Empregabilidade: alunos de Escolas Profissionais enriquecem formação em estágio curricular

9 de outubro de 2024 - 08:31 # # #

Bruno Mota - Ascom Seduc - Texto
Fabrício Soares, Rogério Bié, Sadraque Santos e Yuri Martins - Seduc - Fotos

Promover o diálogo com o mercado de trabalho é uma das premissas da formação oferecida nas Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs) da rede pública estadual do Ceará. Os alunos que estão na 3ª série do Ensino Médio nessas escolas participam, ao longo do segundo semestre letivo, do estágio curricular obrigatório, oportunidade em que podem aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula em ambientes reais de trabalho. Neste ano, 131 unidades de ensino estão envolvidas na ação, oferecendo a 18.938 estudantes a chance de vivenciar a primeira experiência profissional.

A iniciativa conta com a parceria de 6.712 empresas de diversos segmentos e visa fortalecer a conexão entre a educação e o mercado de trabalho. A experiência complementa o aprendizado teórico e facilita a transição dos estudantes para o mundo corporativo, preparando-os para os desafios futuros. Diante do sucesso da ação, muitos dos estagiários passam imediatamente à condição de funcionários, logo após o término da educação básica.

Expectativa

Lívia Saraiva, de 17 anos, é estudante do curso técnico em Eventos na EEEP Mário Alencar, em Fortaleza, e em agosto passado começou a estagiar na empresa Prática Eventos. A jovem explica que já passou pelos setores operacional e comercial, onde tem dado suporte no atendimento às demandas, elaboração de propostas, orçamentos, contratos e relacionamento com clientes.

“Quem é aluno da escola profissional sabe, desde o primeiro momento, da existência do estágio. É uma coisa extremamente esperada. Eu me sentiria muito insegura de já cair de paraquedas no mercado de trabalho sem ter tido essa experiência antes, em que posso atuar de certa forma como funcionária, mas sem a pressão do cargo profissional. Estou aprendendo e botando em prática o que estudei, com o suporte de supervisores, tendo uma flexibilidade maior no início da carreira. A gente precisa muito dessa oportunidade, pois são vastos os caminhos, mas é preciso aquele pontapé inicial para crescer”, observa.

Maria Clara Gomes, de 18 anos, colega de escola e de estágio de Lívia, considera enriquecedora a oportunidade de tirar dúvidas e aprender diretamente com profissionais, no exercício da função. As atribuições da estudante incluem dar assistência na parte operacional, enviando cartas personalizadas aos clientes, atualizando o banco de dados e fazendo pesquisa de leads, que é a captura de informações de empresas e profissionais da área de eventos.

“A experiência está sendo muito enriquecedora. Gosto bastante do contato com as pessoas, de trabalhar com a comunicação. Temos um apoio gigante da coordenadora do curso, da professora, da escola e também da empresa”, explica.

Desafios

Natural do município de Ibicuitinga, Maria Clara veio para a capital aos 15 anos, com o intuito de estudar na Escola Profissional. “Uma pessoa da minha família já tinha feito o curso, estudado na mesma escola, conhecido as mesmas pessoas com quem eu tive contato, então isso chegou até mim e fiquei com os olhos cheios de brilho. Vim morar com os meus avós. Passar o dia todo na escola é cansativo, mas as pessoas ao redor me ajudaram bastante. Foi uma atitude que exigiu responsabilidade de mim, mas a gente tem que ter coragem para fazer as coisas que acha certas”, conclui.

Alef Lucas Mendes, de 17 anos, é estudante do curso técnico em Redes de Computadores na EEEP Mário Alencar. Atualmente estagiário na Tijuca Alimentos, o jovem está tendo a oportunidade de se desenvolver em uma das áreas com que mais se identifica: infraestrutura de redes. Com isso, colabora solucionando demandas relativas aos equipamentos, softwares e tecnologias que permitem a conexão de dispositivos à rede da empresa.

“Eu vejo se tem algum chamado para manutenção de servidores e do wi-fi. Por exemplo, se um local está com sinal muito fraco ou caindo, vou lá para ver qual é o problema e a solução. Sempre tive afinidade com a parte de infraestrutura. Lá na escola, tinha um projeto de miniempresa em que já fazíamos isso. Quando cheguei aqui, me encaixei perfeitamente. A empresa é muito acolhedora. As pessoas que me acompanham são muito pacientes, gostam de ensinar. Não é um local de pressão, mas de descontração. Antes eu não conversava com muitas pessoas, e aqui está me ensinando a conversar. É uma experiência muito boa, pois está me preparando para o trabalho”, expõe.

Aprender mais

Ketely Ferreira, de 16 anos, também estagia na Tijuca Alimentos, mas na área de Desenvolvimento de Sistemas (DS), pois foi esse o curso que escolheu fazer na EEEP Mário Alencar. Sentindo-se bastante à vontade após as primeiras semanas na empresa, a aluna revela que a princípio se surpreendeu com o clima que encontrou no ambiente de trabalho.

