Laços da maternidade: força e resiliência diante dos obstáculos da prematuridade
8 de maio de 2024 - 09:33 #dia das mães #Laços da Maternidade #método canguru #recém-nascido
Wescley Jorge, Suzana Mont'alverne e Bruno Brandão - Ascom HGCC, HGF e HGWA - Texto
Thiago Freitas, Suzana Mont'alverne e Bruno Brandão - Ascom HGCC, HGF e HGWA - Foto
Iza Machado - Sesa - Inforgrafia
Na semana que antecede o Dia das Mães, comemorado no próximo domingo (12), a Saúde do Ceará, por meio de uma série de reportagens, explora a força e a beleza dos laços que as unem aos filhos, transcendendo os desafios e celebrando essa jornada única. Na segunda reportagem, você confere histórias de mulheres que foram mães nas unidades da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Relatos que envolvem medo do desconhecido, a insegurança proporcionada pela prematuridade, mas também a fortaleza que chega com a maternidade e a esperança de dias melhores.
Quando o medo dá lugar ao amor e à esperança
A primeira sensação foi de medo. Era tudo muito desconhecido. Os preparativos para receber o primeiro filho já aconteciam, mas ele teve pressa para nascer. Prematuramente, aos cinco meses, com apenas 25 semanas, Joab Anthony Oliveira da Silva, chegou no dia 20 de janeiro de 2024, no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), unidade da Sesa. Há três meses, a criança vem transformando a vida de Kailanne da Silva Ramos, 21, moradora de Maracanaú, na Grande Fortaleza.
Prestes a comemorar o seu primeiro Dia das Mães, Kailane se diz feliz e grata pela chegada do filho. “O meu presente, eu já ganhei. Estou me sentindo muito feliz”. Agora, o que ela mais quer é ir para casa com o bebê. Após a realização de exames, o pequeno vai ter alta. “Eu sinto alívio e segurança. Saber que vou poder cuidar dele em casa. Isso é uma sensação muito boa”, reforça.
Mas antes desse momento, a trajetória de Joab foi de luta e superação diante da prematuridade. “Quando ele nasceu, foi direto para a UTI, passou dois meses. Ele estava se recuperando, então a gente veio para cá (Enfermaria Canguru). Nesse tempo, surgiu um problema no olho dele, eu fiquei com muito medo. Aí depois surgiu o problema da hérnia. Ele teve que fazer essas duas cirurgias”, relembra a mãe.
Quem acompanhou de perto o progresso de Joab e da mãe foi a enfermeira Roselise Saraiva, tutora do Método Canguru. Ela sabe o quanto as vitórias dos dois são valiosas a cada dia. “Ele passou por vários procedimentos. Foi entubado, usou cateter. Aqui, na Unidade Canguru, ele evoluiu. Usou sonda, precisou fazer a transição da sonda para o peito e está em aleitamento materno. Fez duas cirurgias, sendo uma de correção da retina e outra de correção de hernia inguinal bilateral”, descreve Saraiva.
Mesmo com todos esses procedimentos e etapas, seguiam-se os cuidados ao filho de Kailane, fundamental nesse processo. “Ele fez seguimento de Palivizumabe, anticorpo que protege o pulmão da bronquiolite. E tem a mãe, que é forte, sempre passando por todos esses momentos com muita serenidade. Verificou-se o na produção do leite. O bebê começou a mamar e ganhar peso”, destaca Saraiva.
Unidade Canguru favorece o desenvolvimento de bebês
De acordo com Ana Daniele Vitoriano, chefe do Centro de Neonatologia do HGCC, a participação dos pais apresenta um diferencial no desenvolvimento da criança. “O contato do pai e da mãe, principalmente no Canguru, favorece o desenvolvimento dos recém-nascidos, auxilia no ganho de peso, na estabilização dos batimentos cardíacos e até mesmo ajuda para reduzir o tempo de internação”, reforça.
