Museu da Imagem e do Som do Ceará realiza a exposição “Thomaz Farkas – a beleza diante dos olhos”

17 de setembro de 2024 - 10:13 # # #

Ascom MIS - Texto
Thomaz Farkas - Acervo Instituto Moreira Sales - Fotos

A abertura da exposição será no dia 21 de setembro, na praça do MIS, com a presença dos curadores Simonetta Persichetti e Rubens Fernandes Junior, além do fotógrafo João Farkas (filho de Thomaz) e do diretor de cinema Lauro Escorel

Encantado pelas imagens desde que ganhou a primeira câmera fotográfica, aos oito anos, Thomaz Farkas (1924-2011) construiu horizontes de quem vê além, seja na fotografia, no cinema ou nos negócios. Explorar luz e sombra, perceber beleza e humanidade estão entre as peculiaridades do olhar de Farkas. O Museu da Imagem e do Som do Ceará, instituição que integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), com gestão parceira do Instituto Mirante de Cultura e Arte, realiza a exposição Thomaz Farkas – a beleza diante dos olhos, cuja abertura será no dia 21 de setembro de 2024, às 18h, na praça do MIS.

A exposição propõe espaços diversos para contar sobre a vida de quem olhou com atenção e curiosidade para o país e para o povo que o acolheram. Com curadoria de Simonetta Persichetti e Rubens Fernandes Junior, o momento celebra o centenário de Farkas. Nascido na Hungria e apaixonado pelo Brasil, foi um dos nomes mais conhecidos na fotografia brasileira da segunda metade do século XX. Durante a abertura, da qual os curadores participarão, haverá a exibição do documentário de curta-metragem “Improvável Encontro – Frente e Verso” (2016). Dirigido por Lauro Escorel, o filme é focado nos fotógrafos Thomaz Farkas e José Medeiros. O diretor também estará presente na abertura e conversará com o público após a exibição. O evento terá, ainda, a presença do fotógrafo e filho de Thomaz, João Farkas.

Por meio do trabalho como fotógrafo, diretor e produtor cinematográfico, Farkas procurava descobrir a beleza onde ela estivesse. Foi dentro desse universo que desenvolveu e praticou a singularidade de sua arte. “Fotografar é olhar e recordar”, disse Thomaz, em entrevista gravada em 2006. Ao ser perguntado se o Brasil retratado por ele durante a inauguração de Brasília, em abril de 1960, havia mudado muito, meio século depois, respondeu: “Não, porque eu vejo com o coração. Eu vejo pelo que me entra assim pelo coração”.

Para a curadoria, a linguagem de Thomaz Farkas está na fronteira entre a fotografia considerada clássica e a fotografia moderna ao buscar novas formas de visualidade e criar um modo próprio de fotografar. Um dos pioneiros e um dos principais expoentes da fotografia no Brasil, Farkas é reconhecido por sua produção fotográfica, tendo realizado exposições nos mais importantes centros culturais e museus do Brasil e do exterior, e também por sua vasta e inovadora produção cinematográfica, que se tornou conhecida como “Caravana Farkas”.

“Conhecer o Brasil através dos olhos dele é uma experiência sempre enriquecedora. Um olhar atento, imagens que nos aparecem demonstrando o que nossos olhos sozinhos, ou desacostumados a ver, seriam incapazes de perceber. O que mais fascina em suas fotografias é a sensação do divertimento, como se a descoberta do invisível fosse uma grande brincadeira para Farkas, como se ele ficasse feliz em poder nos ofertar a cada imagem um detalhe que nos surpreenda”, apresentam os curadores, que conviveram e aprenderam com ele.

O MIS destaca a relevância de realizar esta exposição no mês em que Farkas completaria cem anos. “O Museu da Imagem e do Som do Ceará tem a honra de realizar a exposição Thomaz Farkas – a beleza diante dos olhos no centenário de um profissional que se tornou referência para a cultura imagética no Brasil. Farkas também abriu caminhos por onde muitos outros profissionais da fotografia e do cinema puderam seguir. É uma grande oportunidade para que mais cearenses possam conhecê-lo”, disse o diretor do MIS CE Silas de Paula.

