Educar sem violência: SPS qualifica equipe para ampliar ações de combate à violência dentro de casa

18 de junho de 2024 - 09:50 # # # # #

Sheyla Castelo Branco - Ascom SPS - Texto
Mariana Parente - SPS - Fotos

Maria Silvonete, 39, é umas das 17 mães que vêm participando das reuniões do ACT – Como educar crianças em ambientes seguros, no Centro Comunitário Santa Terezinha. O programa é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das metodologias mais eficazes para reduzir os riscos de violência contra crianças. No Ceará, ele é executado pela Secretaria da Proteção Social (SPS).

Silvonete conta que aprendeu a baixar o tom de voz para chamar a atenção da filha, Maria Uidina, 7. “A cada reunião é um novo aprendizado. Entendi que quando for conversar ou comunicar algo que ela fez que não aprovo, devo chamá-la em um tom mais brando ou ir até ela para conversarmos. Essa é uma forma de estabelecer uma comunicação não violenta com a minha filha, e isto tem sido muito bom para a nossa relação”, revela Silvonete, que na infância passou por situações de violência parental, mas agora está quebrando o círculo da violência intergeracional.

Adepta da ferramenta, a SPS investiu nesta metodologia inovadora, que funciona desde 2020 no Ceará, e já contemplou 24 municípios do Estado, incluindo Fortaleza. Mais de duas mil famílias participaram dos grupos do ACT no Ceará. Para seguir capacitando profissionais atuantes em toda a Rede de Assistência Social do Estado, a SPS criou um grupo gestor, que conta atualmente com 19 pessoas. Além disso, para atuar dentro dos equipamentos SPS há um grupo de 11 multiplicadores.

Ações de combate à violência dentro de casa

Dagmar Soares, coordenadora do Mais Infância Ceará e uma das facilitadoras das formações do ACT no Estado, lembra que ao longo de todo o processo de implantação da ferramenta no Ceará, alguns ajustes foram sendo realizados.

“Fomos entendendo que precisávamos de uma equipe do Estado para atuar como grupo gestor do programa, à frente da supervisão, visitação e monitoramento dos municípios que aderiram ao ACT. Formamos primeiro 19 pessoas das coordenadorias da Proteção Social Especial e Básica, secretaria-executiva de Políticas sobre Drogas, e da Assessoria de Mediação, Justiça Restaurativa e Cultura de Paz para integrarem o grupo gestor do ACT. Depois, outros 11 profissionais, dentre os quais quatro psicólogos, para atuarem nos Complexos Sociais Mais Infância, Centros Comunitários, Célula Restaurativa e ABCs”, pontua Dagmar Soares.

A coordenadora ressalta que, no próximo semestre, serão capacitados outros profissionais para integrarem o grupo gestor. A ideia é multiplicar cada vez mais o número de profissionais capacitados para que o ACT alcance os 184 municípios do Ceará até o ano de 2026.

“Muitas vezes o que a gente observa é que falta repertório para esses pais que utilizam da violência para “educar” seus filhos. Vamos ouvindo histórias e percebendo que a transformação vem mesmo de gestos muito pequenos, mas que fazem a diferença. Uma vez conversei com uma mãe que disse que sempre gritava e se chateava porque o filho tirava a garrafa da geladeira e não conseguia colocar no copo, acabava jogando tudo no chão, e aquilo gerava um estresse desnecessário. Conversamos e expliquei pra ela que aquilo não precisava ser um momento ruim, mas sim de desenvolvimento para a criança. Ela decidiu usar uma garrafa menor, própria para o tamanho dele e o problema foi resolvido sem estresse”, recorda Dagmar.

A titular da SPS, Onélia Santana, reforça que os pais querem o melhor para os seus filhos, mas foram criados em um modelo muito voltado para a punição e acabam replicando determinado comportamento achando que é o certo. “Nos oito encontros do ACT trabalhamos para que esses pais entendam o que é desenvolvimento, faixa etária e para que percebam também que crianças aprendem muito observando e imitando. A ideia principal é combater a violência dentro de casa, para que aqui no Ceará a gente tenha famílias com uma parentalidade positiva, que saibam lidar com as suas emoções e impulsos e que, sobretudo, consigam se comunicar sem violência” destaca a secretária.

Nas sessões do ACT as discussões são sobre o que é violência e como ela atravessa os corpos que estão em territórios mais vulneráveis. Outro ponto é debater a raiva, para que eles aprendam a lidar com o sentimento e não transmitam frustração para as crianças. “Saber lidar com a raiva da criança, que ainda está aprendendo a lidar com as próprias emoções é muito importante. Explicamos também sobre os cuidados com a exposição das crianças aos meios eletrônicos. Até os dois anos de idade, as crianças não podem ser expostas a televisão, isso atrapalha o desenvolvimento pleno delas e muitas mãos só aprendem isso ao participar dos nossos encontros”, reflete Ivone Mendonça, que é facilitadora do ACT no Centro Comunitário Santa Terezinha.