A saída de Joab do hospital foi comemorada pela mãe e por toda a equipe do HGCC
A mãe, orgulhosa das conquistas do filho, lembra do dia do nascimento de Joab, quando ainda sentia medo, pois não esperava que ele chegaria tão cedo. “Eu senti medo de novo porque eu pensei que ele não ia sobreviver. Mas quando eu fui vê-lo na UTI, o amor que eu já estava sentindo aumentou. Deu mais vontade de querer cuidar dele. Ver o tanto que ele estava sendo forte, porque ele nasceu muito prematuro e ele conseguiu passar por tudo”, lembra a mãe.
Hoje, mais segura, já não tem espaço para o temor do início. “Eu me sinto muito feliz e aliviada também. Sinto paz também e estou mais tranquila. O amor só aumenta, só faz aumentar, todo dia. O mais difícil para mim era ver ele (sic) lá (na UTI) dentro da incubadora, sem poder pegar nele, os aparelhos ligados nele. Isso era muito difícil. Poder tocar nele, como agora, foi uma emoção muito grande”, comemora.
Para o futuro, se depender da mãe, Joab terá felicidade e viverá cercado de amor e cuidados. “Eu espero e quero que a gente seja muito feliz, que a gente possa cuidar dele muito bem, que ele tenha tudo, porque a gente não teve. Continuar junto assim para poder cuidar dele. Que ele viva bem, seja uma pessoa maravilhosa no futuro”, planeja a mãe, que já está em casa com seu bebê.
Atividades lúdicas proporcionam bem-estar para mães internadas na unidade Canguru do HGF
“Eu quis muito estar aqui, perto dela”, afirma Ariane Rodrigues, de 33 anos, atualmente internada na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (Ucinca), popularmente conhecida como Unidade Canguru, do Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Após muitas dificuldades enfrentadas na gestação, estar no Canguru é um desejo realizado pela dona de casa, mãe da pequena Isis Fernanda.
Natural de Itapipoca, Ariane deu entrada no equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) no início de março com complicações durante o período gestacional. “Tive pré-eclâmpsia [problema relacionado ao aumento da pressão arterial em grávidas]. Passei por uma cesárea de emergência e fiquei muitos dias vendo minha filha na incubadora”, relata. Depois de um tempo, Ariane recebeu alta, mas a filha precisava seguir internada. Sem familiares ou amigos próximos em Fortaleza, a jovem teria que voltar para sua cidade natal.
“Eu pedi a Deus para me deixar ficar com ela. A ideia de não vê-la me angustiava. Quando surgiu a vaga aceitei, senti que era necessário, não conseguiria ficar tranquila sem acompanhar a evolução dela de perto”, compartilha emocionada. No último dia 8 de abril, mãe e filha puderam ir para a Ucinca. A decisão, segundo ela, foi acertada, mas acarretou em outras dores. “Pensei no meu filho mais velho (sete anos), na saudade que sentíamos um do outro. Foi a decisão correta, mas foi também dolorosa”, acrescenta.
Humanização do atendimento
A Unidade Canguru proporciona às mães o contato direto pele a pele com o recém-nascido e, embora seja revigorante, internações prolongadas podem causar tristeza, medo e preocupações pela separação de casa, além da ansiedade devido às responsabilidades vividas sozinhas, longe dos familiares.
“São crianças prematuras, com baixo peso e vindas de internação na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTINeo). Há uma tensão para que a criança se desenvolva e tudo isso sem apoio daqueles que a amam, longe da vida cotidiana”, explica a coordenadora médica da UTINeo do HGF, Gabrielle Machado.
O cuidado com o bem-estar da mãe foi o que motivou a equipe multidisciplinar a promover atividades lúdicas e rodas de conversa. “A mãe é privada de sono, oferece a mama de três em três horas, às vezes até de duas em duas, e não é fácil. Há a preocupação para que a criança não perca peso, que se desenvolva”, reforça a terapeuta ocupacional da unidade, Liege Gross.