A “Caravana Farkas” no Ceará

Por meio dos documentários, também esquadrinhou um Brasil distante dos grandes centros urbanos. Essa empreitada de quase 40 documentários ficou conhecida como “Caravana Farkas” e revelou grandes talentos do cinema brasileiro. Dentre esses documentários, pelo menos quatro foram gravados no Ceará: O Engenho, Viva Cariri, Visão de Juazeiro e Padre Cícero.

“É uma pessoa única, interessada pelo Brasil, interessada pelo Brasil profundo e interessado em mostrar a realidade que ele observava”, conta Simonetta Persichetti.

“Sobre a Caravana, o primeiro pensamento do Thomaz Farkas era: o brasileiro precisa conhecer o Brasil, então eu vou produzir um grupo de filmes onde eu vou mostrar o Brasil e eu quero que todas as escolas do Brasil tenham um projetor de 16 mm para pode projetar esses filmes”, ressalta Rubens, que foi curador da Coleção Pirelli Masp de Fotografia juntamente com Farkas por 20 anos.

Durante entrevista ao programa Provocações, apresentado por Antônio Abujamra e gravado em 2006, Thomaz Farkas descreveu o que pretendia realizar com os documentários: “Então nós nos juntamos para filmar o que estava acontecendo. Nós íamos filmar o Julião no Nordeste (Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas), mas acontece que naquela época (o cineasta Eduardo) Coutinho (1933-2014) tinha tido problemas. Nós não vamos enfrentar isso dessa maneira. Eu digo: Nós vamos tentar mostrar o Brasil pro brasileiro. Talvez seja a maior revolução que a gente pode patrocinar. Porque naquele tempo a televisão estava começando. Então nós vamos mostrar o Nordeste pro gaúcho. Vamos mostrar o gaúcho pro paulista, porque eu fiz isso pras escolas. Eu queria fazer uma Brasiliana de cinema. Não deu!”

Sobre os curadores

Simonetta Persichetti é graduada em Jornalismo, mestra em Comunicação e Artes, doutora em Psicologia, e cursou pós-doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP. Foi professora de Fotojornalismo, publicou livros, é autora de entrevistas e textos, atuou como editora e como curadora. Ministra palestras e cursos sobre fotografia pelo Brasil. Ela também é colunista e membro do Conselho Editorial da revista ArteBrasileiros e crítica de fotografia do jornal Estado de S. Paulo. Ganhou o Prêmio Jabuti de Reportagem 1999. E o 1º lugar na categoria de jornalista 2008/2009 do Melhor da Fotografia Clix.

Rubens Fernandes Junior é graduado em Comunicação Social e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC. Atualmente é coordenador de pesquisa e iniciação científica do Centro Universitário Armando Álvares Penteado (FAAP), curador do Prêmio FCW de Fotografia, pesquisador e curador independente de fotografia. É autor de livros sobre fotografia, foi curador de exposições fotográficas e vencedor de vários prêmios na área. Recebeu o Prêmio Mérito Cultural na Fotografia, da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, em 2020; o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, em 2014, entre outros.

Espaços expositivos

Com expografia de André Scarlazzari e Dora Coelho e comunicação visual de Diego Ribeiro, a exposição ocupará diversos espaços do MIS. No andar + 2, estará uma coleção de fotografias da autoria de Farkas, a partir dos diferentes ensaios que produziu no seu período áureo de criação – ensaio modernista, ensaio surrealista com os amigos da Escola Politécnica, ensaio sobre Brasília, antes e durante a inauguração, ensaio sobre dança, ensaio sobre o Nordeste brasileiro. O respeito e a importância de Farkas também ficam evidenciados nos 10 retratos realizados pelos seus amigos, que melhor representam a fotografia brasileira contemporânea: Cristiano Mascaro, Bob Wolfenson, German Lorca, Luiz Carlos Felizardo, Cláudio Edinger, Juan Esteves, Márcio Scavone, João Farkas e Mestre Júlio.

A biblioteca do MIS CE é denominada Marly Mariano e Thomaz Farkas. Nesse território, os livros que foram do casal enriquecem e diversificam o conhecimento sobre cinema, literatura e fotografia. Estarão nas vitrines alguns livros e objetos agregados, que saíram da obscuridade e do silêncio para adquirir uma ritualização luminosa. Tentar entender as possíveis conexões entre o livro e seus objetos, somados às dedicatórias, torna-se um exercício de criação. Por meio de dedicatórias das amigas e dos amigos e de suas anotações conseguimos compreender o mundo fantástico em que Thomaz Farkas mergulhou.

