a voltar a estudar. No dia seguinte, peguei meus cadernos e voltei a estudar. Entrei na faculdade de Design Gráfico, mas não me identifiquei. Até que um amigo me sugeriu a transferir para o curso de Direito”.

O futuro inspetor da PC-CE enfrentou desafios acadêmicos e profissionais enquanto equilibrava estágios, faculdade e a notícia da paternidade. “Em 2013, começava meu estágio no Tribunal de Justiça quando descobri que seria pai. Foi um período conturbado, com minha esposa em risco de eclampsia. Tive que conciliar estágios, faculdade e cuidar da gestação complicada.” Após quase dois anos no TJ, seguiu para outra terceirização no fórum, mas enfrentou cortes.

As dificuldades financeiras eram agravadas pela falta de apoio e incentivo, refletindo-se em sua autoestima abalada. Ao compartilhar sua jornada, explica como sua introspecção surgiu na dinâmica familiar desestruturada, marcada por crises financeiras. “A introspecção começou na desestrutura familiar, com violência e crises. Mas, ao advogar, a cobrança intensificou, o dinheiro ficou cada vez mais difícil, precisei encontrar soluções para sustentar minha esposa e filho. Em janeiro de 2019 vi minha conta quase zerada, questionava se seguia o caminho certo, se deveria abandonar o diploma e buscar qualquer emprego para garantir o sustento. Perguntava-me se não estava sendo sonhador demais.”

A chama pelo concurso público, que havia surgido alguns anos antes, persistia. “Mesmo após desistir em 2015, a ideia não me deixava. Quando soube do concurso da Polícia Civil, contei com a ajuda de amigos para estudar.”

Ao ser aprovado do concurso, e ainda passando por uma crise financeira, enfrentou dúvidas sobre sua capacidade de realizar o TAF. “O TAF foi um desafio. Eu era sedentário, pesava 115 quilos, e não tinha dinheiro nem pra comprar um tênis, mas um amigo generoso me emprestou um par de tênis. Na questão da idade, eu busquei me regrar e seguir orientações, e consegui superar. Sempre me desafiei. Independente da idade, acredito que posso me adequar para alcançar meus objetivos. Fui abençoado com amigos que ajudaram no treino, nas contas de casa e com palavras de apoio, algo que nunca encontrei na minha família”.

Presente

O presente é marcado por uma nova fase na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará. Sandro se encontra em um período de transição e renascimento. Encontrou na Aesp mais que um curso de formação, encontrou um curso de transformação profissional e pessoal, que tem sido se eternizado no acolhimento da turma. “A Aesp, para mim, se eu fosse definir uma palavra, seria superação, porque a cada dia que se passa eu supero um novo desafio na minha vida, como as aulas práticas de defesa pessoal, de educação física, de armamento. Aqui, eu me sinto acolhido, eu me sinto parte de algo, coisa que dificilmente eu senti ao longo da minha vida. Eu sou muito grato por fazer parte do grupo G13, que me acolheu tão bem. Eles (colegas) me fizeram voltar a sorrir. São pessoas amigas, pessoas companheiras, pessoas do bem. Eu gosto de todos, cada um a sua maneira, e é muito boa a convivência. Um sentimento muito fraterno que existe. O grupo é a família que eu não tive na infância”, conta emocionado o futuro inspetor.

A integração na forma de ensino proporciona uma perspectiva abrangente sobre a Segurança Pública. A experiência na Aesp não apenas ultrapassou suas expectativas, mas também trouxe um novo horizonte de possibilidades. “Muitas pessoas fora da Segurança Pública não entendem como funciona a Academia. Acham que é só para a Polícia Militar. Ver a integração aqui é enriquecedor, pois permite ter perspectivas do mundo militar, assim como dos policiais civis, e outros servidores podem contribuir para o desenvolvimento dos alunos. É uma maneira bacana de interação”.

Futuro

Olhando para frente, Sandro revelou seus planos na vida pessoal. Ele expressa o desejo de inspirar o filho, visando proporcionar uma vida melhor para sua família.

“Quero mostrar pro meu filho que mesmo vindo de baixo é possível vencer na vida pelos meus méritos, sem passar por cima de ninguém. Eu não vou dizer que é fácil, mas não é impossível. E eu estou me sentindo realizado em ver que eu estou conseguindo passar essa mensagem a ele. E quero proporcionar uma melhor qualidade de vida pra minha esposa”.

Em termos profissionais, Sandro vislumbra explorar áreas específicas, como investigação de crimes cibernéticos, indicando um interesse em aprimorar suas habilidades na área de segurança, além do anseio de retornar à Aesp, não apenas como aluno, mas talvez como professor, almejando contribuir para a formação de futuros profissionais da Segurança Pública.

“Eu quero me descobrir dentro da Polícia Civil, o que realmente eu tenho vocação. Mas eu acredito, assim, que um curso que eu gostaria de fazer, eu gostaria de fazer muito, eu sou muito curioso na área investigativa, talvez um curso de crimes cibernéticos. Eu tenho uma mente meio inquieta. Eu sou meio curioso também. Gostaria de um dia voltar à Aesp como professor ou fazendo algum outro curso, quem sabe ambos. Meus amigos dizem que tenho vocação para estudar pra ser delegado. Quem sabe não faço isso o curso no futuro?”, conclui o futuro inspetor.