Dia do Farmacêutico: amor pela profissão move profissionais de diversas especialidades na Rede Sesa

20 de janeiro de 2025 - 15:59 # #

Levi Aguiar (Ascom Hias), Márcia Catunda (Ascom CCC) e Kelly Garcia (Ascom Sesa) - Texto e Fotos

No Dia do Farmacêutico, comemorado neste dia 20 de janeiro, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) celebra a atuação de profissionais do Sistema Único de Saúde, que unem conhecimento técnico e humanização no cuidado. Mais que explicar sobre estrutura e métodos de trabalho, nossa intenção é trazer exemplos de profissionais que fazem do trabalho não apenas um meio, mas um objetivo de vida.

Amor pelo cuidado

Joaquim e Aline, profissional e paciente; “Ele sente nossa dor e realiza seu trabalho com disciplina e dedicação”

“Um bom profissional precisa, antes de tudo, ser um bom ser humano. Ser atendida por pessoas e pessoas que realmente entendem nossas necessidades é como receber um abraço. Esse é o acolhimento que sinto quando o Joaquim está acompanhando a minha filha”, afirma Aline Silva, 44 anos, moradora de Quixeré e cuidadora de Ayla, paciente do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), unidade da Sesa especializada no público infantojuvenil.

O Joaquim (Alves), mencionado na fala acima, é farmacêutico clínico do Hias, com especialização em Pediatria e Saúde Coletiva. Ele está há quatro anos no hospital, prestando assistência a pacientes da Unidade de Cuidados Prolongados (UCP).

Em decorrência da condição clínica de Ayla (síndrome de Down, cardiopatia, hipertensão pulmonar, epilepsia de difícil controle e encefalopatia), a filha da Aline precisa de um atendimento especializado e tomar muitas medicações ao dia. “Ele sempre está aqui para nos ajudar. Ele sente nossa dor e realiza seu trabalho com disciplina e dedicação”, acrescenta Aline, emocionada, enquanto segura a mão do farmacêutico.

A relação entre o cuidador e o profissional de saúde é essencial para o bem-estar da criança e o sucesso do tratamento. Essa conexão é percebida de forma palpável entre Aline e Joaquim. “O que me motiva é trabalhar em equipe com a esperança de que posso contribuir diretamente para a recuperação dos pacientes”, conta Joaquim.

Ele explica que, na UCP, as cuidadoras, muitas vezes, enfrentam dificuldades para entender as prescrições, especialmente porque a maioria dos pacientes utiliza mais de cinco medicamentos diariamente. “A sensibilidade dos profissionais de saúde é crucial para humanizar o atendimento. A linguagem precisa ser acessível e compreensível, o que facilita muito o cuidado e a continuidade do tratamento em casa”, complementa.

As prescrições, por exemplo, são feitas de maneira lúdica, com imagens e figuras, como sol e lua, para indicar os horários em que os medicamentos devem ser administrados. “Tudo o que fazemos na UCP tem o objetivo de tornar o processo mais fácil para os cuidadores e de apoiar a recuperação dos pacientes, especialmente quando eles voltam para casa”, explica.

Para ele, a criatividade é fundamental no trabalho com pacientes que têm condições crônicas, como crises convulsivas. “Não podemos interromper o uso dos medicamentos abruptamente. Sabemos o quanto o uso correto dos remédios é vital para a saúde deles, e é um cuidado que continua sendo essencial quando eles deixam o Hias”.

Joaquim, natural de Juazeiro do Norte, iniciou sua trajetória acadêmica e profissional em Fortaleza. “Desde minha primeira residência, em Saúde Coletiva, me apaixonei pela ideia de ajudar os cuidadores a sanar suas dúvidas. A ética e a dedicação ao próximo foram valores que minha mãe me transmitiu. Aprendi muito com ela, observando sua força e humanidade.”

Filho de pais analfabetos e o mais jovem de seis irmãos, Joaquim foi o único da família a cursar o ensino superior. “Sair de Juazeiro do Norte para estudar, e trabalhar em Fortaleza foi um grande desafio. Perdi minha mãe enquanto estava finalizando minha primeira Residência. Foi uma dor imensa, ainda mais durante a pandemia.”

A perda de mãe, vítima da covid-19, marcou profundamente a vida de Joaquim. Apesar do luto, ele diz encontrar força nas relações de cuidado experienciadas na rotina de trabalho. “Atuar como farmacêutico pediatra, ao lado dessa equipe maravilhosa e de cuidadores como a Aline, tem sido uma maneira de superar a dor do luto. Eu amo o que faço”, finaliza ele, com emoção.