A biblioteca conta com acervo de aproximadamente 6 mil exemplares, nas áreas de cinema, fotografia, televisão, música, artes, teoria crítica, cultura popular, dentre outras temáticas afins. Deste acervo, destaca-se a coleção particular do casal Marly Mariano e Thomaz Farkas, que é composta por livros, catálogos e periódicos em diferentes idiomas. Era desejo do casal que o acervo doado ao MIS CE em 2022 ficasse preservado e à disposição do público na região Nordeste.

Na sala imersiva, encontra-se uma síntese do inventário de imagens e sons criados por Farkas. Uma comunicação sensorial, com a radicalização do uso dos signos visuais e virtuais com total liberdade. A proposta é de desconstrução das fotografias e dos filmes, e de recriação, a partir deles, de situações visuais e sonoras desconcertantes.

Com concepção, direção e dramaturgia de Wellington Gadelha, a instalação vídeo-sonora imersiva sobre Farkas propõe uma jornada que transcende o tempo, a tecnologia, o analógico e o sensível. A exposição mergulha em registros e materiais do acervo do artista, utilizando suas imagens, vídeos e registros de outros materiais pesquisados. Acompanhadas por arte-tecnologia, interatividade, animação e desenho sonoros, a obra é resultado de um exercício coletivo de criação entre artistas de Fortaleza e do Crato, no Ceará. O trabalho em grupo conta com a participação de Eric Barbosa, Matheus Rocha, Fabienne Maia, Diego Ricca, Rafa Diniz, FluxoMarginal e João Barreto.

O que vai ser apresentado é o pulsar desses fragmentos selecionados e tem a intenção de recuperar a vibração e a alegria do seu criador. Thomaz Farkas, húngaro naturalizado brasileiro, viveu intensamente e, por meio de suas fotografias e filmes, podemos entender sua inquietação e sua urgência diante da vida.

Sobre o artista convidado para a obra da sala imersiva

Wellington Gadelha tem interesse pelas relações no campo contemporâneo a partir da composição, improvisação, dramaturgia e encenação. Com foco em dança, artes visuais, arte tecnológica, arte sonora, instalações e processos imersivos, está à frente de trabalhos/pesquisas na Plataforma Afrontamento. Vive em Fortaleza, Ceará/Brasil e possui conexões de projetos em Zurich, Suíça. Seus espetáculos circulam atualmente por teatros, festivais, museus e galerias nacionais e internacionais. Indicado ao Prêmio Pipa (2020), executou projetos contemplados no Rumos Itaú Cultural (2017-2018) e Funarte Artes Visuais – Periferias e Interiores (2017).

Mais sobre Farkas

Thomaz Jorge Farkas (1924 – 2011) nasceu em Budapeste, na Hungria, no dia 17 de setembro de 1924. Aos 6 anos, emigrou com os pais, Dézso (Desidério) Farkas e Teréz (Thereza) Hatschek, para São Paulo. Formou-se em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Realizou doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP, onde apresentou a tese “Cinema documentário: um método de trabalho”. Também atuou como professor na mesma instituição.

Após o falecimento do pai, em 1960, assumiu a direção da Fotoptica. Criou em 1979 a Galeria Fotoptica em São Paulo, destinada exclusivamente à exposição de fotografias. Atuou na Fotoptica até 1987, quando a rede de lojas foi vendida.

Entre os anos de 1964 e 1981, foi produtor e co-produtor de aproximadamente 38 filmes documentários de curta e média-metragem, tendo dirigido três deles. A maior parte desses filmes, sobretudo os realizados entre 1964 e 1974 ficaram conhecidos como a “Caravana Farkas”. Porém Thomaz continuou produzindo até 1981, época de lançamento de “Hermeto Campeão”, documentário sobre a música de Hermeto Pascoal. Farkas faleceu no dia 26 de março de 2011, aos 86 anos.

Serviço:

Abertura da exposição “THOMAZ FARKAS – A beleza diante dos olhos”
Data: 21 de setembro (sábado)
Horário: 18h
Local: Praça do MIS