Dia do Médico: qualificação e humanização no cuidado com os pacientes pautam trajetórias de profissionais da Rede Sesa

18 de outubro de 2024 - 11:59 # # # # #

Bárbara Danthéias e Márcia Catunda- Ascom HSJ e UPAs 24h - Texto
Tatiana Fortes, Diego Sombra, Márcia Catunda, Arquivo pessoal - Foto

Para o infectologista Érico Arruda, o exercício da medicina funciona como um antídoto contra a tristeza e a depressão 

O compromisso do infectologista Érico Arruda com a Medicina foi firmado ainda criança, por conta de uma promessa feita à mãe, que desejava que pelo menos um de seus três filhos seguisse a carreira de médico. Alguns anos depois, a escolha foi reforçada por influência do seu irmão, sete anos mais velho, que acabou decidindo seguir o mesmo ofício e, ainda, a mesma especialidade que futuramente também faria brilhar os olhos de Érico: a Infectologia.

“Meu irmão também caminhou para esse lado, a gente conversava muito e o interesse era comum”, lembra. Escolhida a especialidade, foi natural a opção pelo estágio, em 1986, e pelo internato, em 1987 e 1988, no Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria do Estado do Ceará (Sesa) referência no tratamento de doenças infecciosas. Após um breve período em São Paulo, para a especialização em Clínica Médica e Infectologia, Arruda retorna ao HSJ como servidor público, no ano de 1992, somando mais de 30 anos na instituição, onde atua na assistência aos pacientes com HIV/aids e na formação de médicos residentes.

Como infectologista, Érico pôde presenciar o início da pandemia da aids, na década de 1980. “Houve não só o que ainda existe de estigma pela questão sexual envolvida, de ser uma infecção cuja transmissão acontece dessa forma, mas também o medo de os profissionais da saúde virem a se infectar, porque não se sabia muito bem como ela era transmitida”, relata. Porém, segundo ele, nada se compara à pandemia da covid-19: asmático, Arruda foi um dos primeiros infectados pelo vírus. Ainda em recuperação, a vocação de cuidar da saúde humana falou mais alto.

“Assim que eu tive qualquer melhora, eu vim para o hospital, mas me mandaram embora. Os diretores da época disseram: ‘não, você ainda está tossindo, não pode ficar aqui, por enquanto. Volte.’ Fui para casa e passei mais cinco dias, mas a minha vontade era de estar aqui, dentro da luta. E, felizmente, assim que passaram mais ou menos 14 dias do meu adoecimento, eu pude voltar e colaborar, ajudar em todo o enfrentamento, e foi muito importante”, relembra.

A importância do cuidado humano na relação entre médico e paciente ficou ainda mais evidente para Érico quando ele teve que lidar com a dor do luto de um ente querido. “Eu perdi um filho muito pequeno, com câncer. Eu vivi a situação de ser a pessoa que precisava do cuidado, não diretamente, mas pelo meu filho. Isso foi um marco importante na minha vida, para que eu valorizasse ainda mais o bem-cuidar não só técnico, mas o bem-cuidar humano da palavra, do olhar, da linguagem corporal de acolhimento e respeito”, compartilha.

Érico Arruda: cuidar do outro é também se reabastecer de energias para enfrentar as dificuldades da vida 

Mesmo com os inúmeros desafios da profissão, o ato de ajudar as pessoas a partir da prática médica funciona, para Arruda, como um antídoto contra a tristeza e depressão. “A medicina nos dá essa oportunidade de perceber que há um sofrimento muito grande das outras pessoas e que, portanto, você tem que seguir firme e, se possível, ajudá-las. Todo dia, quando você está cuidando de alguém, você está promovendo um pouco dessa ajuda e, ao mesmo tempo, se reabastecendo de energia para enfrentar as dificuldades da vida”, avalia.

Para quem deseja seguir o caminho da Medicina, o infectologista deixa um recado: “é uma linda profissão, e a pessoa tem que perseverar nesse projeto, que exige muito estudo e muita dedicação, mas é muito, muito recompensador”.

Médicos relembram casos marcantes em unidades de saúde

Unidades de Pronto-atendimento (UPAs) atendem pacientes com quadros mais graves

Uma frase atribuída a Hipócrates, considerado o pai da medicina, é “curar quando possível; aliviar quando necessário; consolar sempre”. O lema permeia o dia a dia dos médicos que atuam nas emergências das unidades de saúde da Rede Sesa. Igor Carvalho é médico chefe de equipe na UPA Conjunto Ceará. Ele atua na sala vermelha com pacientes internados com quadro clínico mais grave e em processo de transição para uma unidade hospitalar. Na emergência da UPA, o foco é estabilizar o quadro clínico do paciente para depois direcioná-lo a um hospital para continuidade do tratamento.