“Eu pensei que as pessoas de DS seriam bem fechadas, porque para fazer programação tem que ter foco, paciência e concentração. Achei que ia ser todo mundo em silêncio, só no computador, mas não foi isso que vi aqui. Todo mundo faz e todo mundo se ajuda. Estou tendo a oportunidade de repassar o que já vi, depois de ter construído a base na escola, e poder aprender mais. A expectativa é bem alta”, reflete.

Sequência

Após ter estagiado na Prática Eventos de agosto a dezembro de 2023, a ex-aluna da EEEP Mário Alencar, Grazielle Pontes, de 18 anos, teve a oportunidade de seguir trabalhando na empresa. A princípio com um contrato de experiência, e depois de 3 meses, com a assinatura da carteira profissional e a sonhada entrada “oficial” no mercado. Paralelamente, a jovem hoje cursa Publicidade e Propaganda numa instituição de Ensino Superior.

“Quando cheguei como estagiária, estava bem nervosa, porque não sabia se eu iria saber fazer as coisas. Mas foi uma experiência maravilhosa. Aqui na Prática, a gente tem vários eventos. É preciso aprender a falar com as pessoas, a se mostrar mais, e com o estágio a gente aprendeu que pode fazer qualquer coisa. Quando eu chego no evento, fico pensando: é aqui que eu quero estar, é aqui que me sinto bem, isso é o que eu respiro. Sabe aquele sentimento de alegria, em ver as pessoas felizes, realizadas”, ressalta a profissional, que devido ao bom desenvolvimento nos últimos meses, já está prestes a assumir novas responsabilidades, passando a coordenar eventos.

“É uma parceria em que a gente recebe os estudantes já com perspectiva de ficarem conosco sendo treinados e, depois, contratados”, diz a diretora de Gestão da Prática Eventos, Edna Câmara. “Uma parceria muito feliz, que vai além do ensino e aprendizado da teoria e prática. Estamos com as portas abertas todo ano”, enfatiza.

“A gente sabe que os estudantes não vão chegar com muita experiência. O que o mercado procura é disponibilidade, agilidade, compromisso com o aprendizado e gostar de atuar na área de eventos. É uma oportunidade para treinar antes de ir para o mercado, em que é possível errar e agregar experiências. A qualidade dos alunos que nós estamos recebendo a cada ano supera o ano anterior. É uma parceria que só gera bons frutos, inclusive para a sociedade”, reitera a gestora.

Ampla efetivação

Danilo Lopes, gerente de TI na Tijuca Alimentos, celebra a parceria com a EEEP Mário Alencar e lembra que a primeira turma de alunos da unidade de ensino a estagiar na empresa veio em 2017.

“Muitos já vieram prontos, não precisando de muita preparação para entrar no time principal”, destaca. Nas sedes de Fortaleza, Beberibe e Cascavel, conforme Danilo, a empresa tem setor de tecnologia. Estas duas últimas passaram a receber estudantes da rede pública estadual como estagiários neste ano.

“Com os que se destacam, renovamos a permanência na empresa como aprendizes. A maioria do nosso time que está em produção hoje veio dessa realidade. Contratamos poucos profissionais do mercado nesses 6 anos desde que o projeto começou. Alguns ex-alunos efetivados já foram indicados para empresas parceiras da Tijuca que necessitam de bons profissionais. É um projeto que está fluindo bem e que a diretoria fica muito feliz com o resultado”, evidencia Danilo.

Melissa Oliveira, coordenadora dos cursos técnicos em Desenvolvimento de Sistemas e Redes de Computadores na EEEP Mário Alencar, reforça a importância da experiência para os jovens.

“Eu não tive isso na minha época e passei por muita dificuldade, porque já cheguei numa faculdade sem saber a prática, por não ter tido o técnico nem o estágio. Essa prática vai deixá-los mais seguros a assumirem esses mesmos cargos em outras empresas. É uma experiência muito gratificante para eles, mas também representa melhoria para o mercado de trabalho, porque eles já saem profissionais preparados, tanto na prática como no conteúdo”, argumenta.

Samira Lodi, coordenadora do curso técnico em Eventos na mesma escola, observa que esta área profissional se relaciona com outras, e que por isso os estudantes precisam adquirir noções sobre liderança de equipe, cultura, gastronomia e responsabilidade social, por exemplo. Desta forma, surgem múltiplas possibilidades de atuação.

“O estágio é um grande diferencial, o dínamo para eles se conhecerem, trabalharem em equipe, saberem os seus limites. A experiência possibilita muitas alegrias, mas também estresse, o que faz com que eles já antecipem essa vivência no trabalho. O mercado está carente de pessoas criativas, comprometidas, que saibam trabalhar em equipe”, aponta.

Compromisso

O Governo do Ceará está investindo R$ 45 milhões no programa de estágio curricular obrigatório, garantindo o pagamento de bolsas, seguro de vida, transporte e alimentação para todos os participantes.

A Seduc reafirma seu compromisso com a formação integral dos jovens cearenses e com a criação de oportunidades de empregabilidade. Iniciativas como esta são essenciais para o desenvolvimento econômico e social do Ceará, preparando uma nova geração de profissionais qualificados e comprometidos com o futuro do estado.