Criatividade

Tayse elaborou um plano medicamentoso adaptado para pacientes que não sabem ler

Criar para educar. Essa é uma estratégia que também fez a diferença para a farmacêutica da Casa de Cuidados do Ceará (CCC), Tayse Mota. Em 2023, a profissional deparou-se com um desafio: orientar uma paciente de 56 anos, em tratamento de doença da tireoide e que não sabia ler, a utilizar medicações nos dias e horários corretos.
“Apesar dessa limitação, ela demonstrava habilidades em contar e reconhecer as horas, o que se tornou a base para uma abordagem personalizada. Optei por montar um plano medicamentoso diferenciado, utilizando cores distintas para identificar cada remédio. Além disso, providenciei adesivos correspondentes para serem colados nas embalagens, facilitando associar cada remédio ao horário correto”, explica.

Segundo a profissional, a estratégia, além de criativa e inclusiva, não apenas facilitou a compreensão da paciente, mas também proporcionou autonomia. “O resultado foi a segurança no uso dos medicamentos e uma maior adesão ao tratamento, mostrando como soluções assim podem transformar desafios em oportunidades de cuidado humanizado, fazendo com que o paciente fique feliz e com melhoria da autoestima”, acrescenta.

Um caminho que começou na infância

Com familiares que eram de práticos em Farmácia e farmacêuticos da cidade de Caririaçu, na região sul do estado, a farmacêutica Karla Deisy Morais Borges teve na infância o despertar para seguir esse caminho profissional. “Quando criança, presenciei o cultivo de plantas medicinais e o preparo dos remédios caseiros assim como as visitas aos doentes da cidade. Costumava com meu avô, João de Araújo Borges, visitar a farmácia do seu primo Afonso Borges, que era bem antiga e a pioneira da cidade, daquele tipo que ainda utilizava móveis de madeira”, rememora.

Esse contato inicial com a profissão e a vontade de ajudar as pessoas foram determinantes para que ela se tornasse farmacêutica. “O profissional farmacêutico pode impactar bastante a vida da população e isso vai muito além de que garantir cesso ao medicamento e orientar sobre a utilização adequada. O campo de atuação é muito vasto e compreende mais 138 áreas”, exemplifica.

Servidora pública da Secretaria da Saúde do Estado há 14 anos, Karla Deisy Morais Borges concluiu a graduação em Farmácia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e hoje é doutoranda na mesma instituição.

Karla Deisy: “o profissional farmacêutico pode impactar bastante a vida da população”

Antes de ingressar no serviço público atuou nas áreas da farmácia comunitária, manipulação e docência do ensino superior nas regiões do sertão central e cariri— atua na Coordenadoria de Políticas de Assistência Farmacêutica e Tecnologias em Saúde (Copaf) da Sesa — a profissional também trabalhou na assistência farmacêutica, no interior do Estado.

Na coordenadoria, são desenvolvidos trabalhos em várias áreas da saúde, como em parceria com a Atenção Primária, com a Saúde Mental e outras. “Nosso trabalho é transversal e a atuação não é isolada, porque fazemos interface com várias áreas da saúde. Além disso, o estado tem uma assistência farmacêutica descentralizada, o que amplia acesso dos medicamentos e o trabalho junto à população”, disse.

Como atua no desenvolvimento de políticas públicas, a farmacêutica destaca o aprendizado de alguns projetos recentes da Copaf. “Temos o programa de gerenciamento de antimicrobianos, de braços abertos, medicamentos para doenças raras, linhas de cuidado específicas para vários problemas de saúde, além do recente projeto da farmácia viva e interculturalidade no Sistema Único de Saúde (SUS), em que temos aprendido muito com os povos originários e os seus saberes”, destaca.

Emoção que impulsiona e dá esperança

“Agradeço todos os dias a Deus por ter escolhido a profissão certa”, diz a farmacêutica Eva Araújo

Nascida em Milagres, na região do Cariri, Eva Araújo iniciou sua trajetória como farmacêutica no município de Cascavel. “Durante o curso de farmácia fui bolsista do professor Mattos no laboratório de produtos naturais, na Universidade Federal do Ceará. E, assim que me formei, fui chamada para trabalhar em Cascavel, onde eu montei a Farmácia Viva do município. Passei 20 anos nessa cidade e coordenei a Assistência Farmacêutica de lá”, rememora.

Essa vivência longa em uma cidade de médio porte preparou a farmacêutica para uma das missões que desempenha hoje, como gerente técnica da Copaf, também na Sesa. “Ao receber as demandas da assistência farmacêutica dos municípios, consigo me colocar no lugar deles e saber se algumas decisões irão de fato funcionar, porque eu tive essa experiência. Também conheço cada área da Copaf e desempenho com muita motivação minhas atividades”, disse.

Os longos meses da pandemia fizeram com que ela compreendesse ainda melhor o seu papel no SUS. “Saber que estávamos fazendo a diferença na vida das pessoas me deu forças para continuar, embora eu nunca tenha pensado em desistir da minha profissão. Sempre trabalhei com muita vontade e esperança. Agradeço todos os dias a Deus por ter escolhido a profissão certa”, declara, emocionada.