“É uma profissão que, se você realmente tiver amor pelo que faz, há o sentimento de realização, pois o profissional consegue ajudar muitas pessoas. Além de salvar vidas, buscamos confortar, acolher e ajudar o paciente e todos os envolvidos no tratamento dele”, avalia o profissional. 

Na visão do médico, especialmente para quem atua na emergência de uma unidade, é fundamental ter sensibilidade e saber ouvir o paciente e sua família. “Não é raro na emergência a gente atender uma pessoa no pior dia da vida dela, por isso esse acolhimento e a empatia são fundamentais para aumentar as chances de vencer os desafios”.

Igor relembra um caso que marcou sua trajetória na UPA que envolveu uma bebê de apenas 20 dias de vida. “A bebê estava em estado bastante grave devido uma queda e precisou ser entubada. Aqui na UPA conseguimos estabilizar o estado de saúde dela até ela ser transferida a um hospital e se recuperar totalmente”.

Rosa Priscila Andrade (foto) também trabalha na UPA Conjunto Ceará. Há poucos dias, ela atendeu no início do plantão da unidade um paciente de 60 anos com hipertensão e com queixas de dor. “Ele teve uma parada cardíaca e imediatamente ele foi atendido, fizemos a reanimação, acionamos o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e então ele foi transferido para o Hospital de Messejana para fazer o cateterismo. Foi um caso de sucesso de uma parada cardíaca revertida”.

Em casos do tipo, as UPAs utilizam o Protocolo IAM (Infarto Agudo Miocárdio) que tem o objetivo de agilizar o atendimento dos pacientes para que eles recebam o tratamento recomendado pelas diretrizes, com o intuito de reduzir as complicações e a mortalidade em decorrentes de infarto.

Outro caso marcante vivido pela médica envolveu um jovem de apenas 18 anos com uma lesão grave no crânio. “Sabíamos da gravidade e da possibilidade de não reverter a lesão. Ele foi entubado e reanimado, transferido a um hospital, mas não resistiu. Porém, a família aceitou doar seus órgãos e com essa doação quatro vidas foram salvas. Foi um gesto nobre em meio a um momento de dor, eu me emocionei muito quando uma colega do Samu contou o desfecho do caso”, lembra.

Lucas Martins Ximenes trabalha na UPA Messejana e em hospitais. Na Unidade de Pronto Atendimento, ele atendeu um senhor de 90 anos que chegou em estado grave e com intercorrência. A gratidão do idoso foi o que mais o comoveu. “Após estabilizá-lo, ele acordou de madrugada na enfermaria. Ele ligou para a esposa e se despediu. A neta não queria deixar ele falar para evitar que ele ficasse mais cansado, mas ele disse que queria falar naquele momento. Na ligação, ele agradeceu a esposa por toda parceria e cumplicidade durante o casamento, e pelo cuidado com os filhos. Aquele momento me sensibilizou muito e me trouxe um grande aprendizado”, recorda.

“Minha história com a Medicina é toda na emergência. Desde a faculdade, entrei em projetos que eram relacionados à emergência até a Residência e hoje trabalho justamente como emergencista. Atendemos pessoas de todos os tipos, desde crianças a idosos, por isso busco me especializar cada vez mais para fazer o melhor pelos pacientes”, resume o médico Yan Lopes, que trabalha na UPA José Walter e no Hospital de Messejana.

“Um caso que me marcou nessa trajetória foi de um rapaz de 35 anos que teve parada cardíaca. Fizemos a reanimação e a intubação. Após estabilizá-lo, ele foi encaminhado a um hospital. Foi ao centro cirúrgico, a cirurgia foi demorada e ele não acordava”, conta. Mas a surpresa gratificante veio depois.

“Após vários dias, recebi um vídeo dele já voltando à rotina e isso foi muito gratificante, pois muitas vezes na emergência a gente faz os procedimentos iniciais para estabilizar o paciente e depois encaminha a uma UTI ou enfermaria de um hospital de referência e não sabe o desfecho. Fiquei muito feliz e emocionado, ele e a mãe são da Bahia e aquela senhora teve a oportunidade de falar comigo e ficou extremamente agradecida por salvarmos a vida do filho dela”, finaliza.