As atividades propostas pela equipe multidisciplinar da unidade Canguru do HGF proporcionam momentos de descontração
São jogos de tabuleiro e cartas, rodas de conversas, cinema e trabalhos manuais. Para Ariane, momentos de descontração, com outras atividades que não envolvam a rotina hospitalar, fazem muita diferença. “Gosto dos jogos e de usufruir das rodas de conversa. Ouvir e falar com outra mãe e com as profissionais é valioso”, afirma a paciente.
Enfermeira da unidade, Thais Duarte acrescenta ainda que as atividades estreitam os laços entre os profissionais e pacientes. “São pessoas vivendo um momento de vulnerabilidade, é importante que se sintam seguros conosco. A boa relação com a equipe pode favorecer o tratamento e a evolução de todos”, ressalta a profissional.
Unidade Canguru
Na Ucinca, as mães ficam em contato com os bebês 24h e participam ativamente dos cuidados com o recém-nascido. “Com o Método Canguru, conseguimos mitigar alguns dos danos causados pelas restrições da estadia hospitalar, como promover o vínculo e o aleitamento materno”, explica a terapeuta ocupacional. O desenvolvimento dos recém-nascidos aumenta a confiança das mães e favorece o desenvolvimento dos recém-nascidos de baixo peso.
Os recém-nascidos são avaliados pela equipe multiprofissional do serviço. Na imagem, a mãe acompanha o atendimento da terapeuta ocupacional ao seu filho
Com cinco leitos, todas as mães e bebês internados na unidade Canguru do HGF são avaliados. “As mães precisam estar seguras e cientes da escolha; os recém-nascidos precisam estar clinicamente estáveis, sem precisar de suporte de oxigênio, hidratação venosa ou uso de antibiótico. O peso é outro fator, os bebês precisam ter pelo menos 1.250kg”, esclarece a médica. Fazem parte da Ucinca profissionais de Neonatologia, Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional.
No HGWA, mães compartilham os desafios da UTI Neonatal
O momento do nascimento de um filho é, sem dúvida, um dos mais especiais para as mães. Porém, algumas delas, que preparam um cantinho para a chegada desse bebê, precisam aguardar um pouco mais até ir para casa. No Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), unidada da Sesa na Messejana, que possui uma Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN), muitas mães aguardam ansiosas o momento de poder receber a tão aguardada alta.
A autônoma Maria Edileuza Cardoso está entre as que não veem a hora de mostrar o quartinho, com todo o cuidado e enxoval, para o seu bebê. O pequeno Lucas Gael, de apenas 19 dias, nasceu com 31 semanas. Considerado prematuro, ele precisa receber os devidos cuidados para poder ir para casa e encontrar com a família, entre eles, seus dois irmãos.
“Assim que o Gael nasceu precisou ficar na incubadora. Foi quando ele foi transferido para o HGWA onde vem recebendo toda a atenção. Ele chegou aqui para ganhar peso, concluir as semanas necessárias e aprender a mamar, ainda está se alimentando por sonda. Ela já ganhou peso e a estimulação para aprender a mamar já começou, aqui estamos sendo muito bem tratados”, afirma a mãe.
Ela recorda que não foi uma notícia fácil quando foi avisado que precisaria fazer o parto antes do tempo, por orientações médicas. “Eu entrei em pânico quando soube da prematuridade. Já sou mãe de outros dois filhos de 12 e 10 anos. A emoção foi bem diferente, por ter os dois mais velhos, foi bem acolhedor da parte deles. Espero passar o Dia das Mães com eles, mas também espero que ele só saia daqui bem e fora de risco”, conta.
A médica neonatologista do HGWA, Juliana Tiburtino Martins, explica que a UTIN e o berçário da unidade recebem um perfil que vai desde bebês prematuros, abaixo de 37 semanas, até bebês a termo, acima de 37 semanas.
“Os prematuros permanecem um longo período na unidade, necessitando de uma adaptação maior da mãe desde o ganho de peso até a amamentação. O bebê prematuro recebe alta quando ele atinge 1,800kg, está clinicamente estável e alimentando-se pela boca. Ele precisa desses principais e mais alguns outros fatores para uma altura segura”, esclarece.