Unidade Prisional Irmã Imelda recebe programação da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará
7 de abril de 2025 - 15:32 #bienal do livro #Unidade Prisional Irmã Imelda
Texto e fotos: Natasha Ribeiro Bezerra / Ascom SAP
Na manhã desta segunda-feira (7), a Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, foi o primeiro estabelecimento penitenciário a receber a programação do Bienal Adentro Ceará, uma extensão da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará. A programação promove uma série de atividades culturais fora dos limites do Centro de Eventos do Ceará, levando literatura e arte a comunidades de diferentes contextos, incluindo as que estão privadas de liberdade.
A cerimônia de abertura contou com a presença de diversas autoridades, incluindo representantes da Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc). Para iniciar a programação, o grupo Acordes para Recordar, composto por cantores e músicos internos do sistema prisional do Ceará, encantou os presentes com uma apresentação musical, destacando a rica expressão artística dentro do sistema prisional.
Em seguida, o grupo de teatro “Portugays” fez apresentação da peça “A Transparência é a Minha Resistência”, escrita por Luiza Maura de Souza. A peça, que faz referência ao Dia Internacional da Visibilidade Trans, celebrado dia 31 de março, trouxe uma mensagem forte de resistência e inclusão, mostrando as experiências da comunidade LGBTQIA+ e sua luta por liberdade e reconhecimento.
Após a performance, foi realizada uma roda de conversa que teve como foco as histórias de resistência LGBTQIA+. Os convidados especiais para o debate foram a travesti e feminista Amara Moira, e o jurista e professor Renan Quinalha. Durante o encontro, os participantes discutiram temas relacionados aos direitos da população LGBTQIA+, e abriram espaço para um diálogo interativo, respondendo perguntas dos presentes e compartilhando suas experiências de resistência.
A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará acontece entre os dias 4 e 13 de abril de 2025, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, e traz como tema central “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”. A programação completa, gratuita e acessível ao público de todas as idades, tem como objetivo celebrar a literatura, especialmente no contexto de mulheres e outras vozes marginalizadas.
O evento é promovido pelo Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), com o apoio do Ministério da Cultura (MinC) via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.
Essa iniciativa representa uma verdadeira democratização da cultura e da literatura, levando a Bienal para diferentes públicos e destacando a importância da inclusão e da diversidade dentro de espaços como o sistema prisional. Ao expandir a programação para dentro das unidades prisionais, a Bienal não só promove o acesso à arte e à reflexão crítica, mas também fortalece a ideia de que a educação e a cultura são ferramentas poderosas de transformação social.
O diretor da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes (UP Imelda), Luiz Carlos, se emociona ao falar da importância do evento para a unidade. “Eu sou apaixonado por arte e por tudo o que faço. Trabalhar com o público LGBTQIA+ é um desafio constante, mas também uma fonte de muita satisfação. Como foi mencionado, o poder da arte está na transformação – transformar para melhorar, para evoluir e para mudar. A experiência de ver essa transformação ganhar vida na Bienal, fazendo parte desse movimento, é extremamente gratificante. Sem o esforço conjunto e a parceria de todos os envolvidos, isso não seria possível. A união e o comprometimento de cada pessoa são o que tornam esse projeto verdadeiramente especial”, disse.
A coordenadora geral da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, Maura Isidório, comemora o evento. “A Bienal Ceará Adentro é uma imensa satisfação para nós, da Secretaria da Cultura, e um evento que, além de acontecer no Centro de Eventos do Ceará, leva suas atividades para outros espaços, aproximando a cultura de quem não pode chegar até lá. São mais de 500 lançamentos e ações para todas as idades, sempre com o objetivo de incluir e refletir as políticas culturais no cenário literário. A Bienal tem se tornado cada vez mais plural, diversa e inclusiva, e é um prazer imenso poder compartilhar essa experiência com todos”, disse.
O palestrante, jurista e professor, Renan Quinalha, fala sobre a experiência na unidade. “A experiência de estar aqui foi incrível, não só por poder falar, mas também por ouvir e trocar com as internas. Foi gratificante ver a humanização do espaço, com serviços como terapia hormonal, respeito à identidade de gênero e ações culturais. Isso demonstra que é possível criar novas formas de ressocialização e inclusão. Participar disso, fora do contexto da Bienal, foi um momento único de conexão com pessoas que eu não teria contato de outra forma”, afirma.
A palestrante, travesti e feminista, Amara Moira, agradece a oportunidade. “Foi uma honra participar dessa atividade. Ver um tratamento diferente para pessoas trans, com diálogo, carinho e respeito, foi muito tocante. A oportunidade de desenvolver atividades culturais e artísticas, como teatro e literatura, foi incrível. Não sabia o que esperar, mas estou extasiado e muito feliz com a experiência. Quero voltar e continuar participando, porque isso também foi transformador para mim”, atenta.
A interna da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes (UP Imelda), Penélope Vital, parabeniza o evento. “Participar dessa roda de conversa na Bienal foi uma experiência muito interessante. Fiquei impressionada com o projeto, que eu não conhecia, e agora quero aprender cada vez mais sobre ele. O maior aprendizado que levo para a vida é a resistência, principalmente para nós da comunidade LGBT, que mostramos que somos capazes de tudo”, concluiu.